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    Lava Jato

    João Santana vai admitir que recebeu ilegalmente no exterior

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    24/02/2016 02h00

    23.fev.16/AFP
    Brazilian President Dilma Rousseff and former Brazilian President (2003-2011) Luiz Inacio Lula Da Silva's campaign publicist Joao Santana (R) is arrested upon his arrival in Sao Paulo, Brazil o February 23, 2016. Political consultant Santana was being investigated by the Brazilian justice for receiving payments outside the country which could come from Brazilian state-run oil company Petrobras' briberies. AFP PHOTO / STR ORG XMIT: BRA101
    O marqueteiro João Santana, após ser preso na Operação Lava Jato

    O publicitário João Santana, que se entregou à Polícia Federal na manhã desta terça-feira (23) em São Paulo, vai confessar que recebeu recursos irregulares no exterior, segundo a Folha apurou.

    O marqueteiro vai ressaltar que nenhum centavo que entrou na sua conta na Suíça teve origem nos trabalhos que prestou para o PT.

    Santana atuou em três campanhas presidenciais: na de Lula em 2006 e nas de Dilma Rousseff em 2010 e 2014. Também trabalhou na eleição do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, em 2012.

    Entre 2002 e 2014, a sua empresa, a Polis, recebeu R$ 229 milhões por trabalhos prestados ao partido.

    A confissão de Santana é uma tentativa de se livrar das acusações mais graves que pesam contra ele e sua mulher, a publicitária Mônica Moura, também presa pela PF na manhã desta terça.

    O marqueteiro deve prestar depoimento à PF de Curitiba nesta quarta (24).

    A investigação suspeita que os recursos depositados para Santana foram desviados da Petrobras.

    O casal estava na República Dominicana, onde atuavam na campanha de reeleição do presidente, Danilo Medina. Ao chegarem a São Paulo em voo de carreira, foram presos e levados para Curitiba, sob custódia da PF.

    Mônica está em cela separada do marido. Há na carceragem outras duas mulheres: Nelma Kodama, doleira e operadora do esquema de desvio de recursos, e Iara Galdino, braço direito de Nelma. Além de Santana, estão presos no local o empreiteiro Marcelo Odebrecht, o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

    O casal foi preso sob acusação de ter recebido US$ 7,5 milhões ilegalmente no exterior, segundo o decreto de prisão do juiz Sergio Moro na 23ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Acarajé porque este seria o código que funcionários da Odebrecht usavam para designar propina.

    A Odebrecht, de acordo com a investigação da PF, foi responsável pelo pagamento de US$ 3 milhões, enquanto o lobista Zwi Skornicki, que também foi preso, cuidou da remessa de US$ 4,5 milhões.

    Ao decretar a prisão do casal, Moro apontou "os pagamentos da Odebrecht a Santana seriam doações eleitorais sub-reptícias", ou seja, caixa dois de campanha.

    Santana vai reconhecer o caixa dois, mas deslocará a suspeita para outros países nos quais fez campanha, como Argentina e El Salvador. Nestes locais, a Odebrecht tem diversos interesses.

    Por causa do sucesso que obteve no Brasil, Santana fez nos últimos anos mais campanhas presidenciais fora do país do que aqui: foram seis em países da América Latina contra três no Brasil.

    Segundo investigadores ouvidos pela Folha, as transferências de Skornicki são o indício mais forte de ligação com a campanha de Dilma.

    Ex-representante do estaleiro asiático Kepel Fels no Brasil, o lobista não tinha atividade que justificasse os pagamentos ao marqueteiro, feitos entre setembro de 2013 e novembro de 2014, pouco depois do segundo turno da reeleição da presidente.

    CRIME MENOR

    O total de US$ 7,5 milhões foi recebido por meio de uma empresa offshore que Santana abriu no Panamá, a Shellbill, a qual tinha conta num banco suíço, o Heritage. Tanto a empresa panamenha quanto a conta na Suíça não foram declaradas à Receita Federal. Ainda não está decidido se Santana apontará a origem dos recursos.

    O recebimento fora do país, sem declaração à Receita, pode configurar crime de evasão de divisas, com pena de de dois a seis anos de prisão.

    Três especialistas ouvidos pela Folha em condição de anonimato afirmam que o marqueteiro só poderá ser acusado de lavagem de dinheiro se ficar provado que sabia que os recursos tinham origem ilícita.

    A pena de lavagem varia de três a dez anos de reclusão, mais multa. Na interpretação de advogados ouvidos pela Folha, seria melhor ser acusado de evasão do que de lavagem por causa da pena menor para o primeiro crime.

    Procurada, a Odebrecht afirma que colabora com as investigações.

    Colaboraram GRACILIANO ROCHA, BELA MEGALE e JULIANA COISSI

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