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    Lava Jato

    Pagamentos no exterior não têm a ver com o Brasil, diz defesa de Santana

    JULIANA COISSI
    DE CURITIBA

    24/02/2016 21h28

    Os recursos recebidos no exterior pelo marqueteiro João Santana e por sua mulher, Mônica Moura, presos nesta terça-feira (23) durante a 23ª fase da Operação Lava Jato, não são oriundos de campanhas eleitorais brasileiras. A declaração foi feita por Mônica durante depoimento à Polícia Federal em Curitiba na tarde desta quarta-feira (24), segundo o advogado do casal, Fábio Tofic.

    Como a Folha publicou nesta quarta, a linha de defesa do casal é a de descolar o PT da suspeita de estar relacionado aos pagamentos no exterior. Santana foi o responsável pelas campanhas eleitorais do ex-presidente Lula, em 2006, e da presidente Dilma Rousseff, em 2010 e 2014.

    Como o depoimento de Mônica foi longo –estendeu-se por cerca de quatro horas nesta tarde–, o publicitário só deve ser ouvido na manhã desta quinta (25) pela PF.

    Segundo Tofic, Mônica admitiu que ela e Santana mantiveram "contas não-declaradas no exterior, um crime pelo qual não existe uma pessoa presa nesse país", disse o advogado.

    "Não vou dizer que é um crime leve, mas que não enseja prisão", afirmou Tofic. Santana e Mônica, ainda segundo o defensor, receberam "recursos lícitos pelo trabalho honesto que fizeram ao longo de anos". "Não são lavadores de dinheiro, não são corruptos, nunca tiveram contrato com o poder público."

    A defesa criticou o fato de o depoimento não ter sido gravado, dizendo que havia essa promessa da PF, no início, mas que as informações foram compiladas em três folhas de papel, sem gravação de vídeo nem áudio. A reportagem não obteve resposta da PF sobre a crítica.

    O casal de publicitários foi preso sob suspeita de ter recebido US$ 7,5 milhões ilegalmente no exterior.

    De acordo com as investigações da PF, a construtora Odebrecht foi a responsável pelo pagamento de US$ 3 milhões. Outros US$ 4,5 milhões foram remetidos a eles no exterior pelo lobista Zwi Skornicki, também preso na operação, batizada de Acarajé –uma referência ao código que funcionários da construtora usavam para se referir a propinas.

    No último dia 12, a Folha revelou que a Lava Jato apura indícios de pagamentos da Odebrecht a João Santana, em contas no exterior, pelas campanhas presidenciais.

    Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, receber recursos fora do país, sem serem declarados à Receita, pode ser interpretado como crime de evasão de divisas, com pena de dois a seis anos de prisão.

    Já para serem condenados por crime de lavagem de dinheiro, cuja pena é maior (três a dez anos de prisão, com multa), é preciso provar que os investigados sabiam que os recursos tinham origem ilícita.

    Nesta tarde, a PF tomou, ainda, o depoimento do diretor-presidente da Odebrecht, Benedito Barbosa da Silva Junior, também preso na Acarajé. Seu advogado, Nélio Machado, deixou o prédio sem falar com a imprensa.

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