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O marqueteiro João Santana ao ser preso |
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Poder
Thursday, 02-May-2024 19:44:14 -03Lava Jato apura se repasses a Santana foram retribuição por contratos
GRACILIANO ROCHA
DE SÃO PAULO25/02/2016 02h00
Os investigadores da Operação Lava Jato apuram a ligação entre os repasses a uma conta secreta do marqueteiro João Santana, antes e durante a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, e uma possível compensação paga por empreiteiras para levar contratos da Petrobras e também da Sete Brasil.
A Sete foi foi criada com dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a construção de navios-sondas para exploração do pré-sal.
Investigadores consideram pouco plausível que João Santana tenha usado a conta de sua offshore panamenha Shellbill no banco suíço Heritage apenas para esconder "caixa dois" (doação eleitoral não declarada).
A hipótese do "caixa dois" é a linha mestra da defesa do publicitário, como revelou a Folha, e foi defendida por sua mulher e sócia, Mônica, em depoimento à PF.
O elo aparente entre o propinoduto da Petrobras e a campanha de 2014 é o lobista Zwi Skornicki, ex-representante do estaleiro asiático Keppel Fels no Brasil.
Preso na segunda (22), Skornicki usou a offshore Deep Sea Oil para depositar US$ 4,5 milhões (R$ 18 milhões) em uma conta de Santana na Suíça entre setembro de 2013 e novembro de 2014.
A Keppel Fels assinou contratos para a construção de seis navios-sondas para o pré-sal. Foi o delator Pedro Barusco, ex-gerente de serviços da Petrobras, que apontou os primeiros pagamentos ilegais de Skornicki a dirigentes da estatal e também ao PT.
Segundo Barusco, o interlocutor dos repasses da Keppel Fels ao PT foi o tesoureiro afastado do partido João Vaccari Neto, que também está preso. O delator, porém, não soube detalhar como o lobista pagava ao partido.
A lacuna do depoimento de Barusco começou a ser preenchida com a minuta do contrato e o bilhete escrito por Mônica Moura a Skornicki, apreendidos em novembro de 2014 quando a casa do lobista foi alvo de busca e apreensão.
Os dados bancários enviados por autoridades americanas ao Brasil, revelando os pagamentos da Deep Sea Oil à offshore de Santana, completaram a narrativa das propinas ao PT, de acordo com investigadores da operação ouvidos pela reportagem.
O fato de Skornicki atuar para a Keppel Fels apenas no Brasil reforça a suspeita da Procuradoria que os pagamentos a Santana tenham origem nos contratos das sondas de perfuração.
A outra frente da investigação é a ligação entre Odebrecht e o marqueteiro do PT.
Fernando Migliaccio, executivo da empreiteira suspeito de operar as offshores do grupo, foi preso no dia 17 quando tentava encerrar contas na Suíça e retirar ativos de um cofre em Genebra.
A Odebrecht é alvo de investigação da Procuradoria suíça por suspeita de usar os bancos do país europeu para pagar propinas a dirigentes da Petrobras.
As offshores identificadas como caminho da propina receberam de subsidiárias da Odebrecht no exterior ao menos US$ 215 milhões entre 2006 e 2014. O destino da maior parte deste dinheiro ainda é um mistério para a Lava Jato.
Até agora, só há comprovação que US$ 16 milhões chegaram às contas de dirigentes da Petrobras na Suíça e outros US$ 3 milhões abasteceram a Shellbill, de João Santana.
OUTRO LADO
Quando indagado pela Folha sobre os pagamentos de Skornicki a João Santana, o advogado Diogo Malan, que defende o lobista preso, disse que não faria comentários sobre o caso. A Odebrecht afirma que colabora com as investigações da Lava Jato.
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