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    Apoiador de Doria diz em gravação que tucano paga à militância

    THAIS ARBEX
    DE SÃO PAULO

    25/02/2016 02h00

    Um líder do PSDB na zona leste, que apoia a pré-candidatura de João Doria a prefeito de São Paulo, diz em gravação obtida pela Folha que o tucano faz pagamentos à militância do partido.

    No próximo domingo (28), os filiados tucanos vão às urnas decidir quem será o nome da legenda para concorrer à prefeitura.

    Anderson Silva Carvalho, conhecido como Celebridade, afirma no áudio que ninguém quer trabalhar de graça para Doria, que disputa a prévia com o vereador Andrea Matarazzo e o deputado federal Ricardo Tripoli.

    "Ele [Doria] ajudou sim a militância. Todos que estão com o Doria estão sendo ajudados. Só não posso passar o valor para você, a quantia e que dia cada um recebe porque fica antiético. Mas isso eu falo: todos foram ajudados", afirma Celebridade, para um interlocutor não identificado.

    Ouça a gravação

    Em nota enviada à reportagem, a campanha do tucano afirma que paga despesas de transporte e alimentação de colaboradores.

    No áudio, enviado como mensagem de voz pelo aplicativo WhatsApp para outros militantes do partido, Celebridade não especifica quem recebe os pagamentos, nem fala diretamente em compra de votos, o que seria crime eleitoral.

    Indica, no entanto, que sem pagamento haverá resistências em votar em Doria. "Ninguém quer trampar de graça. Ninguém quer sair da sua casa para ir votar no Doria, por exemplo. Quem é Doria? Vai tomar no c...!".

    Filiado ao PSDB, o militante se vangloria no áudio de controlar diversos diretórios tucanos na zona leste. "De Vila Matilde até Vila Prudente é meu", diz na gravação.

    DUAS VERSÕES

    Celebridade é um dos principais apoiadores de Doria na zona leste. Na gravação, ele menciona sua influência: "O Doria foi na minha casa, entendeu? Vai na minha casa, aí tenho que receber o cara. O cara não tinha um diretório na zona leste", diz.

    Em outro trecho, reclama do partido: "Tenho filho, tenho que cuidar dos meus filhos. Porque chega de ficar pensando no PSDB também, né, mano? O PSDB suga a gente e não dá porra nenhuma para a gente".

    Em 17 de janeiro, Celebridade organizou um encontro de Doria com cerca de 40 militantes, acompanhado pela Folha. Na ocasião, os presentes entregaram uma carta de apoio ao pré-candidato.

    No último sábado (20), Celebridade esteve presente no evento de encerramento da pré-campanha do tucano na Fecomercio, na Bela Vista.

    Procurado na sexta (19), o militante primeiro negou a gravação. "Essa gravação aí não procede. É mentira, é boato", declarou.

    A Folha então enviou o áudio e a entrevista telefônica gravada com ele para dois peritos, que atestaram ser a voz da mesma pessoa.

    "A perícia identificou a fala do sr. Anderson [Celebridade] em todos os áudios", disse Ricardo Caires, perito judicial que presta serviços para o Tribunal de Justiça do Estado há oito anos.

    Ricardo Molina, ex-professor da Unicamp, declarou ser "possível concluir, com alta probabilidade, que as duas vozes confrontadas são da mesma pessoa".

    Nesta quarta (24), confrontado novamente, o militante mudou a versão. Afirmou "não lembrar" se o áudio é de sua autoria. "Falo tanta coisa nervoso...", disse.

    A campanha de Doria, empresário novato na política, vem sendo acusada de cooptar militantes por meio de pagamentos há pelo menos duas semanas. Ele é apoiado pelo governador Geraldo Alckmin.

    Em 11 de fevereiro, o vereador Adolfo Quintas (PSDB), apoiador de Matarazzo, fez uma acusação de compra de votos, mas não apresentou provas. Na prévia, terão direito a voto cerca de 27 mil filiados. Se ninguém conseguir maioria absoluta, haverá segundo turno em 20 de março.

    OUTRO LADO

    Doria afirmou, em nota à Folha, que a campanha "é integrada também por voluntários e simpatizantes" e que despesas de transporte e alimentação são reembolsadas.

    "Em que pese o confuso conteúdo da gravação apócrifa e clandestina, com informações desencontradas e genéricas de um militante, não vislumbramos nenhum elemento que contrarie as informações já fornecidas pelo comitê, no sentido de que alguns militantes filiados que se dedicam às prévias recebem ajuda de custo para o reembolso de suas despesas com transporte e alimentação no dia a dia da campanha", prossegue a nota.

    No debate entre os pré-candidatos do PSDB realizado pela Folha nesta terça (23), Doria afirmou, ao ser questionado sobre compra de votos: "Aqueles que participam conosco participam porque gostam e porque querem".

    O presidente do PSDB paulistano, Mário Covas Neto, disse que, se comprovado, o pagamento "danifica a imagem do partido". "Isso mostraria que a identidade da militância não é partidária, mas sim fisiológica", declarou.

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