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    Análise

    Ferrovia acumula mais escândalos do que carga transportada

    DIMMI AMORA
    DE BRASÍLIA

    26/02/2016 11h52

    Eduardo Knapp - 6.jun.2008/Folhapress
    Construção da expansão da Ferrovia Norte-Sul em Tocantins, que liga Acailandia (MA) a Palmas (TO)
    Construção da expansão da Ferrovia Norte-Sul em Tocantins, que liga Acailandia (MA) a Palmas (TO)

    A ferrovia Norte-Sul foi anunciada com pompa pelo então presidente José Sarney há 30 anos como a salvação para o transporte no país. Mas, em todo esse tempo, a via acumulou mais escândalos nas costas que carga transportada.

    O primeiro foi logo em seu início, quando a Folha apontou em maio de 1987 que a primeira concorrência para a construção da via estava direcionada, com os ganhadores já conhecidos antes da disputa.

    Todas as empresas alvos da operação O Recebedor, deflagrada pela Polícia Federal nesta sexta-feira (26), 'venceram' algum dos lotes da 'disputa' de 1987.

    A denúncia não impediu a continuidade das obras do primeiro trecho de 215 quilômetros dentro do Maranhão que só ficou pronto uma década depois, já no governo Fernando Henrique Cardoso. O segundo trecho da obra, 505 quilômetros que a traria até Goiás, também demorou quase uma década até ser inaugurado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

    Lula ganhou gosto pela Norte-Sul, da qual foi grande crítico em seu lançamento pelo governo Sarney. Imaginada ainda na década de 1950, essa ferrovia teria a função de ser uma espécie de espinha dorsal das ferrovias do Brasil, interligando-as e facilitando a comunicação entre portos.

    Estudos da estatal Valec, a empresa que é responsável por sua construção, apontam que o país perde mais de R$ 12 bilhões/ano em aumento de custos logísticos sem a conclusão do projeto.

    No segundo mandato de Lula, o governo injetou recursos para a conclusão do terceiro trecho da obra, os 855 quilômetros que levariam os trilhos até o sul de Goiás, finalmente ligando-os a uma das ferrovias nacionais existentes para, com isso, aumentar o transporte de carga pela via que mal chegava aos 10% de sua capacidade.

    Ao longo dessa etapa de construção, a que agora é alvo da Polícia Federal, o TCU (Tribunal de Contas da União) já apontava desde 2008 suspeitas de superfaturamento e pediu bloqueio de recursos do orçamento para elas, o que foi ignorado.

    No período eleitoral de 2010 a obra avançava rápido e Lula 'inaugurou' a estrada de ferro pelo menos duas vezes em eventos para divulgar a sua candidata, Dilma Rousseff.

    Mas, quando Dilma assumiu em 2011, recebeu uma ferrovia incompleta, cheia de defeitos e superfaturada, sobre a qual só em 2015 conseguiu colocar um trem com carga para trafegar.

    Mesmo assim, a presidente não deixou de passear em cima de locomotivas para ser fotografada sobre os trilhos que não levavam carga alguma. Trilhos comprados superfaturados e que, segundo o próprio governo, tinham 'baixa dureza'.

    A tentativa do governo para concluir a Norte Sul agora é passar o restante da construção da ferrovia entre Goiás e São Paulo (680 quilômetros iniciados em 2011 e não concluídos) e seu complemento não iniciado até a região Sul para a iniciativa privada construir e operar.

    Se tudo der certo, em 10 anos pode ser possível um trem sair do Porto de Itaqui (MA) e chegar até Paranaguá (PR). Serão 40 anos para fazer 3 mil quilômetros de ferrovias. Em 20 anos, a China construiu 20 mil quilômetros de vias só para trens de alta velocidade.

    Trilhos sob suspeita

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