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    Lava Jato

    Fraude em ferrovias usava 'contratos dissimulados', diz procurador

    RAFAEL MESQUITA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM GOIÂNIA

    26/02/2016 14h10

    Eduardo Knapp - 6.jun.2008/Folhapress
    Construção da expansão da Ferrovia Norte-Sul em Tocantins, que liga Acailandia (MA) a Palmas (TO)
    Construção da expansão da Ferrovia Norte-Sul em Tocantins, que liga Acailandia (MA) a Palmas (TO)

    A Polícia Federal e o Ministério Público Federal em Goiás veem semelhanças entre o suposto esquema de fraude, cartel e propina na construção de ferrovias no país, investigado na Operação "O Recebedor", deflagrada nesta sexta-feira (26), o que vem sendo detectado no petrolão.

    "O esquema é, sem dúvida, semelhante ao investigado na Lava Jato, com pagamento de propina utilizando contratos dissimulados para ocultar a fraude", afirmou o procurador Helio Telho Corrêa Filho em Goiânia.

    A operação cumpre sete mandados de condução coercitiva (quando uma pessoa é levada para depor, mas liberada no mesmo dia) e outros 44 de busca e apreensão em seis Estados (PR, MA, RJ, MG, SP e GO), além do DF.

    Só em Goiás, a PF apurou mais de R$ 630 milhões desviados na construção da ferrovia Norte-Sul. A investigação foca ainda o pagamento de propina na integração Leste-Oeste. Há indícios de prática de cartel e lavagem de dinheiro.

    Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, a Camargo Corrêa pagou R$ 800 mil em propina ao ex-presidente da empresa federal Valec Engenharia José Francisco das Neves, conhecido como Juquinha. A Valec é uma estatal do governo federal responsável pela construção de ferrovias no país.

    O ex-dirigente da Valec, a mulher, Marivone Ferreira das Neves, e o filho dele, Jader Ferreira das Neves, foram levados para prestar depoimento e acabaram liberados em seguida.

    De acordo com o delegado da PF responsável pelo caso, Ramon Menezes, o esquema foi descoberto através de acordo de leniência e delação premiada da empreiteira Camargo Corrêa durante a Lava Jato.

    Menezes afirma que Juquinha utilizava três empresas para receber o dinheiro de propina: Elccom Engenharia, Heli Dourado Advogados Associados e Evolução Tecnologia e Planejamento –todas de Goiânia.

    A Camargo Corrêa, diz a investigação, firmava contrato com elas para a prestação de serviços que não eram realizados. O suposto esquema, ainda segundo os investigadores, durou de 2006 a 2012 e servia para beneficiar a empreiteira escolhida para realizar as obras das ferrovias Norte-Sul e Integração Oeste-Leste.

    Os suspeitos devem responder por corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro.

    ELEIÇÕES 2014

    Segundo o procurador Corrêa Filho, documentos apreendidos nesta sexta podem comprovar doações para campanhas eleitorais no ano passado. "Esta operação pode levar a desdobramentos que comprovam doações [ilegais] para campanhas de 2014", disse ele durante entrevista coletiva em Goiânia.

    Questionado por jornalistas, ele não disse quais campanhas era essas, nem se eram estaduais ou referente à disputa presidencial.

    OUTRO LADO

    Os escritórios de Romero Ferraz Filho e Cleuler Barbosa das Neves, responsáveis pela defesa do ex-presidente da Valec e de sua família informaram que o os três prestaram todos os esclarecimentos à Polícia Federal.

    Ainda de acordo com os advogados, durante o depoimento de Neves, que durou mais de uma hora, ele afirmou que jamais recebeu qualquer quantia ou vantagem ilícita das pessoas citadas na operação.

    O advogado Heli Lopes Dourado, proprietário do escritório Heli Dourado Advogados Associados, considerou absurda e desnecessária a busca e apreensão a documentos em seu local de trabalho. Mesmo assim, garantiu que não teme as apurações.

    Dourado disse que está em São Paulo e retornará a Goiânia no final de semana, quando estará à disposição para prestar esclarecimentos. Afirmou ainda que não está a par da investigação da Operação O Recebedor.

    A gerente administrativa da Elccom Engenharia, Maria Inês Lopes Mendonça, informou que o diretor e proprietário da companhia, Juarez José Lopes Macedo, está viajando e retorna na semana que vem. Segundo ela, somente quando ele for notificado pela PF irá haver um posicionamento sobre as investigações.

    A reportagem ainda não conseguiu contato com a Evolução Tecnologia e Planejamento.

    PAGADOR E RECEBEDOR

    A operação recebeu o nome de O Recebedor em referência à defesa apresentada por Neves na operação intitulada Trem pagador, realizada em 2012.

    Na ocasião, ex-presidente da Valec chegou a ser preso e seus advogados alegaram que, "se o trem era pagador, o alvo não era o recebedor".

    As investigações da Trem Pagador começaram quando a Procuradoria da República em Goiás fazia levantamento para pedir à Justiça a indisponibilidade de bens de Neves, investigado por inflar preços da obra da ferrovia Norte-Sul.

    O trabalho da Procuradoria mostrou que um vasto patrimônio, avaliado em R$ 60 milhões, estava em nome do ex-dirigente, parentes e laranjas.

    Trilhos sob suspeita

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