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    Lava Jato

    Funcionária da Odebrecht diz à PF que 'acarajé' era porção de comida baiana

    LEANDRO COLON
    RUBENS VALENTE
    AGUIRRE TALENTO
    DE BRASÍLIA
    GRACILIANO ROCHA
    ENVIADO A CURITIBA

    26/02/2016 15h36

    Apontada pela Polícia Federal como uma espécie de gerente da contabilidade paralela da Odebrecht, Maria Lúcia Tavares, presa na Operação Acarajé, afirmou à Polícia Federal que a expressão "acarajé" não era propina, mas porções da comida baiana enviadas de Salvador para o Rio.

    Para a PF, "acarajé" seria a palavra usada dentro da empreiteira para disfarçar pagamentos ao marqueteiro João Santana, preso desde segunda-feira (22) pela mesma operação, a 23ª fase da Lava Jato.

    Em depoimento à polícia, Maria Lúcia afirmou que a menção a "acarajés" em e-mails trocados com Hilberto Mascarenhas e Roberto Prisco Ramos, ambos ligados também à Odebrecht, refere-se a "porções de acarajé para entrega no Rio de Janeiro/RJ em um escritório". "Que as baianas em Salvador vendem pequenas porções para aperitivos, em caixa, e então cabia à declarante providenciar essas entregas a pedido de Hilberto, no local onde ele indicasse", diz termo do depoimento da funcionária.

    No dia 27 de janeiro de 2014, Ramos enviou um e-mail a Hilberto: "Tio Bel, Você consegue me fazer chegar mais 50 acarajés na 4ª feira a tarde (por volta das 15hs) no escritório da OOG, no Rio?". "Ok programado seus acarajés chegaram quentinhos", responde Hilberto. Meses antes, em 29 de outubro de 2013, Ramos diz a Hilberto que vai a São Paulo e pretende "trazer uns 50 acarajés dos 500 que tenho com você". "Ou posso comprar aqui mesmo, no Rio? Tem alguma baiana de confiança, aqui?", pergunta Ramos. Outros e-mails com a menção a "acarajés" também foram obtidos pela investigação e anexados em relatório tornado público nos autos da Operação Acarajé, na Justiça Federal no Paraná.

    A PF ressaltou que em mensagem de outubro de 2013 Hilberto confirmou a Ramos que a palavra "acarajé" é uma senha: "Combinado nesse endereço senha acarajé".

    A PF coloca em dúvida a explicação de que os acarajés seriam alimento enviado de Salvador para o Rio. "Trata-se de comida perecível e que seria completamente inviável pessoa estocar tal alimento sem que o mesmo perca suas propriedades alimentares", diz relatório da PF.

    Na análise da polícia, esses e-mails "desmontam, de pronto, a plausibilidade da versão sustentada por Maria Lucia".

    "FEIRA"

    Na agenda da funcionária há uma informação que os investigadores consideram uma importante peça do quebra-cabeças do repasse de recursos da empreiteira para Santana.

    O codinome "Feira" foi anotado ao lado do nome de Mônica Moura, mulher do publicitário, junto com sete números de telefone. São números de Salvador, de Brasília e dos Estados Unidos. Quatro deles pertencem à Santana e Associados Marketing e Propaganda, uma das empresas do casal.

    Em depoimento, Santana e a mulher negaram ser o "Feira", que aparece ligado a supostos pagamentos em uma planilha apreendida no e-mail de um funcionário do conglomerado e nas anotações de celular do presidente e herdeiro do grupo, Marcelo Odebrecht.

    "Os documentos analisados demonstram que Maria Lúcia em algum grau gerenciava a contabilidade paralela da Odebrecht, destinada ao pagamento de vantagens indevidas, mas também que tem pleno conhecimento de que o codinome Feira –referido na planilha e também nas anotações de Marcelo Bahia Odebrecht– se refere ao casal João Santana e Mônica Moura", afirmam os delegados da PF que pediram a renovação da prisão dos dois.

    Foi na casa de Maria Lúcia que a PF encontrou uma planilha que indica que a Odebrecht realizou pagamentos de R$ 4 milhões à "Feira" –apelido do marqueteiro– na reta final do segundo turno da reeleição da presidente Dilma Rousseff.

    A planilha é, segundo suspeita a PF, um indício de que a Odebrecht realizou pagamentos ao marqueteiro da presidente no Brasil. Na versão dos publicitários, que negaram ter qualquer relação comercial com a Odebrecht, o conglomerado realizou apenas pagamentos no exterior, por meio de caixa dois, entre 2012 e 2013, referentes a campanhas fora do país.

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