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    Promotoria apura desvio de recurso para bar de aliado de Matarazzo

    THAIS ARBEX
    DE SÃO PAULO
    MATHEUS MAGENTA
    SECRETÁRIO-ASSISTENTE DE REDAÇÃO

    27/02/2016 02h00

    Reprodução
    Andrea Matarazzo com um dos coordenadores da pré-campanha Luís Sobral
    O pré-candidato a prefeito do PSDB Andrea Matarazzo com um dos coordenadores de seus campanha, Luís Sobral

    O Ministério Público Estadual investiga o suposto uso do ProAC (Programa de Ação Cultural), do governo de São Paulo, para desvio de recursos públicos para um bar que tem como sócio Luís Sobral, um dos coordenadores da pré-campanha do vereador Andrea Matarazzo à Prefeitura de São Paulo pelo PSDB.

    Os filiados do partido fazem prévia neste domingo (28) para decidir entre Matarazzo, o deputado federal Ricardo Tripoli e o empresário João Doria quem será o candidato na eleição de outubro. Se necessário, haverá segundo turno em 20 de março.

    O caso faria parte de um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro nas contas do Theatro Municipal, sob o comando do ex-diretor-geral da instituição José Luiz Herencia. Herencia é sócio de Sobral no Clube das Artes, em Higienópolis, bar ligado à Associação dos Amigos do Museu de Arte Moderna (AAMAM), criado em 1948.

    Nesta sexta (27), a prefeitura de São Paulo decretou intervenção na instituição que comandava o teatro, o IBGC (Instituto Brasileiro de Gestão Cultural).

    Sobral foi adjunto de Matarazzo na Secretaria Estadual de Cultura durante o governo Geraldo Alckmin (2010-2012) e seu chefe de gabinete na Câmara Municipal.

    LIVRO

    Em maio de 2012, um projeto prevendo uso de recursos públicos para a a publicação de um livro sobre a história do Clubinho –nome do Clube das Artes até 2013– foi apresentado ao ProAC.

    O programa estadual funciona por meio de isenção fiscal a empresas que patrocinam projetos culturais.

    O projeto foi apresentado pelo empresário Igor Fagury, que seria um laranja de Herencia, segundo o promotor Arthur Lemos Junior, do Ministério Público Estadual.

    Fagury captou cerca de R$ 200 mil para produzir 3.000 exemplares de um livro de 170 páginas em papel couché. Segundo a proposta, o responsável pela publicação seria Sérgio Cohn, dono da Azougue Editorial.

    Procurado pela Folha, Cohn afirmou que sua editora não publicou o livro e disse desconhecer o projeto. "Não lembro de nem sequer a editora ter sido contatada."

    De acordo com a proposta apresentada por Fagury, o livro "registraria a memória do bar, que no início da década de 1950, era um ponto de encontro de personalidades da época, como Cicillo Matarazzo, Paulo Emílio Salles Gomes, Di Cavalcanti e Lygia Fagundes Telles, entre outros".

    O projeto foi apresentado ao ProAC em 11 de maio de 2012, quatro dias após Sobral deixar o comando da Secretaria de Cultura. Ele assumiu a interinidade da pasta durante um mês após Matarazzo pedir exoneração para disputar a eleição daquele ano.

    Na Junta Comercial de São Paulo, o Clube das Artes está registrado com a razão social AAMAM Bar e Lanches LTDA. A empresa foi aberta em agosto de 2013 com capital de R$ 1.000. Herencia e Sobral têm, cada um, R$ 500. Em dezembro, o Clube das Artes foi alvo de busca e apreensão por parte da polícia.

    Em janeiro, Herencia teve seus bens sequestrados pela Justiça, a pedido do Ministério Público. As contas do bar em que é sócio com Sobral foram bloqueadas.

    A decisão judicial cita transferência de R$ 290 mil da empresa de Fagury para a conta da mãe de Herencia.

    De acordo com a investigação, ele usaria as contas bancárias da mãe para "cobrir transações suspeitas".

    OUTRO LADO

    Procurado, Luís Sobral afirma que se tornou sócio do bar apenas em 2013, um ano após a apresentação do projeto de captação de recursos para o livro contando a história do bar.

    Sobral afirmou ainda não "compactuar com nenhuma forma de desvio de recursos públicos".

    "Se o Ministério Público tem qualquer dúvida sobre a minha conduta, sou o primeiro a ter interesse em esclarecer. Onde devo me apresentar?", afirmou.

    Ele ainda disse desconhecer o projeto do livro e afirmou "não ter a menor ideia de quem é Igor Fagury".

    Sobral disse ainda que, por questões financeiras, em agosto de 2015, decidiu fechar as portas do bar.

    Declarou também que os últimos contatos que teve com Herencia foram para tratar do fechamento da empresa. Na Junta Comercial, no entanto, o bar continua ativo.

    Herencia disse à Folha que o projeto do livro "não tem nenhuma relação com Sobral". "Ele tornou-se meu sócio no bar muito depois", afirmou.

    Segundo ele, a publicação do livro "teve problemas na execução e não foi finalizada ainda".

    Consultada, a Secretaria de Cultura do governo de São Paulo informou que a prestação de contas do projeto ainda não foi apresentada.

    A reportagem não conseguiu localizar Igor Fagury.

    A assessoria de Andrea Matarazzo não se pronunciou sobre o caso.

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