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    Reportagem que seguiu beneficiários do Bolsa Família leva Prêmio Folha

    DE SÃO PAULO

    28/02/2016 02h00

    O especial multimídia "Boyhood Bolsa Família", que acompanhou por dez anos a vida de beneficiários do programa federal de distribuição de renda em Pernambuco, ganhou o Grande Prêmio Folha de 2015, concedido desde 1993 aos melhores trabalhos de profissionais deste jornal.

    De 2005 a 2015, o repórter especial Fernando Canzian visitou os Silva e os Dumont, moradores da favela Sovaco da Cobra, em Jaboatão de Guararapes, região metropolitana do Recife, para registrar o que mudou desde que o Bolsa Família se tornou sua principal fonte de renda.

    A reportagem mostrou que o programa permitiu às famílias equiparem suas casas e melhorarem a escolaridade de seus filhos. Por outro lado, verificou que a iniciativa deixou as famílias muito dependentes do Estado (leia mais abaixo).

    A apuração foi apresentada em uma reportagem multimídia que combinou o texto com vídeos gravados pelo editor-adjunto da "TV Folha", André Felipe, e infográficos de Mário Kanno e Lucas Zimmerman. O trabalho também recebeu, em 2015, distinção por Melhor Contribuição ao Telejornalismo no Prêmio Exxon Mobil de Jornalismo (antigo Prêmio Esso).

    O júri que escolheu os vencedores desta edição do Prêmio Folha foi integrado pela ombudsman da Folha, Vera Guimarães Martins, pelo secretário-assistente de Redação Leonardo Cruz, pelo diretor industrial, Luiz Antonio de Oliveira, e pelos colunistas do jornal Mariliz Pereira Jorge e Reinaldo Azevedo.

    PIAUÍ

    O prêmio de Reportagem foi concedido a "Meninas do Piauí", da repórter Cláudia Collucci, série que contou a história de quatro jovens, de 15 a 17 anos, estupradas e espancadas por cinco homens em Castelo do Piauí (PI).

    A visão dos sírios sobre a guerra que destrói seu país e provoca uma onda migratória sem precedentes rendeu a Patrícia Campos Mello o prêmio na categoria Especial.

    Eduardo Anizelli ganhou o prêmio de Fotografia com a imagem da presidente Dilma Rousseff vestindo a faixa presidencial durante a posse de seu segundo mandato.

    Eduardo Anizelli-1.jan.2015/Folhapress
    A presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de posse de seu segundo mandato, em Brasília
    A presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de posse de seu segundo mandato, em Brasília

    Na categoria Arte, o trabalho vencedor foi o "Especial Madonna", sobre os 30 anos de carreira da cantora pop, produzido por Alex Kidd, Renato Barreto, Bruno Oliveira Santos e Giovana Bressani.

    O melhor trabalho de Edição foi "Sete índices da economia que explicam por que você se sente mais pobre", de Tássia Kastner, André Cabette Fábio e Amon Borges, que mostrou como a piora da situação econômica do país afetou o bolso dos brasileiros.

    O caderno especial RUF (Ranking Universitário Folha), realizado por Heloisa Helvécia, Sabine Righetti, Irapuan Campos, Fábio Takahashi e Bruno Benevides, foi premiado na categoria Serviço por classificar as instituições de ensino superior do país conforme a qualidade.

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    VENCEDORA DO GRANDE PRÊMIO ACOMPANHOU POR DEZ ANOS BENEFICIÁRIOS DE PROGRAMA SOCIAL

    No ritmo veloz que é próprio do jornalismo, como avaliar em profundidade e durante um longo tempo os efeitos de um dos maiores programas sociais do Brasil, com capacidade para mudar a vida de milhões de pessoas?

    Para o repórter especial Fernando Canzian, o desafio foi vencido graças ao apoio que o jornal costuma dar a investigações de longa duração, como ocorreu com "Boyhood Bolsa Família", que ganhou o Grande Prêmio Folha de Jornalismo de 2015.

    "O jornal bancou uma iniciativa pessoal, com interesse jornalístico. Na Folha, sempre tive apoio para pautas exclusivas de longo prazo", diz.

    A ideia da reportagem surgiu quando Canzian era correspondente em Washington e apurou que o governo brasileiro planejava implantar um programa de transferência de renda –que ainda não recebera o nome de Bolsa Família.

    Na época, a equipe econômica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a sede do Banco Mundial, na capital americana, para conhecer o Oportunidades (atualmente chamado de Prospera), programa de transferência de renda adotado no México e que inspiraria a versão brasileira.

    Quando Canzian voltou ao Brasil, em 2005, o Bolsa Família já havia sido implantado pelo governo Lula, e o jornalista quis acompanhar de perto como ele modificaria a vida dos seus beneficiários.

    Escolheu duas famílias de uma favela de Jaboatão de Guararapes, na região metropolitana do Recife –os Silva e os Dumont, do Sovaco da Cobra– e os visitou quase todos os anos por uma década.

    Nos encontros, conversava com os pernambucanos para tentar entender que diferença o dinheiro estatal fazia em suas vidas, tirava fotos e ditava textos para acompanhar a evolução escolar dos caçulas –é condição para o recebimento do Bolsa que as crianças frequentem as aulas regularmente.

    DISTANCIAMENTO

    Uma de suas preocupações, conta Canzian, foi manter-se distanciado das suas fontes durante todo o processo, extraordinariamente longo para os padrões do jornalismo.

    "É claro que desenvolvi uma relação mais próxima com essas pessoas, que me recebiam como uma 'visita especial'. Mas sempre preservei independência, distanciamento e todos os procedimentos necessários, como não deixar de realizar ditados e leituras com as crianças e registrar imagens a cada visita", afirma.

    O título da reportagem veio do filme "Boyhood" (EUA, 2014), do diretor Richard Linklater, que conta a história de um garoto e sua família ao longo de 12 anos –tempo que o longa levou para ser realizado, sempre com os mesmos atores principais.

    "Achei que o termo 'Boyhood', por causa do sucesso do filme e de seu conteúdo, traria um atrativo mais pop ao material, com o qual as pessoas poderiam se identificar ou fazer um paralelo."

    Canzian, porém, não considera que sua reportagem tenha terminado, apesar da publicação. Ele pretende continuar acompanhando os Silva e os Dumont pelos próximos anos, a fim de completar seu premiado diagnóstico do Bolsa Família.

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    Clique aqui para conhecer todos os vencedores do Prêmio Folha, desde 1993.

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