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    folha, 95 anos

    Leitores fiéis escrevem ao jornal para expressar críticas e elogios

    DEPOIMENTOS A
    FERNANDO ITOKAZU
    DHIEGO MAIA
    ELVIS PEREIRA

    28/02/2016 02h00

    O espaço do jornal dedicado aos comentários do público recebe quase 60 mil mensagens por ano; veja o que pensam alguns dos leitores mais assíduos.

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    PÃO, CAFÉ E JORNAL NA MESA

    Ademar Gumieiro Feiteiro, 73, advogado trabalhista, de São Paulo (SP)

    Marcus Leoni/Folhapress
    Ademar Feiteiro e a mulher, Marisa Cavichioli
    Ademar Feiteiro e a mulher, Marisa Cavichioli

    Sou daqueles que se chateiam quando não vê o jornal às 5h na porta de casa. Fico andando de um lado a outro até ele chegar. Afinal, já são quase 40 anos de relação.

    É durante o café da manhã que mais leio a Folha. Ali, sobre a mesa, minha mulher e eu selecionamos sobre quais reportagens vamos opinar.

    Por dia, enviamos de dois a três comentários. Geralmente, critico o jornal quando ele mais interpreta do que dá uma notícia.

    Há manchetes que procuram induzir o leitor para uma linha mais pró-direita. Acho perigoso, porque, em vez de educar, desinforma.

    Um exemplo: quando há uma greve de motoristas, o jornal só destaca o prejuízo que o movimento causa à população, mas nunca analisa a fundo as péssimas condições às quais os trabalhadores estão submetidos.

    E outra: mesmo mais "magro" o jornal deu, no dia 16 de fevereiro, um grande espaço para a Raquel Pacheco, conhecida como Bruna Surfistinha, contar sobre a vida de garota de programa, relatar a sua relação com a umbanda. Como pode?

    Ainda quero escrever um artigo em Tendências / Debates. Acho que os leitores mais assíduos da Folha, vez ou outra, também deveriam ocupar esse nobre espaço. Temos muito a dizer.

    Enquanto meu primeiro artigo não vem, só peço uma coisa: que o Painel do Leitor seja apenas nosso. Há secretários, ministros e empresas usando a metade do espaço da seção para reclamar. Deixe que isso a gente já faz —e muito bem.

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    A BUSCA PELA PRECISÃO

    Ana Lúcia Amaral, 64, procuradora aposentada, de São Paulo (SP)

    Travei uma batalha por e-mail com um repórter da Folha por meses. Ele escreveu uma reportagem no final dos anos 1990 sobre o Judiciário que era imprecisa. Mandei, então, meus questionamentos, mas ele não dava o braço a torcer. Não estava fazendo crítica pela crítica, faltava informação no texto.

    Ele ficou zangado, indignado, mas continuei escrevendo. Até que, depois de muita discussão, houve uma oportunidade e nos encontramos pessoalmente. Fiquei feliz porque a história não terminou mal.

    Percebo que falta ao jornalista alguém que ele possa consultar e dizer: "Eu posso falar isso?". Não basta comprar a versão do advogado ou do juiz entrevistado e passar para a frente. O jornalista precisa fazer um pouco esse trabalho crítico de peneirar a informação.

    Há reportagens sobre o vírus da zika em que eu não sei até que ponto o jornal está me informando corretamente, pois sou leiga no assunto. De vez em quando, você vê um especialista que fala sobre os casos, e isso te esclarece.

    Na questão da microcefalia, vi poucos jornais dizendo: o problema é de infraestrutura, saneamento básico e da falta de ações preventivas de saúde e de educação da população. Parece que o aedes chegou agora.

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    UM LUGAR PARA DISCORDAR

    Ana Sasaki, 31, secretária, de São Paulo (SP)

    Marcus Leoni/Folhapress
    Ana Sasaki, 31
    Ana Sasaki, 31

    Na infância, eu lia a "Folhinha". Na adolescência, o "Folhateen". E, na fase do pré-vestibular, o "Fovest".

    Foi meu pai quem me inspirou a sujar os dedos em casa para ler o impresso. E foi essa relação tão próxima com a publicação que me ajudou a firmar e a elaborar as minhas ideias, mesmo as divergentes do jornal.

    Cito uma: a legalização do aborto. Mesmo nos casos de mulheres que sofrem um estupro ou que recebem o diagnóstico do bebê anencéfalo, eu sou contra. O direito à vida é o ponto.

    E é isso o mais enriquecedor: discordar, mas poder deixar isso escancarado. No Painel do Leitor, faço isso.

    Comento reportagens e comentários de outros leitores quando acho que estão fora da curva. Se uma notícia não está de acordo com os fatos, vou lá e critico. É uma grande mesa-redonda.

    Recentemente, um leitor criticou as religiões por não fazerem nada contra os casos de microcefalia [má-formação congênita]. Eu o informei que muitos grupos têm espaços de orientação e apoio às gestantes. A Pastoral da Mulher, ligada à Igreja Católica, é um exemplo.

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    HÁ CONTEÚDO QUE VALE A PENA

    Celso Balloti, 62, aposentado, de Santos (SP)

    Leio a Folha desde criança. Fui assinante por um bom tempo, depois andei bravo com o jornal e nunca mais fui assinante. Normalmente, compro todo dia na banca. Eu resguardo o direito de desistir a qualquer momento. E já estive, em vários momentos, a ponto de fazer isso.

    Na época em que o Fernando Henrique esteve no poder, achei o tempo inteiro que a cobertura da Folha foi equilibrada. O jornal batia no governo com frequência, mas mantinha uma certa linha. Depois, com o Lula, a coisa mudou completamente. São tentativas e tentativas, não só com o Lula, mas em relação a Dilma, de humilhar.

    Tudo bem, tem gente de esquerda escrevendo, de direita, de centro. Mas são opiniões. Se tivesse sido assim na época do FHC

    Continuo lendo o jornal porque há conteúdo que ainda vale a pena, como o Janio de Freitas, o Antonio Prata e o Gregorio Duvivier, e leio "Esporte", "Ilustrada".

    Normalmente, envio comentários sobre algo que me choca, algo que merece ser apontado. Escrevo para a ombusman, para o colunista. Virei um crítico do jornal.

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    CHEGA DE 'DIETA'

    Ulf Hermann Mondl, 69, engenheiro civil, de Florianópolis (SC)

    Eu sou um austríaco que desembarcou no Brasil aos cinco anos de idade e nunca mais saiu daqui. Moro em Florianópolis e assino a Folha há mais de 30 anos.

    A diversidade do jornal é interessante —tem do Janio de Freitas, considerado o porta-voz do PT dentro do jornal, até Reinaldo Azevedo, o grande expoente do pensamento liberal.

    Uma das críticas que faço ao jornal é quanto ao seu "emagrecimento". Os cadernos eram melhores, mais detalhados. Neste cenário, quando é que Santa Catarina vai aparecer? O meu Estado é pessimamente representado.

    Mas o que me chama a atenção positivamente no jornal é o seu sistema de distribuição. Eu estava fazendo uma obra em São Luiz Gonzaga, interior do Rio Grande do Sul, e lá estava a Folha.

    Já fiz em torno de 1.600 comentários ao jornal. Pouco mais de uma dezena disso foi publicada. Tenho uma pista: meu pensamento não é de esquerda, então, não sai. Pretendo fazer uma tese de doutorado em sociologia a respeito disso.

    Espero ter vigor até lá. Como também espero que a Folha tenha para se adaptar a estes tempos tão incertos e dinâmicos.

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    A FOLHA ESTÁ À DIREITA

    Antônio Negrão de Sá, 75, servidor aposentado, do Rio de Janeiro (RJ)

    Ricardo Borges/Folhapress
    Antônio Negrão de Sá, 75
    Antônio Negrão de Sá, 75

    Eu me tornei um crítico de jornal depois do mensalão [esquema ilegal de financiamento político organizado pelo PT, segundo a Justiça]. Foi a maior cobertura parcial e partidária feita pela imprensa, e incluo a Folha nessa.

    Até hoje, não há nenhuma prova concreta contra o José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil. Foram buscar no julgamento de nazistas a ideia de que o comandante ou general era o responsável pelo crime de seus inferiores, e, assim, ele foi enquadrado.

    A partidarização do mensalão mudou a minha cabeça. Daí eu decidi que usaria o resto da minha vida para atacar a mídia conservadora.

    A mesma coisa está acontecendo na Lava Jato. Querem pegar o Lula porque ele pode ser novamente presidente da República. É uma patrulha impressionante.

    Agora, o ex-presidente não pode comprar um barco, não pode ter um apartamento, não pode ter um sítio, não pode ir a um sítio.

    Esse escrutínio é errado porque é partidário. Ninguém quer saber dos imóveis que o Aécio Neves tem, nem os de Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Geraldo Alckmin. Ninguém levanta o patrimônio desse pessoal.

    Mas mesmo sabendo do lado em que a Folha está, à direita, eu a compro toda semana em uma banca, aqui em Copacabana. É sempre um passatempo ler o jornal.

    Tenho um ritual: eu separo a notícia que considero mais parcial e faço um comentário de dez linhas para enviar para o jornal. Disparo a mesma crítica por e-mail para os meus contatos.

    Apesar de a Folha publicar opiniões em que ela não acredita, acho que ainda falta mais espaço para o contraditório. Sugiro uma proporção: que pelo menos 50% dos comentários contra a linha editorial do jornal sejam publicados. Já estaria de bom tamanho.

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    NORTE NÃO É SÓ MATO

    Kayo César Araújo da Silva, 26, advogado, de Belém (PA)

    Tarso Sarraf/Folhapress
    Kayo César Araújo da Silva, 26
    Kayo César Araújo da Silva, 26

    A Folha surgiu na minha vida em um dia trágico, o do incêndio da Boate Kiss, em janeiro de 2013, quando 242 pessoas morreram. Diante daquele acontecimento, decidi que era hora de ler regularmente um grande jornal, para ficar a par da rotina do resto do país.

    Desde então, acompanhar os erros e os acertos da Folha virou uma rotina: acordo, pego meu iPad e leio todos os cadernos. Não diria que sou uma exceção, mas vejo que minha geração não lê jornal com frequência, prefere se informar pelas redes sociais.

    Li também grande parte do "Manual da Redação" e achei o livro interessante, mas percebo que muitas reportagens destoam dos métodos defendidos na publicação.

    Sinto falta, por exemplo, de que o jornal volte sua atenção para as peculiaridades da região Norte, onde nasci. A Amazônia só ganha as páginas da Folha quando está associada a alguma violação ambiental. Por outro lado, o Painel do Leitor é fundamental. É democrático ver uma opinião divergente ser publicada. Não pode acabar.

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    SEGUNDO CASAMENTO

    Selma Feldman, 56, advogada e empresária, de São Paulo (SP)

    Marcus Leoni /Folhapress
    Selma Feldman, 56
    Selma Feldman, 56

    Eu era assinante do "Jornal da Tarde". Quando ele acabou, em 2012, fiquei "viúva" e me senti péssima. Como adoro ler, decidi fazer uma experiência com a Folha e agora não a troco por nenhum outro.

    De manhã, quando a recebo em casa, o "Esporte" some —são três homens em casa—, e depois preciso ficar caçando as páginas. Carrego o jornal até de noite.

    Costumo fazer recortes das reportagens que considero mais interessantes para os meus filhos, que são gêmeos e estudantes de marketing.

    E não costumo cortar o jornal somente para eles. Sou advogada e tenho uma imobiliária. Lá, também faço todo o mundo ler.

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    EXERCÍCIO DA DEMOCRACIA

    Ary Braga Pacheco Filho, 58, engenheiro civil, de Brasília

    Comecei a ler o jornal há muitos anos, no trabalho. Eu me tornei assinante primeiro da edição impressa e, depois, da digital. Era o jornal de que mais gostava, talvez até por uma questão de identificação: a Folha é objetiva.

    Comento as reportagens, principalmente as de política e economia, por acreditar que é uma forma de o cidadão fazer a sua opinião aparecer. Fundamentalmente, é o exercício da cidadania.

    Em média, envio um comentário uma vez por semana —com o e-mail, ficou mais fácil. Não critico as reportagens, critico os políticos, o status quo. Minhas cartas têm um tom muito mais político.

    A Folha é bem neutra, publica os dois lados, tem as tendências de esquerda, de direita. É o exercício da democracia mesmo.

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    A FOLHA É DE CENTRO-ESQUERDA

    Gustavo von Krüger, 45, administrador de empresas, de Belo Horizonte (MG)

    Passei a comprar regularmente a Folha quando peguei o resultado da Fuvest, em 1988. Eu gostava muito do jornal naquela época por ter uma diversidade de opiniões que estimulava o debate.

    Enviar os comentários foi um hábito que adquiri depois, a partir de 2000, quando passei a lê-la frequentemente pela internet. Comento artigos ou colunas que mexem com a minha opinião. Quando acho que o comentário é mais elaborado, envio ao Painel do Leitor.

    A Folha me passa a impressão de sempre tentar ser imparcial sendo parcial com todo mundo. Dependendo da situação, vejo que o jornal toma parte de um envolvido.

    Não digo que seja um alinhamento ideológico com algum grupo político —sei que há alguns temas que a Folha defende mais e que o Conselho Editorial do jornal é integrado, em sua maioria, por colunistas alinhados com o governo federal.

    A Folha é de centro-esquerda. E ainda que o jornal faça críticas contra integrantes de legendas de esquerda mais evidentes, como o PT e o PSDB, a instituição do partido é preservada.

    A condescendência que a Folha tem em relação aos governos do PT, por exemplo, acho exagerada.

    Agora, não necessariamente preciso concordar com tudo que um jornal diz. A Folha tem uma vantagem: ela te dá liberdade para tirar conclusões a partir de dados. Não quero um jornal para falar tudo o que quero escutar. É sempre bom saber o que pessoas com opiniões diferentes estão pensando.

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    UM CANAL PARA PROTESTAR

    Silvia Takeshita de Toledo, 68, advogada, de São Paulo (SP)

    Fabio Braga/Folhapress
    A advogada Silvia Takeshita de Toledo, 68
    A advogada Silvia Takeshita de Toledo, 68

    Assinei a Folha em 1971, quando me casei, e sempre escrevi muito para o jornal, tanto para a seção Painel do Leitor como para A Cidade é Sua —já fiz muitas reivindicações nesta última.

    Mesmo quando a minha carta não foi publicada no jornal, na maioria das vezes tive o meu problema resolvido. Por isso, acho que a Folha presta um serviço muito importante para o cidadão.

    A minha irmã também assina o jornal, em Brasília. Às vezes, ela se revolta com algum assunto, e eu pergunto: "Por que você não escreve para o jornal para reclamar?".

    O brasileiro geralmente tem uma certa preguiça de escrever, de reivindicar os seus direitos. Acho que isso acontece por estarmos vivendo em uma era digital.

    Não lembro o que me fez escrever pela primeira vez, já faz muitos anos. Mas, quando quero me manifestar sobre algum assunto, eu escrevo mesmo.

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    DE FILHO PARA PAI

    Lucas Righetti, 24, analista de sistemas, de Severínia (SP)

    Pierre Duarte /Folhapress
    Lucas Righetti, 24
    Lucas Righetti, 24

    Geralmente, o filho herda a preferência por um jornal dos pais. Aqui em casa foi o contrário: eu comecei a ler a Folha e só depois meus pais passaram a fazer o mesmo.

    Leio a versão eletrônica no notebook e no celular.

    O assunto que mais me interessa é política, e gosto do enfoque dado pelo jornal à Operação Lava Jato.

    Além de "Poder", também leio bastante os cadernos de economia e de esporte.

    A Folha é um jornal de bastante credibilidade e é por meio do qual me informo sobre o que está acontecendo no Brasil e no mundo. Gosto muito de conversar sobre esses assuntos atuais.

    Meus amigos costumam buscar informação mais pela televisão. Como eu sempre gostei muito de ler —seja revista, livro ou jornal—, acho natural que eu tenha essa proximidade maior com a mídia impressa.

    Acho que a cobertura da Folha dos casos de corrupção é muito boa e não consigo encontrar uma área do jornal para criticar.

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    DE PAI PARA FILHO

    Rodrigo Blas, 24, administrador, de São Paulo (SP)

    Marcus Leoni - 19.fev.2016/Folhapress
    Rodrigo Blas, 24
    Rodrigo Blas, 24

    A minha geração não se liga muito em notícia. Tenho amigos que consideram o jornal coisa do passado, eles preferem uma coisa mais rápida e mastigada na internet.

    O meu pai é assinante da Folha há muito tempo. Por isso, o jornal estava sempre em casa. Assim, passei a ter o hábito de lê-lo.

    Quando não consigo ler o jornal do dia, vou juntando os exemplares por cinco, dez dias. Dizem que jornal velho não tem utilidade. Discordo. Outro dia mesmo eu estava lendo coisas de dez dias antes a respeito do embate entre os motoristas de táxi e do aplicativo Uber.

    Política é o assunto com o qual mais me identifico. Gosto de ler "Opinião", Tendências / Debates e o Painel do Leitor para ver os comentários de outros leitores. Também gosto de manifestar minha opinião, mas me policio. Procuro escrever sobre assuntos pontuais para não parecer muito pedante.

    O meu pai costuma ler mais colunistas espalhados nos cadernos do que eu. Ele gosta do Clóvis Rossi, do Elio Gaspari e da ombudsman, Vera Guimarães.

    Não sou tão de ler as colunas, a não ser as da páginas A2. Eu me ligo mais em textos jornalísticos.

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