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    Lava Jato

    Vizinhos comemoraram chegada da PF à casa de Lula, feita antes das 6h

    BRUNO FÁVERO
    RENAN MARRA
    DE SÃO PAULO

    05/03/2016 02h00

    Às 5h15, quando a Folha chegou ao endereço em que Lula mora, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, a rua estava tranquila. No começo de manhã ainda fazia frio, e a reportagem esperava por sinais de alguma movimentação estranha dentro de um carro estacionado do outro lado da rua.

    Por 25 minutos, não houve sinais de que algo iria acontecer: nada de carros de polícia, sirenes ou agentes. As operações da Polícia Federal costumam ser executadas muito cedo.

    Então, às 5h40, um utilitário preto sem marcas distintivas estacionou em frente ao prédio e permaneceu de portas fechadas. Após alguns minutos, três homens à paisana saíram do veículo, olharam para os lados e sacaram do bolso o que se assemelhavam a distintivos, pregados no peito.

    Parecia a Polícia Federal.

    A reportagem da Folha, única a estar no local naquele horário, saiu do carro em que aguardava e tentou se aproximar do prédio para confirmar que se tratava de uma operação da PF.

    "Fiquem do outro lado da rua. Agora aqui é uma área de segurança", disse um dos homens à reportagem. Logo chegaram mais veículos.

    Foi o zoom das câmeras dos fotógrafos Zanone Fraissat e Avener Prado que ajudou a confirmar de longe que se tratavam de agentes federais.

    Ao mesmo tempo, em Moema, na zona sul de São Paulo, dois carros da PF e um da Receita Federal chegavam ao prédio de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho mais velho do ex-presidente.

    Sem falar com a Folha, os agentes foram discretos. Logo entraram na garagem do edifício, despertando pouca atenção das pessoas que passavam pelo local.

    Já em frente à casa de Lula, a presença de quatro utilitários pretos na rua chamou a atenção de moradores e transeuntes. A maioria só olhou com curiosidade, mas alguns mostraram contentamento. Um vizinho que não quis se identificar perguntou se os agentes estavam lá para buscar Lula, torcendo para que seja preso.

    A principal questão passava a ser então descobrir do que se tratava a operação: Lula estava em casa? Se sim, seria levado a depor ou até preso?

    Ou só haveria busca? Os agentes ignoraram as perguntas da reportagem. "Eles [os agentes] não falaram o que vieram fazer nem em que apartamento iriam, só entraram", disse o porteiro.

    Na casa de Lulinha, moradores que deixavam o prédio eram vistos cochichando sobre a ação que acontecia. Segundo testemunhas, a movimentação dos policiais era intensa no interior do prédio.

    "Todo mundo queria saber onde o Lulinha estava e o que estava acontecendo", disse o professor de educação física Leonardo Barbosa, que trabalha no edifício.

    Não demorou muito para que os comentários tímidos se transformassem em festa para alguns. Do lado de fora, motoristas –inclusive vizinhos de Lulinha que saíam do edifício– passaram a fazer buzinaços.

    Alguns vibraram, outros agitaram a bandeira do Brasil e a maioria sorria, eventualmente com gritos de "pega ladrão", "safado" e "corrupto".

    Entre seus vizinhos, Lulinha é conhecido pelo fato de ser comunicativo e frequentador assíduo da academia.

    "Ele é sempre muito simpático. Já ouvi [o Lulinha] convidando outros moradores do prédio para passar o dia no sítio dele [em Atibaia]", disse Gabriel Campos, que frequenta a academia com o filho de Lula.

    Em Moema, os agentes da polícia e da Receita passaram pouco menos de três horas no local com documentação apreendida e saíram sem falar com a imprensa.

    Em São Bernardo, o portão da garagem pelo qual haviam entrado os carros das PF começou a abrir de novo, dessa vez para que saíssem.

    O filme dos vidros dos carros da PF impossibilitava ver quem estava dentro, mas os flashes das câmeras emitiram luz suficiente para revelar o interior dos carros. A melhor chance de saber se Lula estava deixando sua casa era tirar tantas fotografias quanto possível e torcer para que seu rosto aparecesse.

    Em um primeiro momento, a tentativa pareceu ter falhado –as fotos não mostravam claramente quem está no banco de trás. Em um olhar mais atento, porém, revelou-se uma fração de rosto que parece ser Lula.

    Às 6h30, a reportagem voltou ao carro e correu atrás da PF até Congonhas, onde o ex-presidente então deporia.

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    Editoria de Arte/Folhapress

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