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    o impeachment

    Remédio mudou minha assinatura, diz aliado de Cunha sobre fraude; perito rebate

    DÉBORA ÁLVARES
    RANIER BRAGON
    DE BRASÍLIA

    09/03/2016 17h11

    Pedro Ladeira - 3.nov.15/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 03-11-2015, 15h00: Reunião do Conselho de Ética e Decoro parlamentar da câmara dos deputados que deu início ao processo de quebra de decoro em desfavor do presidente da casa dep. Eduardo Cunha (PMDb-RJ). Sob a presidência do dep. Jose Carlos Araujo (PSD-BA), foi feito o sorteio manual de três deputados para a relatoria do processo, cabendo ao presidente escolher o nome dentre esses. Os nomes sorteados foram dos deputados Vinicius Gurgel (foto) (PR-AP), Fausto Pinato (PRB-SP) e Jose Geraldo (PT-PA). (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    Vinícius Gurgel (PR-AP) em reunião do Conselho de Ética sobre cassação de Cunha

    Ao afirmar a autenticidade de sua assinatura, o deputado Vinícius Gurgel (PR-AP) disse nesta quarta-feira (9) fazer uso de medicamentos controlados e que, combinados com bebidas alcoólicas, influenciaram na alteração da sua grafia.

    Como mostrou a Folha na edição de hoje, dois laudos grafotécnicos atestam que a assinatura do deputado na carta em que ele renuncia à vaga de titular do Conselho de Ética, na tentativa de enterrar o processo de cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é uma falsificação "grosseira" e "primária".

    "Eu assinei o documento. Eu considero que eu assinei. Não vou dizer que considero ou desconsidero o trabalho de cada um [peritos]. Pergunte para o médico se você tomar um remédio e beber no dia anterior se pode ficar com a assinatura comprometida. Infelizmente estamos entrando em campos pessoais aqui", afirmou Gurgel quando questionado por jornalistas.

    Peritos grafotécnicos consultados nesta quarta-feira (9) pela Folha rebateram a hipótese levantada pelo deputado e alegaram que a mistura de álcool e remédio produziria alterações diferentes das vistas na assinatura do documento, que, segundo eles, são típicas de uma tentativa de falsificação.

    "Os grafismos produzidos sob estados etílicos, ou, menos ainda, de ressaca, sofrem, além de alterações morfológicas acendradas, a incidência de tremores. Na falsificação em foco, resultante de imitação lenta (...) os traços evidenciam indecisões. E as indecisões são decorrentes do controle artificial, do refreamento dos impulsos naturais para permitir o registro fiel dos feitios da grafia imitada", diz o perito Celso del Picchia.

    Os peritos Orlando Garcia e Maria Regina Hellmeister, responsáveis pelos laudos publicados pela Folha na terça, produziram uma manifestação técnica sobre escritas em estado de embriaguez que assinala conclusões similares.

    CONFUSÃO

    Gurgel estava fora de Brasília na noite dos dias 1º e madrugada de 2 de março, quando o Conselho aprovou, com placar apertadíssimo –11 a 10– a continuidade do processo de cassação do presidente da Câmara, de quem o deputado é declaradamente aliado.

    Visivelmente irritado com as perguntas, o deputado chegou a se confundir sobre o dia em que deixou o documento assinado. Por vezes respondeu que havia sido na sexta-feira anterior à sessão, portanto, dia 26 de fevereiro. Em outras, falou em duas, ou até três semanas antes.

    Neste dia, o deputado do PT Assis Carvalho (PI), que ocupa a vaga de suplente do deputado por Amapá, passou a tarde votando requerimentos contra o peemedebista. A substituição, contudo, só chegou ao Conselho às 22h40.

    Gurgel também não soube explicar o fato de alguns parlamentares terem dito, durante a reunião em que ele não estava presente, que o documento com sua renúncia, assinado por ele, estava a caminho "de avião". "Não posso falar pelos outros, posso falar por mim. Já tinha deixado no meu gabinete".

    Ao se justificar aos demais conselheiros e outros parlamentares presentes na reunião do Conselho de Ética esta manhã, Gurgel disse que deixa diversas cartas de renúncia assinadas em seu gabinete como forma de garantir seu voto no colegiado em uma eventualidade como atraso de voo. O líder de seu partido, Maurício Quintela Lessa (AL), tomou por algumas horas seu lugar. Votou conforme sua vontade, a favor de Cunha. No dia seguinte, às 9h18, o posto foi devolvido a Gurgel.

    Depois de falar publicamente, o deputado conversou com todos os membros da comissão e fez sua defesa para cada um deles. A alguns, chegou a mostrar o telefone de seu psiquiatra e dizer que poderiam ligar para ele e atestar o tratamento pelo qual ele passa.

    REPERCUSSÃO

    O Facebook do deputado está movimentado desde cedo com comentários de seguidores. Muitos se manifestaram a respeito da afirmação do deputado em defesa de Cunha, mas muitos se mostraram indignados com o fato de Gurgel ter chamado os eleitores de "burros".

    "A minha convicção é de não cassar colegas, assim como o impeachment da Dilma. O povo não elegeu? Burro de quem elege", afirmou Gurgel à Folha.

    "Para mim a afirmação basta. Que nunca mais ocupe um cargo público", afirmou um dos seguidores.

    Outros apelaram para xingamentos, mas também houve quem preferisse a ironia: "Aeeee Deputado. Parabéns. Estamos orgulhosos de você. Não esquece o remedinho e o wisk heim [sic]. Aproveita que a grana ai tá boa e seu salário está em dia. Manda um abraço para o Cunha. Vocês estão certos. Errados estamos nós por colocarem vocês aí. O nome de vocês estará marcado para sempre nesse circo".

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