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    Lava Jato

    Lula diz que nunca pediu doações de empresas para não ficar 'vulnerável'

    GRACILIANO ROCHA
    WESLEY KLIMPEL
    DE SÃO PAULO

    14/03/2016 12h30

    No depoimento que deu à Polícia Federal na ocasião da deflagração da fase Aletheia Operação da Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que tomou a decisão de jamais pedir doações de empresas para o instituto que leva seu nome para não ficar em uma posição de vulnerabilidade política. Trata-se de uma regra que ele impôs a si mesmo desde que era sindicalista nos anos 1970.

    "Não faz parte da minha vida política, ou seja, eu desde que estava no sindicato eu tomei uma decisão: eu não posso pedir nada a ninguém porque eu ficaria vulnerável diante das pessoas", disse Lula, no depoimento prestado no aeroporto de Congonhas, na manhã de 4 de março, após o juiz Sergio Moro autorizar sua condução coercitiva pela Polícia Federal.

    Segundo o ex-presidente, a missão de captar recursos cabia à direção da instituição e não a ele, que tem o cargo de presidente de honra –algo que seria, de acordo com ele, mais honorífico do que de envolvimento operacional nas tarefas da entidade.

    Um dos focos da investigação sobre o ex-presidente, são as doações para o Instituto Lula. Desde que o petista deixou o Planalto, a entidade recebeu ao menos R$ 35 milhões em doações. Deste valor, Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e UTC –todas empreiteiras suspeitas de integrar o esquema de corrupção na Petrobras– bancaram R$ 20,7 milhões.

    No despacho em que autorizou a condução coercitiva de Lula, o juiz Sergio Moro cravou que as doação não são necessariamente ilícitas, mas a "generosidade das empresas" autoriza o aprofundamento das investigações.

    O delegado Luciano Flores perguntou se as empresas procuravam espontaneamente o Instituto Lula para oferecer doações –o que irritou o ex-presidente.

    "Não. Aliás, eu não conheço ninguém que procura ninguém espontaneamente para dar dinheiro, nem o dízimo da igreja é espontâneo, se o padre ou o pastor não pedir, meu caro, o cristão vai embora, vira as costas e não dá o dinheiro, então dinheiro você tem que pedir, você tem que convencer as pessoas do projeto que você vai fazer, das coisas que você vai fazer", disse Lula.

    Lula citou que a captação de recursos do Instituto Lula funciona em moldes idênticos aos das entidades ligadas a ex-chefes de Estado e personalidades internacionais: "isso funciona como qualquer instituto, do Fernando Henrique Cardoso, do Sarney, do Bill Gates, do Bill Clinton, do Kofi Annan."

    "Lamentavelmente, no Brasil ainda não é uma coisa normal, mas no mundo desenvolvido isso já é uma coisa normal, ou seja, não é nem vergonha, nem crime, alguém dar dinheiro para uma fundação, aqui no Brasil a mediocridade ainda transforma tudo em coisas equivocadas", criticou o ex-presidente.

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