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    Prefeito do Rio pede desculpas por ter chamado Maricá 'uma merda de lugar'

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    17/03/2016 12h15

    O prefeito do Rio, Eduardo Paes, pediu desculpas à população pelos termos usados em conversa por telefone que teve com o ex-presidente Lula, que foi tornada pública no âmbito da Lava Jato na última quarta-feira (16).

    O prefeito convocou uma coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (17) para pedir desculpas por ter dito, entre outras coisas, que Lula tinha "alma de pobre" por supostamente ter um sítio em Atibaia (SP), que a cidade de Maricá é uma "merda de lugar", que a presidente Dilma e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), são mal humorados e que este último tem "uma mão gorda".

    Paes disse que a conversa foi feita em caráter privado, em tom de brincadeira e como uma gentileza a Lula.

    Ricardo Borges - 5.jan.2016/Folhapress
    O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes
    O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes

    O telefonema foi feito em solidariedade ao ex-presidente, dias depois de Lula ter sido conduzido coercitivamente para prestar depoimento na Lava Jato, no último dia 4.

    Paes considerou que suas palavras foram de "profundo mau gosto" e disse que teceu "comentários que não fazem parte de sua personalidade". O prefeito afirmou que suas declarações lhe geram "arrependimento", "vergonha" e "constrangimento".

    Paes justificou sua retórica ao seu jeito "carioca em excesso" e afirmou que isso faz com que ele não seja considerado a "a maior alegria dos assessores de imprensa".

    "Eu tento aqui minimamente contextualizar a conversa. Eu tentei ser gentil com um homem que como presidente da república ajudou muito essa cidade, ajudou muito o Rio de Janeiro e o meu governo", disse.

    "Pelas dificuldades por que passam o presidente Lula eu entendi que em determinado momento era adequado eu ligar para ele e ser gentil com ele".

    "O fato é que essa tentativa sem dúvida me levou a brincadeiras de profundo mau gosto. Não passavam de brincadeiras, mas admito que de profundo mau gosto, tecendo comentários que sem dúvida nenhuma não fazem parte da minha personalidade, mas que me geram arrependimento, vergonha", disse a jornalistas.

    Paes se desculpou com a população da cidade do Rio e também de Maricá pelas palavras.

    O prefeito, contudo, não pediu desculpas nominalmente a Dilma e Pezão, que está internado com quadro infeccioso no Rio.

    "O objetivo aqui é um só: é me desculpar com a população da minha cidade, com as pessoas que se sentiram ofendidas com isso."

    "Acho que as pessoas têm toda a razão [de se sentirem ofendidas]. É uma brincadeira de muito mau gosto, especialmente com a população de Maricá."

    O prefeito trocou mensagens com Washington Quaquá (PT), prefeito de Maricá, em que se desculpou pelo ocorrido. Paes não considerou ser necessário um telefonema a Pezão.

    Ele disse no áudio gravado que é difícil tocar as Olimpíadas e segurar "o bom humor de Dilma e do Pezão", a quem acusou de ter "mão gorda".

    "Eu tenho que ser sincero, eles têm um pouco mais de mau humor", disse durante entrevista.

    Paes chega a dizer que está sofrendo por ter que governar em parceria com Dilma e Pezão e da a entender que a relação com seus respectivos antecessores –Lula e Sérgio Cabral [ex-governador do Rio]– era melhor.

    "A minha vida começou com Lula e Cabral e terminou com Dilma e Pezão. Puta que me pariu!", diz Paes ao ex-presidente.

    Paes disse que a declaração foi feita com intuito de "relaxar o ambiente" com Lula.

    O prefeito afirmou que naquele momento queria expressar que achou que a condução coercitiva foi um exagero.

    Foi a terceira vez que o nome de Paes integra gravações da Lava Jato. Na primeira, seu nome foi citado pelo senador Delcídio do Amaral (ex-PT MS) em conversa gravada pelo filho de Nestor Cerveró.

    O parlamentar, que viria a ser preso por tentar obstruir a Lava Jato, cota na conversa que Paes e o senador Romário teriam fechado acordo para o apoio do ex-jogador ao pré candidato e secretário de Paes, Pedro Paulo.

    Na delação de Delcídio, Paes é citado quando atuou como deputado federal do DEM como relator da CPI dos Correios. Ele teria, segundo a delação, aceitado pedido de ajuda de Aécio Neves para beneficiar parlamentares do PSDB.

    Na conversa com Lula, Paes expressa preocupação de cair em grampo da PF e ser mal interpretado.

    "Essas empresas [da Lava Jato] fazem obras na Prefeitura do Rio. Você vai conversar com os empresários. Tem que ter muita tranquilidade. Tudo o que você fala pode estar vazando por aí", afirmou.

    SÍTIO

    Na conversa, Paes diz a Lula que o ex-presidente tem "alma de pobre" por ter "sitiozinho vagabundo" e "barquinho de merda" em Atibaia.

    A declaração deu indícios à PF de que o sítio mantido e reformado por empreiteiras poderia ser do ex-presidente.

    Paes, no entanto, disse não ter qualquer informação que prove que o sítio é do ex-presidente. Disse que o que sabe sobre o assunto é o que sai publicado nos jornais. Ele reafirmou que tudo não passava de brincadeira.

    "Não sei de absolutamente nada [sobre o sítio]", disse.

    POBRES

    Questionado se os comentarios sobre pobres revelavam traços preconceituosos de seu caráter, o prefeito lembrou que teve votação expressiva nas áreas pobres do Rio e que as principais obrasda cidade são em locais menos favorecidos.

    "A minha prática mostra que eu não sou uma pessoa preconceituosa e isso não condiz com a realidade", disse.

    Escute o diálogo:

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