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    análise

    Sem alternativa, Dilma dobra a aposta

    IGOR GIELOW
    DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

    17/03/2016 12h27

    Com um raro discurso articulado, a presidente Dilma Rousseff deixou clara a intenção de dobrar a aposta contra o que chama de "golpe" contra seu mandato.

    Não só deu posse na Casa Civil a Luiz Inácio Lula da Silva, flagrado em movimentação para tentar influenciar o desfecho de apurações contra si, como chamou o juiz Sergio Moro para a batalha jurídica.

    Foi o que restou, ainda que o estado de sítio político sob o qual vive já impeça de saída a execução do plano de ter Lula como detentor do poder real no Planalto como forma de livrar Dilma do impeachment e reformular o governo.

    O fato de um outro juiz federal, este de Brasília, ter quase que imediatamente concedido decisão temporária suspendendo a posse de Lula apenas mostra que a aposta de confronto com o Judiciário não será pacífica.

    No que tange à conversa polêmica com Lula da tarde de quarta (16), Dilma aferrou-se à história já divulgada de que tratava de uma mera formalidade burocrática. Neste caso, a tendência acabará sendo a de uma guerra de versões, uma vez que do ponto de vista probatório não parece haver muito espaço para contraditório.

    Mas o mais importante do evento da posse dos novos ministros, Lula ao centro, foi a disposição aberta de Dilma em tentar qualificar Moro como o inimigo a combater, usando palavras fortes associando atos jurídicos a golpe de Estado. Há a promessa de dedicação do novo ministro da Justiça e do advogado-geral da União para contestar os passos do juiz.

    Uma coisa é contestar circunstâncias que, do ponto de vista judicial, parecem estranhas e politizadas na decisão do juiz do Paraná de levantar o sigilo numa espécie de corrida com o Planalto –se Lula fosse ministro, o caso "subiria" para o Supremo Tribunal Federal com os áudios ocultos. Outra é declarar guerra contra um representante de outro Poder que, por acaso, é popularíssimo.

    A mídia também foi alvo de ataques, e o Palácio do Planalto viveu seu dia de plenária do PT, com um "hit" esquerdista dos anos 80 berrado pela claque: "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo". É significativo dos novos tempos no que sobrou do governo, dado que Dilma sempre foi cordata no trato com a imprensa e se manifestou reiteradamente em favor da liberdade de expressão, ao contrário de Lula.

    Vai dar certo? A pressão que se vê de forma espontânea nas ruas, e o apoio maciço a Moro registrado no megaprotesto de domingo passado (13), sugerem que será difícil.

    A ausência do vice Michel Temer e de caciques do PMDB na posse de Lula foi eloquente: os parlamentares que começarão a analisar o impeachment de Dilma são muito mais sensíveis à rua do que às claques trancadas sob proteção policial no Planalto.

    O perigo é a natureza da volatilidade da situação, na qual a presidente não consegue dar posse a um ministro sem precisar de reforço de segurança. Diferentemente de grandes atos até aqui, nos quais há só uma força representada e aparato policial à altura, e sim estão pipocando protestos de forma espontânea.

    Em Brasília nesta quinta (17), os números eram menores do que na noite anterior e ainda assim há risco de confronto com a militância petista que chegou cedo à praça dos Três Poderes. Nesta sexta (18) estão previstos protestos em favor do governo –paradoxalmente, quem tem mais a perder com eventuais conflitos.

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