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    Polícia apura elo de ex-governador de MT com extorsão de jornalistas

    MARCELO TOLEDO
    DE RIBEIRÃO PRETO

    22/03/2016 17h36

    Pedro Ladeira - 24.out.2013/Folhapress
    O ex-governador do MT Silval Barbosa (PMDB) fala no Congresso em 2013
    O ex-governador do MT Silval Barbosa (PMDB) fala no Congresso em 2013

    Preso desde setembro, o ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB) teve seu nome envolvido na operação Liberdade de Extorsão, que levou quatro jornalistas do Estado à prisão.

    Inquérito concluído nesta segunda (22) pela Polícia Civil indiciou quatro jornalistas sob as acusações de extorsão, violação de sigilo funcional e de integrar uma organização criminosa.

    Os indiciados são Antônio Carlos Milas de Oliveira, dono do "Centro-Oeste Popular", seus filhos Max –dono do "Notícias Max"– e Maycon e o editor-chefe Naedson Martins da Silva, do "Brasil Notícias", com sede em Brasília. Os veículos integram o Grupo Milas Comunicação.

    Eles são acusados, segundo a polícia, de pedir de R$ 100 mil a R$ 300 mil a políticos e empresários para não divulgar notícias de supostas irregularidades em contratos.

    Foram identificadas, conforme o delegado Anderson Veiga, oito vítimas –quatro das quais surgiram após a prisão preventiva dos indiciados, no dia 12.

    Uma das vítimas é o ex-secretário da Casa Civil Pedro Nadaf, detido na mesma operação que levou Barbosa à prisão.

    "Perguntei a ele por que foram feitos os pagamentos de R$ 40 mil e dois de R$ 30 mil. Ele falou 'Olha, eu não vou segurar mais rojão de ninguém, foi o chefe que mandou eu passar esses cheques para eles'. 'Que chefe?', perguntei, e ele disse que era o [ex-]governador do Estado."

    Veiga disse que quer ouvir Barbosa na próxima fase das investigações. Os cheques repassados foram pegos numa factoring (empresa que antecipa pagamentos de duplicatas e promissórias). "Acredita-se que tenha sido para pagamento de extorsão, mas isso só vai ser esclarecido depois de algumas pessoas serem ouvidas."

    A polícia acredita que o grupo agia havia cerca de dez anos. Nos seis meses de investigação, o montante envolvido ultrapassa R$ 1 milhão, mas a polícia crê que o valor seja superior. "Não é fácil alguém ser extorquido e confessar."

    A polícia pediu a quebra dos sigilos bancários dos jornalistas e das empresas. Uma segunda fase da apuração vai analisar documentos, computadores e celulares apreendidos.

    Em depoimento, os acusados não confessaram as extorsões, mas, segundo Veiga, afirmaram acessar bases governamentais, como do ISS (Imposto Sobre Serviços) –o que caracteriza violação de sigilo, disse o delegado. Assim, estimavam as movimentações financeiras das empresas.

    Outras duas pessoas presas temporariamente foram liberadas após prestarem depoimento.

    Barbosa foi preso suspeito de praticar crimes de concussão (funcionário público usa o cargo para requerer vantagem indevida) e lavagem de dinheiro. Conseguiu habeas corpus no STF (Supremo Tribunal Federal), mas segue preso devido a outra operação, que apura a compra de uma área que teria causado R$ 7 milhões de prejuízo ao Estado.

    O TJ de Mato Grosso deve votar nesta quarta (23) pedido de habeas corpus.

    OUTRO LADO

    Advogado do ex-governador, Ulisses Rabaneda dos Santos disse saber do depoimento do ex-secretário, mas não do teor.

    "Se ele colocou que o fazia em nome do ex-governador, cabe ao governador esclarecer se for chamado. Desconheço a investigação."

    Nota publicada no site do "Centro-Oeste Popular" diz que as acusações a seus diretores e funcionários serão esclarecidas e que os veículos do grupo "sempre se pautaram pela verdade".

    "Tem como linha editorial o jornalismo investigativo, o que tem incomodado poderosos do Estado e refletindo constantes ameaças e intimações", diz trecho.

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