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    Lava Jato

    Análise

    Odebrecht se orgulha de operar como uma grande família

    DAVID FRIEDLANDER
    DE SÃO PAULO

    23/03/2016 02h00

    A delação da secretária Maria Lúcia Tavares, que levou à prisão de 12 pessoas nesta terça (22), rachou o pacto de lealdade e silêncio da grande família Odebrecht.

    Se a tal delação premiada dos executivos da empresa for para valer, será uma reviravolta na investigação. Maior empreiteira do país, a Odebrecht é a que possui os laços mais estreitos com governos e políticos –que correm o risco de ser demolidos com suas confissões.

    Até agora, enquanto as demais empreiteiras abriram o bico uma a uma, a Odebrecht tinha ficado firme na alegação de inocência, apesar da enorme pressão que sofreu.

    A primeira colaboração demorou tanto, em grande parte, em razão da cultura da organização. Apesar de ser um dos cinco maiores grupos empresariais do país, a Odebrecht sempre se orgulhou de funcionar como uma família.

    Nessa organização, lealdade está acima de qualquer qualidade, funcionários de confiança trazem amigos e parentes para fazer carreira lá dentro e os principais executivos dificilmente trocam de emprego.

    Anos atrás, Marcelo Odebrecht disse numa entrevista: "A família Odebrecht é muito mais expandida do que aqueles que carregam o nome Odebrecht. São filhos e netos que trabalharam com meu avô e meu pai".

    Essa filosofia construiu um grupo empresarial poderoso, que hoje fatura mais de R$ 100 bilhões em 28 países.

    Mas essa trajetória parece não ter sido inteiramente bonita. Se as novas delações confirmarem as suspeitas, a empresa escondia no seu aconchego um grande esquema em que a corrupção funcionava como ferramenta de trabalho.

    A maioria absoluta dos 128 mil funcionários do grupo não devia saber disso. Mas os executivos que conheciam a engrenagem e agora aceitam contar seus segredos podem fazer um estrago tremendo.

    Há muito tempo o empresariado se pergunta até que ponto a Odebrecht, que carrega uma dívida de quase R$ 100 bilhões em meio à recessão, conseguirá aguentar. Se os credores perderem a confiança e decidirem fugir de suas várias empresas, elas podem quebrar.

    Há ainda outra pergunta delicada na praça: o que a organização poderia contar a respeito do ex-presidente Lula, contratado para fazer lobby pela empresa na África e na América Latina?

    Outro dia, após mais uma operação de busca e apreensão na sede da empresa, em São Paulo, um funcionário graduado dizia: "Os concorrentes já contaram quase tudo. Para nós, vai sobrar a pior parte". Parece que já sobrou.

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