Como se a crise brasileira já não fosse tremenda, eis que surge a delação premiada de Marcelo Odebrecht e de toda a sua turma –o que se pode chamar, com toda a propriedade, de "a delação do fim do mundo".

Afinal, a nota oficial em que a Odebrecht anuncia o que chama de "cooperação definitiva" com a Lava Jato já traz uma confissão terminante, a de que os fatos apurados na operação "revelam na verdade a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral do país".

Se é assim e se os investigadores da Lava Jato já descobriram um departamento da empresa especializado em financiamento eleitoral, o lógico é esperar que os executivos exponham à luz do dia todo o sistema "ilegal e ilegítimo".

Eles, como é óbvio, conhecem todos os detalhes.

Como todos os grandes partidos políticos são parte do sistema, é inevitável que não sobre pedra sobre pedra do conjunto todo.

O efeito será certamente devastador para o governo Dilma Rousseff, dada a promiscuidade já revelada entre seu padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva, e a empresa agora arrependida.

O problema é que os parlamentares incumbidos de julgar o governo, no processo de impeachment, também tendem a ser atingidos –o que de fato configura um cenário de fim de mundo.

De todo modo, a Lava Jato está desde já plenamente justificada, na medida em que a nota da Odebrecht promete "adotar novas práticas de relacionamento com a esfera pública".

É a confiança de um modelo promíscuo e pouco republicano.

E é, por fim, a versão brasileira da "Mãos Limpas" italiana. Resta esperar que, como ocorreu na Itália, se desfaça um sistema partidário "ilegal e ilegítimo".