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    o impeachment

    Itamaraty pune diplomata por enviar circulares alertando sobre 'golpe'

    ISABEL FLECK
    DE BRASÍLIA

    23/03/2016 14h38

    Um diplomata que enviou três circulares telegráficas a todas as embaixadas e representações do Brasil no exterior na última sexta (18) com mensagens alertando sobre uma tentativa de golpe contra a presidente Dilma Rousseff foi advertido pelo Itamaraty e perdeu o direito de emitir qualquer circular ou telegrama.

    O ministro Milton Rondó Filho, chefe da Coordenação-Geral de Cooperação Humanitária e Combate à Fome do Itamaraty, emitiu duas das circulares com mensagens de organizações não governamentais na manhã de sexta com o assunto "Diálogo com a sociedade civil". A informação foi divulgada na manhã desta quarta pelo jornal "O Globo".

    Na primeira circular, Rondó pede aos responsáveis pelos postos que "designem servidor –se possível diplomático– e informem o nome e demais dados relevantes" à secretaria de Estado, em Brasília, "para que se possa adequadamente apoiar o diálogo" entre o Itamaraty, a sociedade civil brasileira e a sociedade civil dos demais países.

    O diplomata segue com as ordens: "Uma primeira ação será a retransmissão ao(s) posto(s) interessado(s) de documentos eventualmente recebidos diretamente pela SERE [Secretaria de Estado de Relações Exteriores] da sociedade civil internacional. Após o recebimento da retransmissão, caberá ao posto contatar a ONG ou o movimento social em apreço e informar o recebimento da comunicação".

    Na sequência das mensagens, o secretário-geral do ministério, Sérgio Danese, enviou também uma circular para todos os postos desautorizando seu conteúdo.

    "Dou instruções. Rogo desconsiderar e tornar sem efeito as circulares telegráficas 100752 e 100755", diz o texto, em referência às mensagens enviadas por Rondó.

    Depois da circular de Danese, Rondó ainda expediu uma outra mensagem, com uma "Carta aos Movimentos Sociais da América Latina", que teria sido recebida de sindicatos e movimentos sociais brasileiros.

    Segundo a Folha apurou, o Itamaraty considera que a mensagem do embaixador Danese junto o fato de o diplomata ter sido "admoestado" e perdido o direito de enviar telegramas e circulares já serviu para anular o efeito das mensagens e como alerta para evitar um novo episódio de circulares com conteúdo político no serviço interno.

    Geralmente, chefes de divisão e de departamento do ministério têm autorização para enviar esse tipo de mensagem, mas é de praxe que, antes do envio de telegramas e circulares com conteúdo mais sensível, haja uma consulta a superiores imediatos. No caso de Rondó, seria o próprio secretário-geral –o que não foi feito.

    Segundo a Folha apurou, a iniciativa de enviar as mensagens foi do próprio diplomata, que considerou estar entre as suas atribuições a retransmissão de comunicados de grupos da sociedade civil –apesar das supostas orientações a outros diplomatas e de seu conteúdo explicitamente político.

    "A Coordenação-Geral de Ações de Cooperação Humanitária e Combate à Fome (CGFOME) também tem por mandato o diálogo com a sociedade civil, na SERE", diz Rondó em sua primeira circular.

    'TENTATIVA DE GOLPE'
    Um dos comunicados de organizações retransmitidos pelo diplomata inicia clamando por "resistência democrática", "conclama a sociedade para a luta conjunta pela democracia" e termina com "Não ao Golpe! Nossa luta continua!"

    "Embora profundamente crítica aos rumos que o governo Dilma tem escolhido, a Abong não pode compactuar com a tentativa de golpe, materializado pela ameaça de destituição de uma presidenta legitimamente eleita", diz a nota da Abong (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais), que reúne 250 organizações da sociedade civil.

    A nota critica ainda "o fato de segmentos sem voto e, portanto, sem controle popular, como setores do sistema judiciário, dos meios de comunicação social e dos aparatos policiais, assumirem postura de partidos políticos, tentando sequestrar a frágil e recente democracia brasileira".

    Em outro comunicado, em espanhol, a "Carta aos Movimentos Sociais da América Latina", 14 organizações, entre elas CUT, MST e Centro de Direitos Humanos e CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), denunciam o "processo reacionário em curso no país contra o Estado Democrático de Direito".

    "Desde que a Presidente Dilma foi eleita democraticamente pelo povo brasileiro, em outubro de 2014, a oposição de direita não se conformou com os resultados das urnas junto aos monopólios de comunicação e setores do Judiciário, Ministério Público, e da Polícia Federal e com o apoio de grandes grupos de empresários, começou uma operação ininterrupta com o objetivo de derrubar a presidente, criminalizar os movimentos sociais e partidos progressistas e destruir a maior líder popular do país e o ex-presidente Lula", diz o texto.

    A carta diz ainda que a ação da polícia, no dia 12 de março, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos em Diadema, e as manifestações "golpistas" do dia 13 mostram o "agravamento da situação".

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