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    Polícia ouve presos durante operação contra a máfia da merenda

    MARCELO TOLEDO
    DE RIBEIRÃO PRETO

    30/03/2016 19h14

    Os depoimentos dos sete presos na segunda fase da operação Alba Branca devem prosseguir até esta sexta-feira (1º) em Bebedouro (a 381 km de São Paulo), que concentra as investigações das fraudes na merenda escolar em São Paulo.

    Também estão sendo analisados os documentos apreendidos durante as prisões. Os sete são suspeitos de formação de organização criminosa, fraudes em procedimentos públicos, falsidades ideológicas documentais, corrupções passiva e ativa e peculato.

    Entre os detidos está Leonel Julio, ex-presidente da Assembleia Legislativa. A força-tarefa que apura o caso aguarda a apresentação de Marcel Ferreira Julio, filho do ex-deputado, apontado como lobista do esquema e elo da Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar) com a Assembleia e o governo de Geraldo Alckmin (PSDB).

    Ele está foragido desde 19 de janeiro. O advogado Pedro Menin disse que negociava a apresentação de Marcel, mas as prisões desta terça-feira adiaram a decisão.

    Segundo membros da operação, ao menos R$ 700 mil foram desviados entre 2013 e 2015 de 20 contratos efetivamente liquidados entre a Coaf e prefeituras, mas o montante pode chegar a R$ 2 milhões. As propinas variavam de 5% a 30% sobre os valores dos contratos.

    Para o Ministério Público, a apresentação de Marcel é essencial, já que ele é tido como peça-chave do esquema.

    As provas foram obtidas, segundo o Ministério Público, por meio de interceptações telefônicas, análise de documentos apreendidos na primeira fase e depoimentos.

    Todos os presos receberão proposta de delação premiada, segundo o delegado seccional de Bebedouro, José Eduardo Vasconcelos.

    Divulgação/Alesp
    Leonel Júlio (segundo da direita pra esquerda) foi preso pela Polícia Civil
    Leonel Júlio (segundo da direita pra esquerda) foi preso pela Polícia Civil

    DESCOBERTA

    Nesta quarta-feira (30), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que foi o próprio Estado, por meio da Polícia Civil, que descobriu as fraudes cometidas em contratos de merenda do governo e ao menos 22 prefeituras.

    "Quem fez a investigação foi o governo do Estado, foi a Polícia Civil. Existe uma lei federal que diz que, do dinheiro que o governo federal passa para a merenda, 30% tem de comprar de agricultura familiar", afirmou o tucano em Araraquara (a 273 km de São Paulo), onde participou da inauguração de uma fábrica de trens e composições ferroviárias da Hyundai-Rotem Brasil.

    "O governo, em cinco anos, fez três chamadas [concorrências] para a agricultura familiar. Ganhou o menor preço e o produto foi entregue. O que se verificou é que dentro da tal da cooperativa Coaf eles faziam estelionato, porque o produto que eles entregavam não era da agricultura familiar", disse ele.

    Fraude da Merenda

    A OPERAÇÃO

    A primeira fase da Operação Alba Branca foi deflagrada em 19 de janeiro, em uma ação conjunta da Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo.

    Dirigentes da Coaf apontaram como beneficiários do esquema o presidente da Assembleia, Fernando Capez (PSDB), os deputados federais Baleia Rossi (PMDB) e Nelson Marquezelli (PTB) e o deputado estadual Luiz Carlos Godim (SD). Todos negam.

    De acordo com as investigações, o esquema era alimentado por um sobrepreço que variava de 10% a 30% de cada contrato de fornecimento de suco de laranja para a merenda escolar.

    O caso também lança suspeita sobre a Casa Civil, núcleo da articulação política do governo Geraldo Alckmin (PSDB), e a Secretaria de Estado da Educação.

    Um grampo da Polícia Civil, feito em 4 de dezembro, dia da demissão do ex-secretário de Educação, Herman Voorwald, revela que integrantes do esquema que fraudava merenda escolar em São Paulo ficaram preocupados com as mudanças na pasta.

    Eles foram avisados da queda de Voorwald pelo ex-chefe de gabinete da Casa Civil, Luiz Roberto dos Santos, o Moita, que também os instruiu sobre como aumentar os ganhos em um contrato vigente com o Estado desde março.

    Tal contrato, segundo confessaram dirigentes da Coaf à polícia e ao Ministério Público, já havia rendido propina de 10% a políticos. Pelos depoimentos, um dos beneficiados foi Capez.

    Feitas com autorização judicial, as interceptações, segundo o entendimento da polícia, revelam que a preocupação do grupo era agir rápido, diante da possibilidade de o chefe de gabinete de Voorwald, Fernando Padula, também sair da pasta.

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