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    Preso no caso da merenda cita assessor de Capez em depoimento à polícia

    MARCELO TOLEDO
    ENVIADO ESPECIAL A BEBEDOURO (SP)

    31/03/2016 20h59

    Um dos presos suspeitos de envolvimento na fraude de merenda escolar em São Paulo disse, em depoimento à polícia e aos promotores que apuram o caso, que a Coaf, cooperativa envolvida no esquema, emprestava um veículo para um ex-assessor do deputado Fernando Capez (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa.

    A afirmação foi feita pelo ex-vendedor da Coaf Luiz Carlos da Silva Santos, o Português, um dos sete presos na última terça-feira (29) na segunda etapa da operação Alba Branca.

    A Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar), com sede em Bebedouro, é apontada como responsável pelo esquema conhecido como máfia da merenda. A operação apura o pagamento de propina em contratos superfaturados de merenda escolar com o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) e municípios paulistas.

    Fraude da Merenda

    Segundo seu advogado, César Andrade Correia, no depoimento Santos disse que ele foi, a pedido, buscar em São Paulo um veículo emprestado pelo presidente da Coaf ao ex-assessor de Capez Jéter Rodrigues.

    "Ele havia ouvido, dentro da Coaf, que esse veículo estava emprestado para um assessor do Fernando Capez, o Jéter, para uso pessoal do Jéter. Ele só estava emprestado, porém não era mantido pela cooperativa. Devia ser mantido pelo próprio Jéter", disse o advogado.

    O ex-assessor admitiu à Folha, em janeiro, ter sido procurado pelo lobista Marcel Ferreira Julio para destravar contrato da Coaf com a Secretaria da Educação do governo Alckmin.

    Marcel é filho do ex-presidente da Assembleia Leonel Julio e estava foragido desde 19 de janeiro, mas se apresentou nesta quinta-feira (31) à Polícia Civil em Bebedouro (a 381 km de São Paulo). Jéter iniciou os trabalhos na Assembleia Legislativa em 1975, quando o ex-deputado Julio presidia a Casa.

    Leonel Julio e Santos foram dois dos sete presos na última terça-feira (29). O advogado disse ainda que Santos era funcionário da Coaf e, portanto, recebia ordens da cooperativa.

    "Sobre Fernando Capez, ele não pode afirmar nada, nem tem como afirmar nada, mesmo porque ele não teve contato algum com ele. Ele [Santos] acredita até que ele não tem envolvimento nenhum com isso, e sim os assessores."

    Santos, que teria feito negociações ilícitas com prefeituras, deixou a prisão nesta quinta-feira. Ele prestou depoimento na quarta e na quinta.

    Devido ao primeiro dia do depoimento, em que citou Capez, a Procuradoria-Geral de Justiça enviou dois representantes a Bebedouro para acompanhar as investigações. Um deles, Nelson Gonzaga de Oliveira, disse que não podia comentar o teor dos depoimentos.

    Além de Santos, também já foi colocado em liberdade Carlos Eduardo da Silva, que era sócio-diretor da cooperativa e funcionário da Casa da Agricultura de Monte Azul Paulista, ligada à Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento.

    A ele, conforme a Promotoria, cabia montar e aprovar a documentação para disputar as concorrências públicas. Eram usadas indevidamente 1.070 DAPs (Declarações de Aptidão ao Pronaf) de pequenos agricultores.

    ADIADO

    Marcel, tido como elo da Coaf com a Assembleia, o governo Alckmin e prefeituras, chegou à Seccional de Bebedouro às 16h05 desta quinta e não houve tempo hábil para prestar depoimento, o que ocorrerá nesta sexta-feira (1o). Ele passaria a noite em uma prisão da região.

    Ao chegar à polícia, disse ser inocente e que estava se apresentando por livre e espontânea vontade. "Não fechei nada com prefeitura nenhuma", disse.

    Dos sete presos na terça, três prestaram depoimento: os dois colocados em liberdade nesta quinta e o ex-presidente da Assembleia, que segue preso.

    O depoimento do ex-deputado durou cerca de quatro horas. Ele, apontado como lobista, negou envolvimento com o caso e disse não saber porque foi detido.

    Além de Marcel, ainda faltam os depoimentos de Émerson Girardi, ex-vendedor da Coaf, Aluizio Girardi Cardoso, Sebastião Misiara, presidente da Uvesp (União dos Vereadores de São Paulo), e Joaquim Geraldo Pereira da Silva, lobista suspeito de intermediar contratos e emitir por meio de sua empresa notas fiscais falsas.

    A previsão inicial da força-tarefa era concluir os depoimentos até esta sexta-feira, mas eles devem prosseguir na próxima semana. Todos foram presos temporariamente por cinco dias –a detenção pode ser prorrogada por igual período.

    Presos na 2ª fase da operação alba branca - A Justiça de Bebedouro (SP) emitiu na terça (29) 17 mandados de busca ou prisão de envolvidos no esquema

    máfia da merenda - Outros nomes citados na investigação

    DESVIOS

    Segundo membros da operação, ao menos R$ 700 mil foram desviados entre 2013 e 2015 de 20 contratos efetivamente liquidados entre a Coaf e prefeituras, mas o montante pode chegar a R$ 2 milhões. As propinas variavam de 5% a 30% sobre os valores dos contratos.

    As provas foram obtidas, segundo o Ministério Público, por meio de interceptações telefônicas, análise de documentos apreendidos na primeira fase e depoimentos.

    OUTRO LADO

    Jéter nega o envolvimento em irregularidades e, em entrevista à Folha quando citado na Alba Branca, disse que foi procurado por Marcel Julio e César Augusto Bertholino, funcionário da cooperativa, para pedir ajuda "em pendências que estavam tendo em uma licitação que haviam ganhado, mas que não estava sendo cumprida".

    "Eles queriam saber por qual motivo eles tinham ganhado a licitação, mas não estavam entregando os materiais que já deveriam estar entregando. Foi só por isso. Foi quando liguei na secretaria [da Educação] e me foi informado que aquele processo que eles haviam ganhado tinha sido cancelado e que em março de 2015 seria aberto um novo processo e que eles participariam novamente."

    Segundo ele, o surgimento do nome de Capez na Alba Branca tem motivações políticas.

    O presidente da Assembleia Legislativa, por sua vez, disse nesta semana repudiar com veemência a citação de seu nome na operação Alba Branca e afirmou que está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.

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