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    Empresário de Santo André diz que não sabia que dinheiro vinha do PT

    REYNALDO TUROLLO JR.
    GRACILIANO ROCHA
    DE SÃO PAULO

    04/04/2016 22h36

    Sergio Lima - 17.nov.2005/Folhapress
    ORG XMIT: 551501_1.tif Caso Celso Daniel: o empresário Ronan Maria Pinto durante depoimento na CPI dos Bingos, no Senado, em Brasília (DF). O empresário é acusado de envolvimento num esquema de cobrança de propina na gestão de o prefeito Celso Daniel (PT) em Santo André (SP), cujo dinheiro seria usado em campanhas do PT. (Brasília, DF, 17.11.2005. Sérgio Lima/Folhapress. Digital)
    O empresário e dono do 'Diário do Grande ABC', Ronan Maria Pinto, preso na sexta (1º) pela Lava Jato

    Preso temporariamente pela Operação Lava Jato, o empresário de Santo André (SP) Ronan Maria Pinto disse aos investigadores, nesta segunda (4), que jamais chantageou integrantes do PT para receber dinheiro e que desconhecia a origem dos recursos de um "empréstimo" que ele contraiu, agora apontados como provenientes do partido.

    Ronan foi preso na última sexta (1º) por ter recebido, em 2004, cerca de R$ 6 milhões oriundos de um empréstimo fraudulento feito pelo pecuarista José Carlos Bumlai com o Banco Schahin. Bumlai já confessou ter tomado o dinheiro a pedido do PT.

    Tal empréstimo, segundo a Lava Jato, nunca foi pago. Em troca, o Grupo Schahin obteve um contrato bilionário com a Petrobras para operar um navio-sonda.

    A suspeita é que o valor recebido por Ronan tenha sido usado por ele na compra do jornal "Diário do Grande ABC".

    Aos investigadores, Ronan afirmou que comprou o "Diário" com recursos próprios, advindos de suas empresas de transporte, e que o valor sob investigação, R$ 5,7 milhões, foi de um empréstimo que ele fez com a empresa Via Investe para comprar uma nova frota de ônibus.

    A Via Investe, segundo o empresário, lhe foi apresentada pelo jornalista Breno Altman –alvo de condução coercitiva pela Lava Jato na semana passada. Altman é próximo do PT e do ex-ministro José Dirceu.

    Apesar de ter negociado com a Via Investe, Ronan disse que o valor foi emprestado de fato pela empresa Remar Agenciamento e Assessoria. A Remar, conforme apurou a Lava Jato, tinha um contrato de mútuo (empréstimo) no valor de R$ 6 milhões com uma empresa ligada ao publicitário mineiro Marcos Valério.

    Ronan disse que não sabia que a Remar tinha esse contrato com a empresa de Valério e que tampouco sabia que a origem do empréstimo que fez era o Banco Schahin. Disse ainda que pagou à Remar parcelas de R$ 319 mil mensais para quitar sua dívida –e que tem comprovantes dos pagamentos.

    MARCOS VALÉRIO

    Em 2012, numa tentativa de fechar acordo de delação e obter benefícios em sua condenação no mensalão, Valério relatou que Ronan recebera dinheiro do PT após chantagear o ex-presidente Lula e os ex-ministros Gilberto Carvalho e José Dirceu. Segundo o publicitário, o jornalista Breno Altman havia intermediado a negociação com o empresário.

    A suspeita dos investigadores é que a chantagem estivesse ligada ao assassinato, em 2002, do então prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), ou ao esquema de corrupção instalado na prefeitura na gestão do petista –do qual, segundo o Ministério Público, Ronan participou.

    Nesta segunda, Ronan disse aos investigadores da Lava Jato que Valério mentiu sobre ele ter chantageado Lula. De acordo com o empresário, o publicitário criou essa versão como uma espécie de vingança porque, em 2012, ele se recusou a vender seu jornal ao periódico mineiro "O Tempo".

    Procurado, o advogado de Valério, Marcelo Leonardo, afirmou que não é crível a versão apresentada por Ronan. "Não tenho nenhum conhecimento de qualquer relação do Marcos Valério com o jornal 'O Tempo'. Isso não existe", disse o criminalista.

    Procurada, a direção do jornal "O Tempo" não se manifestou até a publicação desta reportagem.

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