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    o impeachment

    Análise

    Governo faz jogada de risco com 'faca no pescoço'

    IGOR GIELOW
    DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

    05/04/2016 12h00

    O Planalto faz uma jogada de altíssimo risco ao apostar na "faca no pescoço" dos candidatos a condôminos majoritários do governo em caso de sobrevivência ao atual processo de impeachment.

    A aposta é que, tendo Luiz Inácio Lula da Silva como fiador, a turma dos partidos médios escalada para substituir o PMDB na Esplanada irá acreditar nas promessas que lhe são feitas e votará para salvar o mandato de Dilma Rousseff no pedido de impedimento em análise na Câmara.

    Pode dar certo e, também, escamotear outras garantias não tão explícitas e, digamos, republicanas.

    No Congresso, corre solta a versão de que há oferta de dinheiro para parlamentares apoiarem o governo (R$ 400 mil por um ausência, até R$ 2 milhões por um apoio no plenário), mas a grave acusação não encontrou nenhuma prova até o momento.

    Considerando isso apenas intriga dos opositores, o Planalto conta com o seguinte desenho para seu arranjo: Lula será liberado para virar superministro pelo Supremo Tribunal Federal na semana que vem e assumirá com mais desenvoltura o papel que já exerce, o de presidente de fato do Brasil.

    Segundo o plano, a votação do impeachment na Câmara ocorre até talvez o dia 17 e, Dilma salva nesta etapa, Lula faz valer sua promessa de distribuição dos despojos peemedebistas –ainda a ver o que irá acontecer com os integrantes do partido de Michel Temer que permanecem fiéis ao Planalto.

    Esse cenário otimista para o Planalto pode ser apenas isso. Carniceiros profissionais de cargos e verbas podem não ser exatamente confiáveis para um acerto no "fio do bigode". Além disso, há a questão de perspectiva de poder: o entorno de Temer tem bastante a oferecer –um governo com o PMDB, é verdade, mas sem o PT, que ocupa parcelas substanciais do ministério e estatais.

    A enorme incerteza sobre a governabilidade na hipótese de Dilma sobreviver a esse pedido de impeachment, pelos motivos conhecidos (outro processo à espreita, TSE, Lava Jato e o fim do apoio do PIB), é também fator central para medir a confiabilidade de tais acertos.

    Outro ponto da equação é o pleito municipal de outubro, que promete um massacre de candidatos petistas e aliados ao impopular governo Dilma. Lealdades na política na hora do aperto são, quando muito, ilusórias.

    Enquanto as peças se movem, o importante naco do PMDB que resiste a ir incondicionalmente com Temer bola saídas inusuais para a crise: ressuscita-se o parlamentarismo aqui, defende-se eleições gerais ali, engrossando uma ideia que já vinha sendo cozinhada por setores do próprio governo preocupados com a morte política de Dilma.

    Como a própria presidente diz admitir a ideia, não sem antes fazer o comentário óbvio de que o Congresso todo teria de topar interromper o mandato e explicitar a dificuldade de um acerto desses, a sugestão de novas eleições pode ganhar força como uma alternativa para a crise - ou apenas mostrar-se como quimera.

    Ao fim, contudo, esse grupo poderá apenas vender dificuldades para colher facilidades, cacife mais elevado, na hipótese de o impeachment prosperar. Os próximos dias serão de intensas negociações.

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