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    'Exigiria mais solidariedade de Temer', diz deputada Luiza Erundina

    CATIA SEABRA
    DE SÃO PAULO

    06/04/2016 18h08

    Bruno Poletti-15.jun.2015/Folhapress
    SÃO PAULO, SP, 15.06.2015: EVENTO-SP - A deputada Luiza Erundina durante a 13ª edição do Prêmio FCW de Arte, Ciência, Cultura e Medicina, na segunda-feira, na Sala São Paulo, na praça Júlio Prestes, no centro da cidade. (Foto: Bruno Poletti/Folhapress)
    A deputada federal Luiza Erundina em premiação na Sala São Paulo, em 2015

    Às vésperas de formalizar sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo –com anúncio previsto para o próximo domingo (10)– a deputada federal Luiza Erundina aposta na aprovação de sua administração (1989-1992) para superar a falta de estrutura enfrentada por seu partido, o PSOL.

    "Há condições que possam sugerir que não é uma simples aventura", diz ela, que deixou o PSB para fundar um novo partido, batizado de Raiz Movimento Cidadanista, e deve permanecer no PSOL enquanto não viabiliza a sigla.

    Hoje, afirma Erundina, sua gestão "é mais reconhecida e mais bem avaliada" do que no momento em que deixou a prefeitura.

    A deputada federal –que, em sua última corrida eleitoral ao cargo, em 2004, teve o hoje vice-presidente da República Michel Temer como companheiro de chapa– diz que o peemedebista deveria ser mais solidário à presidente Dilma Rousseff.

    "Ele está abandonando o barco em um momento de dificuldade", afirma.

    *

    Folha - O PSOL se manifesta contra o impeachment. Não em defesa do governo, mas pela legalidade do mandato...
    Luiza Erundina - É minha posição e uma das razões por que deixei o PSB. Estava incompatibilizada com o PSB desde as eleições, completamente isolada na bancada, discordando das posições que o partido estava adotando em relação ao governo e ao impeachment.

    Eu me sinto confortável no PSOL. Somos críticos aos governos Lula e Dilma há muito tempo, mas entendemos que o impeachment só se justifica se houver um efetivo, concreto e comprovado fato de crime de responsabilidade.

    A senhora teve Michel Temer como vice de sua chapa para a prefeitura [em 2004]. Como vê a atitude dele hoje?
    Não gostaria de fazer juízos individuais. Eu exigiria de Temer mais solidariedade com a presidente do ponto de vista de que é da mesma chapa, do mesmo governo. É um partido que participa com muitos ministérios. Como participaram do governo Lula.

    Não são só as posições do vice-presidente Michel Temer, mas do PMDB. Estão saindo do barco porque o barco está tendo dificuldade. Isso me dá bastante insatisfação. Do PMDB, a gente não espera muito mesmo. Mas o vice-presidente poderia ter sido mais solidário com o momento que o governo está vivendo.

    Por isso eu digo que é uma disputa política bastante focada na disputa pelo poder. E o vice-presidente Michel Temer está nessa.

    A senhora se livrou dele como vice?
    [Risos] Ele foi muito correto durante a campanha. Saímos amigos da experiência que tivemos. Hoje, ele está muito distante. Ele é poder. A gente não chega muito perto do poder, né? Mas ficamos amigos.

    Em São Paulo, boa parte do eleitorado apoia o impeachment. A senhora acha que seu voto no Congresso vai prejudicá-la eleitoralmente?
    Não estou preocupada com isso. Sabe o que explica –nessas alturas da vida, em que devo ter causado insatisfação a muita gente, como também ter atendido à expectativa de muita gente– essa lembrança do meu nome? É minha coerência. Nunca tive duas posições.

    Não é surpresa para ninguém se atentarem para os argumentos em que estou baseada para essa minha posição. Pode ser que não compreendam agora. Mas no futuro haverão de compreender. E se não compreenderem, paciência. Estou tranquila com minha consciência, com minha história e com meu compromisso de vida. E isso me basta.

    Se vai me prejudicar eleitoralmente, é outro capítulo. Mas não estou indo apenas para catar votos. Mas para repensar a cidade.

    O que a senhora acha da administração Haddad?
    Bastante limitada. Ele não tem um projeto estratégico para a cidade de São Paulo. Haddad está aquém do que se esperava dele, particularmente em relação à participação popular. Há muita queixa na periferia.

    Ele se elegeu prometendo ouvir as comunidades locais na escolha dos subprefeitos. Ele está aquém das políticas e na gestão. É uma gestão centralizada. As subprefeituras não têm poder real, as demandas populares não têm canal de encaminhamento. Isso é ruim para um governo que se diz democrático e popular.

    Como a senhora lida com a falta de estrutura do PSOL?
    Pode ser compensada. Sou mais conhecida, provavelmente, que os outros candidatos. Fui vereadora, deputada, com uma militância muito forte. Estou no quinto mandato. E os mandatos têm uma relação muito direta, orgânica, com a sociedade, com os movimentos.

    Minha presença em São Paulo não é para descansar. Fico em Brasília só os dias em que há votação e trabalho no Parlamento. Todo o tempo estou na cidade, porque a cidade não conta com muitos mandatos de vereadores verdadeiramente a serviço das demandas populares.

    Todos sabem as minhas possibilidades e minhas limitações, mas têm vivido comigo a experiência de participação popular. Nosso governo só se viabilizou porque de fato foi uma aliança concreta com os movimentos sociais e populares. Tinha minoria na Câmara durante os quatro anos. Para ter maioria na Câmara, eu tinha que fazer concessões éticas e, para fazer isso, os nossos adversários fazem melhor.

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