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    Ex-assessor de Capez diz que foi procurado para combinar versão

    REYNALDO TUROLLO JR.
    DE SÃO PAULO

    07/04/2016 02h00

    Gustavo Epifanio - 27.jan.2016/Folhapress
    Jéter Rodrigues, que trabalhou no gabinete do Fernando Capez na Assembleia Legislativa de São Paulo
    Jéter Rodrigues, que trabalhou no gabinete do Fernando Capez na Assembleia Legislativa de São Paulo

    Alvo da investigação de um suposto esquema de desvios na merenda em São Paulo, Jéter Rodrigues, ex-assessor do presidente da Assembleia Legislativa, Fernando Capez (PSDB), disse à Folha que foi procurado por um subordinado do deputado e por outro ex-assessor, também investigado, para combinar o que dizer em depoimento.

    A versão combinada seria sobre o depósito de um cheque da Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar), no valor de R$ 50 mil, na conta de Merivaldo dos Santos, o outro ex-assessor de Capez.

    Rodrigues diz que recebeu o pedido de assumir o cheque do próprio Merivaldo e de Alexandre Zakir, chefe de gabinete da Presidência da Assembleia Legislativa.

    A Operação Alba Branca já colheu provas sobre o depósito do cheque, que seria um pagamento relativo ao contrato da Coaf com a Secretaria da Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB), para fornecimento de R$ 8,5 milhões em suco de laranja.

    "O chefe de gabinete [de Capez], [Alexandre] Zakir, me procurou, e eu estive com ele e com o Merivaldo conversando, inclusive meu advogado acompanhou, para que a gente pudesse estar bolando um depoimento, conjunto, em que eu assumisse que passei o cheque para o Merivaldo porque minha conta estava zerada [e o valor seria sequestrado por dívidas]", relatou.

    Rodrigues disse que não aceitou tal versão, que, para ele, tinha o objetivo de livrar Merivaldo, assessor mais próximo de Capez.

    "Eu argumentei que, se eu estou com a conta zerada, devendo o carro, e estou com um cheque de R$ 50 mil, eu não vou depositá-lo? Vou dar para outra pessoa? Isso não faz sentido. Eu não tenho por que estar assumindo um negócio que eu não fiz."

    A assessoria de Capez negou ter havido o encontro.

    Um dia após a entrevista à Folha, Rodrigues mudou a versão. Pediu à reportagem para destacar que a combinação partiu de Merivaldo.

    CONTRATO E DEPÓSITO

    Rodrigues atuou como assessor de Capez de 2013 a 2014. Ele relatou, pela primeira vez, que na época das eleições de 2014 fez um contrato de gaveta com o lobista da Coaf, Marcel Ferreira Julio, para "prestação de serviços", do tipo "ajudar a empresa [sediada em Bebedouro] quando precisasse pegar certidões em cartórios em São Paulo".

    Segundo Rodrigues, o contrato era de R$ 200 mil no total, a serem pagos em quatro parcelas, e foi feito por orientação de Merivaldo, que "tem mais experiência nesse tipo de trabalho".

    Posteriormente, seria passado para o nome de uma empresa de consultoria do filho de Merivaldo.

    "A primeira parcela foi esse cheque, de R$ 50 mil, que ficou com o Merivaldo. Quando esse cheque voltou, porque não tinha fundo, eu não quis mais nada com a Coaf, larguei mão e deixei com o Merivaldo", disse Rodrigues.

    Merivaldo é servidor comissionado na Assembleia, hoje lotado no setor de informática. Atuou no gabinete de Capez de 2010 a 2011 e na liderança do PSDB de 2013 a 2015.

    Rodrigues disse que ele e seu advogado, Roberto Lamari, estão "preocupados" com o rumo das investigações e que já oficiaram a polícia pedindo para ouvi-lo logo.

    OUTRO LADO

    A assessoria de Capez negou ter havido o encontro.

    O deputado afirmou que repudia com veemência a citação de seu nome e está à disposição para colaborar com as investigações.

    A Folha não conseguiu localizar Merivaldo.

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