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    o impeachment

    Rejeição do impeachment não esgotaria a crise, diz aliado de Temer

    DANIELA LIMA
    DE BRASÍLIA

    07/04/2016 13h33

    Mauro Pimentel/Folhapress
    RIO DE JANEIRO, RJ, 18.09.2015: RETRATO MINISTRO MOREIRA FRANCO - Retrato do Ministro Moreira Franco, para a secao Entrevista de Segunda. (Foto: Mauro Pimentel/Folhapress, FSP-FOTO) ***EXCLUSIVO FOLHA***
    O ex-ministro Moreira Franco, do PMDB

    Um dos principais aliados do vice-presidente Michel Temer, o ex-ministro Moreira Franco (PMDB) diz que aqueles que questionam a decisão do PMDB de desembarcar do governo Dilma Rousseff "têm peso institucional, mas não peso partidário". Artífice do rompimento, ele defende a decisão e diz que a sigla o fez porque o Planalto está paralisado combatendo o impeachment, enquanto o foco deveria ser "primeiro economia, segundo economia e terceiro economia".

    A ruptura foi criticada publicamente pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), desafeto de Temer e considerado um aliado do governo Dilma.

    Em entrevista à Folha, Moreira Franco defende a legalidade do processo de impeachment e chama de "tentativas desesperadas" as propostas alternativas, como a convocação de eleições gerais. "A regra é: o impeachment dentro da Constituição e, se o presidente for impedido, o vice assume. Essa é a regra". Segundo ele, se o impedimento da petista não for aprovado, o país terá um "governo que não governa".

    Envolvido na operação montada por aliados de Temer para rebater as críticas que o vice vem sofrendo, Moreira diz que "evidentemente estão querendo desconstruir a imagem do vice-presidente para desorganizar o processo político". Ele diz que a sigla respeitará a decisão da Câmara qualquer que seja ela, mas que, sem a aprovação do impeachment a crise "não se esgotará". "Se o impeachment passa, a nação se reencontra e o vice assume. Estamos torcendo para que possamos pacificar o Brasil."

    Veja abaixo os principais trechos da conversa.

    *

    Folha - Qual a expectativa para o processo de impeachment da presidente Dilma?

    Moreira Franco - O Brasil acordou e tem manifestado de maneira crescente a sua repulsa com o que está acontecendo. Vivemos hoje uma situação em que o governo não governa e a presidente da República não é mais presidente. O governo não governa porque a situação econômica se agrava e ele, nas medidas que toma, só contribui para piorar a situação. O desequilíbrio fiscal tem sido agravado ao longo desse ano por sucessivas medidas que Planalto tem lançado para comprar apoios e simpatias, com governadores, com prefeitos, com deputados... O governo não governa porque só cuida de um tema: combater o impeachment da presidente. A saúde está destroçada, as prefeituras quebrando e não tem nenhuma ação do governo, nenhuma palavra, nenhum gesto que olhe para essa situação.

    A presidente está isolada no Palácio e a nação tem manifestado de maneira reiterada a sua ojeriza a ela. É uma constatação que faço com muita tristeza. O que estamos vendo, e digo isso com naturalidade já que o governo tratou com naturalidade, é a distribuição de cargos para conquistar votos. O Planalto não fez isso com nenhum tipo de recato ou discrição, encabulamento, vergonha. Evidentemente, pressupõe-se um governo que os partidos participem, mas com pessoas, propostas, não para garantir o voto contra ou a ausência na votação do impeachment

    Como o sr. recebeu os ataques feitos pelo Planalto ao vice Michel Temer, inclusive pelo ex-presidente Lula. O acusam de patrocinar um golpe...
    Eu entendo e deploro esse certo desrespeito que o presidente Lula começou a fazer com o Michel Temer. Mas Lula não pode ir além de ataques pessoais. Temer é um constitucionalista e nisso o Lula acertou. Exatamente porque ele é constitucionalista ele sabe que a função dele é substituir a presidente da República nos casos que a constituição determina. Ele também sabe que esse processo que nós estamos vivendo está dentro da lei, dentro da constituição. A regra é: o impeachment dentro da lei e, se o presidente for impedido, o vice assume. Essa é a regra. Evidentemente estão querendo desconstruir a imagem do vice-presidente para desorganizar o processo político.

    Há a proposta agora de eleições gerais. É uma saída?
    Vejo como ato de desespero. A constituição é clara. O que vamos ter é: se o balcão [de cargos] funcionar, o impeachment não passa e aí vamos ter um presidente que não preside. Não há hipótese de dar certo, não há credibilidade, confiança, nem interna nem externa. E nós, do PMDB olharemos [esse resultado] com uma atitude de respeito, mesmo sabendo que o ônus vai ser muito alto para o povo. Agora, se o impeachment passa, a nação se reencontra e o vice assume. Estamos torcendo para que possamos pacificar o Brasil, reencontrar ambiente de confiança, de credibilidade para sair da crise.

    Mas dentro do próprio partido há quem diga que é um erro assumir essa postura. O rompimento com o governo foi criticado por integrantes do PMDB...
    Sim, por pessoas que têm peso institucional, não peso partidário. A convenção foi muito clara. O partido foi muito claro. E olha que foi combinado, o procedimento que se adotou foi combinado... Mesmo combinando, eles têm dado essas declarações. Mas estamos acostumados. O PMDB nunca teve a unanimidade. Ele sempre trabalhou com maioria. Para nós, maioria robusta é acima de 80%. É o que se tem hoje: 80% do partido tirou o apoio ao governo. E fizemos isso por entender que o primeiro problema do Brasil é a economia. o segundo é a economia e o terceiro, a economia. Para o governo é combater o impeachment. Não podíamos continuar dando sustentação para um governo que está levando o país a essa situação.

    Acha que as reprovações públicas ao rompimento tinham como objetivo minimizar o impacto da decisão do partido?
    Foi com o objetivo de tirar o impacto. Foi exatamente isso. Mas sou católico e ainda estou com a quaresma na cabeça. Lembro daquela expressão de Jesus na cruz: 'perdoai-vos, eles não sabem o que fazem'. Eu digo isso. E creio muitos dizem a mesma coisa. Mas, olha, asseguro, se [os críticos do rompimento] forem à rua atrás de qualquer tipo de simpatia, de compreensão, não vão encontrar. Na rua, as pessoas estão perdendo o emprego, vendo a comida diminuir na mesa. Essas pessoas sabem quem é o culpado da situação e estão na rua dizendo quem é o culpado.

    Mas seis dos sete ministros do PMDB continuam no governo...
    Autocrítica como o próprio nome diz é algo pessoal, né? Ou você tem ou não tem. O partido está tomando decisões regimentais e estatutárias.

    O sr. diz que o PMDB respeitará a decisão se o plenário não aprovar o impeachment...
    Nós cumprimos a constituição.

    Mas a presidente é alvo de outros pedidos de impeachment. O processo pode não se esgotar?
    Ele não se esgota. Na década de 1980 a sociedade brasileira viveu uma grande mobilização e ela se colocou liderada pelo PMDB. Mobilizações gigantescas –menores do que as que vemos agora, entretanto– pelas 'Diretas já!'. Veio para a Câmara e a Câmara rejeitou. Mas o governo perdeu as condições de fazer qualquer coisa. Tanto assim, que mesmo com eleição indireta, as pessoas que concorreram foram as que concorreriam na eleição direta. E as que ganharam também.

    Agora, por ordem do ministro Marco Aurélio Mello o vice também é alvo de um pedido de impeachment...
    Me surpreendeu o fato de o ministro ter dado mais do que o pedido pelo cidadão que entrou com a ação. Isso será encaminhado com naturalidade, na expectativa de que fortaleçamos as instituições. O momento é grave, delicado. São as instituições o grande patrimônio do povo. Por fim, quero registrar que acho que a Operação Lava Jato está dentro da lei. Está fazendo o que a lei permite. E veio para ficar.

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