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    Com Rio em crise, Dornelles assume governo e altera rotina

    MARCO ANTÔNIO MARTINS
    DO RIO

    07/04/2016 17h11

    Ruy Baron/Valor
    O governador do Rio Francisco Dornelles, que assumiu o cargo após pedido de licença de Pezão

    Há pouco mais de um mês, durante uma visita de cortesia ao ex-governador Sérgio Cabral, o então vice do Rio, Francisco Dornelles, 81, sentiu-se mal e desmaiou.

    Acordou a caminho do hospital, onde foi diagnosticado com uma diverticulite. Recuperado, Dornelles pensava em se manter "submerso", como conta um parlamentar de seu partido, o PP (Partido Progressista).

    Ele estaria incomodado por seu nome ter sido associado à Operação Lava Jato. A Polícia Federal investiga um suposto desvio de R$ 2 milhões da Petrobras para o PP, no período em que Dornelles estava na presidência do partido.

    O pedido de licença de um mês do governador Luiz Fernando Pezão, 61, para tratar de um linfoma, mudou os planos de Francisco Dornelles.

    Pensou em não assumir o cargo, mas voltou atrás após pedidos do próprio Cabral, de Pezão e de correligionários do PP.

    Desde segunda (28), trocou a discrição de seu gabinete no prédio anexo ao Palácio Guanabara, onde recebia prefeitos e políticos do Rio, para assumir a agenda agitada do governador Pezão.

    A primeira mudança foi em sua rotina de almoços. Diariamente, o vice-governador deixava o Palácio Guanabara para almoçar em restaurantes tradicionais no centro do Rio. A crise no Estado e a busca por soluções para pagar os servidores fez Dornelles colocar a refeição em segundo plano.

    DITADOR DA SEGURANÇA

    Logo na primeira reunião, às 10h, da segunda, disse ao secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que ele será uma espécie de "ditador da segurança": "O que o senhor decidir será feito", comentou.

    Na quarta (30), se reuniu por quatro horas, na Alerj (Assembleia Legislativa) com deputados estaduais. Enquanto professores protestavam nas escadarias do prédio, Dornelles entrou no gabinete com passos curtos.

    Fez questão de cumprimentar a todos enquanto tomava o lugar à mesa com outros deputados.

    "O Estado está quebrado. Se pudesse pedir falência, já teria pedido. Quando você tem a casa pegando fogo você precisa de medidas para apagar o incêndio", disse.

    A todos que pediam a palavra, lembrava algum fato passado ou fazia comentários curiosos.

    "Deputado [Marcelo] Freixo [PSOL], conheço um grande admirador do senhor: Jorge Picciani [PMDB]", disse, referindo-se ao atual presidente da Alerj, e arrancando risos dos parlamentares que conhecem as posições distintas dos dois deputados.

    "O primeiro encontro com o governador trouxe uma boa notícia: ele está bem, está lúcido. Havia um disse-me-disse e ele mostrou saúde. Agora é ver como a crise será solucionada", disse o deputado Luiz Paulo (PSDB).

    O encontro durou quatro horas. Dornelles se levantou apenas uma vez. Ouviu propostas de 30 deputados, mas não indicou qual será o caminho do governo do Rio diante da crise financeira.

    GOVERNO SEM PLANO

    "Pensei que fôssemos ouvir e o governador nos pediu ideias. O governo não tem um plano", afirmou o deputado Paulo Ramos (PSOL).

    A agenda intensa de 8h às 19h, nesta primeira semana, serviu para afastar o boato de saúde irregular de Dornelles.

    "Ele está bem. Sempre marca viagens para o interior às 7h e na volta vai ao Leblon para comer pastel. O problema dele é acertar os salários do servidor", diz o deputado federal Júlio Lopes (PP), afilhado político de Dornelles e com quem o governador fala diariamente.

    Nos bastidores do governo, alguns defendem que o presidente da Alerj, Jorge Picciani, presidente regional do PMDB, assuma um gabinete de crise ou tenha uma participação mais efetiva no governo.

    Picciani nega. Na conversa com Dornelles, o parlamentar defendeu a redução de secretarias neste período de crise. Reduziria das 25 existentes para sete.

    "Sem chance. O Dornelles é o melhor quadro do Brasil. Não conheço homem público tão capaz. E o Rio tem um governador, que passa por um problema pessoal, mas que vai se recuperar. Vão trabalhar juntos", afirma Picciani, negando que a hipótese esteja sendo discutida.

    Pezão foi diagnosticado com um linfoma chamado não-Hodgkin, que atingiu duas vértebras. O oncologista Daniel Tabak avalia que o tratamento deve durar de seis a oito meses, ou seja, até o fim do ano.

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