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    Em delação, lobista diz que propina da merenda em São Paulo ia para Capez

    REYNALDO TUROLLO JR.
    DE SÃO PAULO

    07/04/2016 17h36

    Moacyr Lopes Junior - 13.fev.2016/Folhapress
    O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB), em entrevista à Folha
    O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB), em entrevista à Folha

    Apontado como lobista em um suposto esquema de desvios da merenda escolar em São Paulo, Marcel Ferreira Julio afirmou que o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB), era destinatário de parte da propina. Marcel fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público, homologado pelo Tribunal de Justiça na terça (5).

    Conforme a Folha apurou, Marcel prestou depoimento na sexta (1º) e no sábado (2) e relatou ter tratado dos pagamentos com dois ex-assessores de Capez, Jéter Rodrigues e Merivaldo dos Santos, além de Luiz Carlos Gutierrez, o Licá, ainda auxiliar do tucano e muito próximo dele.

    Os servidores disseram a Marcel, segundo a delação, que a propina era destinada para fins eleitorais. O contato entre o lobista da Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar) e a equipe do tucano aconteceu na época das eleições de 2014, quando Capez foi o deputado estadual mais votado do Estado.

    O depoimento de Marcel, filho do ex-presidente da Assembleia Leonel Julio -também investigado pela Operação Alba Branca-, era o mais esperado pelas autoridades, pois ele é visto como o elo entre a cooperativa e os servidores públicos e políticos.

    Marcel se apresentou à Polícia Civil na quinta-feira (31), depois de ficar foragido desde 19 de janeiro, quando teve prisão temporária decretada. Foi solto na segunda (4), após os investigadores considerarem que ele prestou os esclarecimentos necessários.

    A investigação está sob responsabilidade da Procuradoria-Geral de Justiça devido ao foro especial de Capez. A relatoria do caso no Tribunal de Justiça está a cargo do desembargador Sérgio Rui.

    Marcel deve apontar aos procuradores o caminho do dinheiro pago pela Coaf, que seria relativo a um contrato com a Secretaria da Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB) para o fornecimento de R$ 8,5 milhões em suco de laranja.

    Além de Capez e seus assessores, são investigados no caso dois servidores do governo paulista ligados ao PSDB: Fernando Padula, ex-chefe de gabinete da Educação (hoje, oficial administrativo na mesma pasta), e Luiz Roberto dos Santos, o Moita, ex-chefe de gabinete da Casa Civil (hoje na CPTM).

    MUDANÇAS

    Nesta quinta (7), o chefe de gabinete de Capez na Presidência da Assembleia, Alexandre Zakir, foi exonerado da função e nomeado Secretário Geral de Administração da Casa. No lugar dele assumirá o advogado João Bôrro.

    Um dos ex-assessores de Capez investigados, Jéter Rodrigues, disse que se reuniu com Zakir e Merivaldo dos Santos, o outro ex-assessor, e que recebeu deles o pedido para que assumisse, em depoimento, um cheque de R$ 50 mil da Coaf que foi depositado na conta de Merivaldo. Zakir negou ter tido o encontro para combinar a versão.

    Segundo a assessoria de Capez, a mudança na chefia de gabinete da Presidência já estava prevista e ocorreu porque Zakir foi promovido à Administração Geral para ocupar o cargo do promotor Augusto Rossini, que voltou para o Ministério Público.

    OUTRO LADO

    Em nota, o deputado Fernando Capez afirmou nesta quinta (7) que foi inserido "cunho político eleitoral" na Operação Alba Branca, enquanto a "apuração legítima e isenta" da Corregedoria Geral da Administração, ligada ao governo do Estado, "demonstrou que não houve fraude nos contratos com a Secretaria Estadual da Educação".

    "Quero que tudo possa ser rapidamente esclarecido, pois não tenho nada a temer, e que os culpados sejam punidos", afirmou.

    Leia a íntegra da nota:

    *

    "Como já se tornou público e notório, aproveitaram-se do uso indevido de meu nome para inserir cunho político eleitoral na Operação Alba Branca. A apuração legítima e isenta da Corregedoria Geral da Administração demonstrou que não houve fraude nos contratos com a Secretaria Estadual da Educação.

    Da mesma forma, e como era de se esperar, claro ficou que não tive qualquer participação ou influência na celebração desses contratos. Não recebi qualquer valor ou bem material para uso na campanha e todas as minhas contas foram aprovadas. Se receberam dinheiro ou bem, foi em proveito próprio sem meu conhecimento. Sempre estive à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.

    Quero que tudo possa ser rapidamente esclarecido, pois não tenho nada a temer, e que os culpados sejam punidos.

    Qualquer outra ação ou acusação não traduz a verdade real dos fatos e, como já citei no início, são trazidas de maneira estranha, leviana e carregada de oportunidade política."

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