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    Venezuela paga empresas brasileiras por obra não feita

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    11/04/2016 02h06

    Consórcio formado por três pequenas empresas brasileiras de engenharia embolsou US$ 4 milhões da petroleira estatal venezuelana PDVSA numa conta na Áustria para executar uma obra em Caracas que nunca foi iniciada.

    O consórcio Ambiental Tecnol (formado pela homônima Ambiental Tecnol, de Goiânia, pela Duotec e pela Perfecta, ambas de Cubatão) assinou contrato em agosto de 2014 para sanear um terreno contaminado com gasolina e querosene perto do aeroporto de Caracas.

    Pelo lado venezuelano, o acordo leva a assinatura de Fadi Kabboul, então diretor da PDVSA Engenharia, braço da estatal voltado para obras. Foi firmado com base na parceria estratégica Brasil-Venezuela, que dispensa licitação.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O consórcio chegou a contratar mais de 20 funcionários para executar tarefas administrativas e de logística prévias à perfuração de solo para sanear o terreno, onde o governo venezuelano pretendia erguer casas populares. Foram todos demitidos em dezembro.

    A Folha obteve documentos que atestam pagamentos da PDVSA ao consórcio brasileiro, assinados por Paulo César Ernesto (dono da Ambiental Tecnol) e Antonio Araújo (dono da Perfecta).

    Mostram que a estatal fez quatro depósitos, entre US$ 978 mil e US$ 998 mil, numa agência do Meinl Bank, em Viena, na Áustria, somando cerca de US$ 4 milhões.

    A quantia foi paga como adiantamento pelo valor de US$ 17 milhões relativo à parcela dos pagamentos em dólar. O contrato estipula parte dos pagamentos em bolívares, dos quais o equivalente a US$ 100 mil foram pagos numa conta na Venezuela.

    Uma pessoa ligada ao consórcio brasileiro alegou que o saneamento do terreno não foi feito porque a PDVSA ficou devendo uma quinta e última parcela de US$ 978 mil. Sem essa cota, diz, as empresas contratadas não podiam fazer os investimentos em máquinas e equipamentos.

    Apesar de a PDVSA ter contratado a Ambiental Tecnol por US$ 17 milhões, uma empresa de São Paulo, a Enfil, apresentou proposta para executar o mesmo trabalho por US$ 6 milhões.

    A Enfil chegou a assinar contrato como terceirizada da Ambiental Tecnol para sanear o terreno, mas os engenheiros da empresa paulista foram mandados embora semanas depois acusados de descumprir prazos.

    A Ambiental Tecnol deve enfrentar processo por parte de funcionários demitidos que exigem reajuste na indenização. A ação será apresentada num tribunal nos próximos dias.

    Ex-empregados apontam várias irregularidades operacionais. Alguns dizem ter trabalhado sem contrato formal.

    Outros mostraram à Folha comprovantes de que recebiam seus salários por transferência da conta pessoal de uma secretária da Ambiental Tecnol. Questionada, a funcionária disse que os pagamentos eram feitos por sua conta devido à "escassez de cheques em papel" no país.

    outro lado

    Procurado, Kabboul disse ter assumido outro cargo na PDVSA antes da entrada em vigor do contrato e insistiu que não participou na elaboração do acordo com a Ambiental Tecnol. Ele afirmou que seu papel, como presidente da PDVSA Engenharia, consistia apenas em assinar contratos formulados pelo alto comando da estatal.

    Os donos de Ambiental Tecnol e Perfecta não retornaram pedidos de contato.

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