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    Lava Jato

    Força-tarefa diz que igreja recebeu dinheiro da propina de Gim Argello

    FELIPE BÄCHTOLD
    DE SÃO PAULO
    JULIANA COISSI
    DE CURITIBA

    12/04/2016 10h48

    O ex-senador Gim Argello (PTB-DF) indicou a conta corrente de uma igreja para receber parte da propina de empreiteiras, segundo os investigadores da Operação Lava Jato.

    Argello é o alvo principal da 28ª fase da operação, deflagrada nesta terça-feira (12), e foi preso preventivamente sob suspeita de atuar para barrar investigações na CPI da Petrobras, em 2014.

    De acordo com o Ministério Público Federal, a Paróquia de São Pedro de Taguatinga, no Distrito Federal, foi indicada pelo então senador para receber dinheiro da OAS. O procurador da República Athayde Ribeiro da Costa afirma que o político era frequentador da igreja à época.

    Foram pagos R$ 350 mil em uma conta corrente da paróquia, aponta a investigação. Para o Ministério Público Federal, no entanto, não há nenhum indício de culpa contra os integrantes da igreja.

    Além dos recursos para a igreja, a Lava Jato também aponta que houve pagamentos de R$ 5 milhões por meio de doações oficiais da UTC para a coligação dele na campanha de 2014.

    Diego Padgurschi/Folhapress
    Gim Argello é preso na Operação Lava Jato
    O ex-senador Gim Argello (PTB-DF) é preso na Operação Lava Jato

    O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima diz que os pagamentos para a paróquia serão ainda mais investigados. O objetivo é saber se havia algum tipo de influência de pessoas dessa igreja nas campanhas eleitorais. Lima afirma que uma paróquia é "muito suscetível" a receber dinheiro em espécie porque obtém muitas doações. "Não é porque é uma Igreja Católica ou de qualquer outra denominação que nós não vamos aprofundar as investigações."

    Argello foi vice-presidente da CPI da Petrobras. Segundo os procuradores, ele foi inicialmente procurado pelos empreiteiros da UTC, Ricardo Pessoa, e Léo Pinheiro, da OAS. As tratativas aconteceram de maio a julho de 2014.

    As convocações de empreiteiros para depoimentos na comissão no Congresso acabaram não acontecendo. A CPI foi instaurada para apurar irregularidades que já estavam sendo investigadas na Operação Lava Jato, naquela época ainda em fase inicial. A investigação foi deflagrada em março de 2014.

    Mensagens no celular de Léo Pinheiro apontavam o pagamento de propina para o então senador por meio da igreja. Os repasses, dizem os investigadores, eram chamados de "projeto alcoólico", em alusão ao apelido do político, Gim. O dinheiro, diz a investigação, vinha de uma das obras na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, da Petrobras.

    No despacho de prisão, o juiz Sergio Moro transcreve troca de mensagens entre Léo Pinheiro e diretores da OAS sobre o repasse à igreja. Pinheiro orienta o diretor Dilson Paiva a fazer o pagamento na paróquia, diz que o "centro de custo" é a obra da Rnest (Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco) e se refere ao "Projeto Alcoólico".

    Depois de dois dias, o empreiteiro cobra Paiva sobre o depósito. O diretor diz que outro subordinado vai "procurar o padre pessoalmente".

    A investigação partiu da delação de Ricardo Pessoa, firmada em maio de 2015. A parte relativa a Argello foi cindida e enviada à primeira instância da Justiça Federal. Trechos que abordam autoridades com foro privilegiado estão com a Procuradoria-Geral da República. Argello foi candidato por uma coligação formada pelo PR, DEM, PRTB e PMN, mas não se reelegeu.

    Segundo a Procuradoria, não há indício de que o então senador tenha agido "em conluio" ou a mando de algum outro político. Mas apontou que o filho de Argello, Jorge, participou das negociações com os empreiteiros.

    A reportagem ainda não localizou os advogados do ex-senador.

    28ª fase da Lava Jato - Operação Vitoria de Pirro

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