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    Lava Jato

    Mensagens sugerem que empreiteiros chamavam Gim Argello de 'Alcoólico'

    FELIPE BÄCHTOLD
    DE SÃO PAULO

    12/04/2016 12h52

    Diego Padgurschi/Folhapress
    Gim Argello é preso na Operação Lava Jato
    O ex-senador Gim Argello (PTB-DF) é preso na Operação Lava Jato

    Usada como prova no decreto de prisão do ex-senador Gim Argello (PTB-DF), uma sequência de mensagens trocadas entre empreiteiros mostra que havia "pressão" sobre os empresários na época da CPI da Petrobras, em 2014.

    Argello foi preso na 28ª fase da Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira (12), sob suspeita de receber dinheiro para não convocar os empresários à CPI.

    Em um dos diálogos, de junho de 2014, o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, diz a Ricardo Pessoa, da UTC, que o "Alcoólico" precisa ser procurado "urgentemente". O apelido, segundo os investigadores, se refere a Argello. "Estão numa pressão impressionante", diz Pinheiro. Pessoa responde que uma pessoa chamada "Márcio" enviou "o amigo para conversar" com o Alcoólico. "São amigos o alcool [sic] e o meloncia [sic] ", diz.

    Em outra troca de mensagem, Pinheiro fala com Otávio Marques de Azevedo, da Andrade Gutierrez: "O nosso Alcoólico está indóssil [sic]. Seria oportuno um ligação sua para ele. Fico preocupado com as reações intempestivas." Em outra ocasião, o empreiteiro da OAS diz a Azevedo sobre "falar com o Alcoólico na quinta-feira".

    No decreto de prisão, no qual foi transcrita toda a troca de mensagens, o juiz Sergio Moro determinou o bloqueio de bens do ex-senador, do filho dele e de Paulo Cesar Roxo (suspeito de operar pagamentos) até o valor de R$ 5,35 milhões.

    O uso de linguagem cifrada e do codinome "Alcoólico" deixa "pouca margem para dúvida" sobre o caráter ilegal da comunicação e dos pagamentos, escreveu Moro. De acordo com a investigação, o então senador recebeu R$ 350 mil da OAS por meio de doações para uma igreja e R$ 5 milhões da UTC por meio de doações oficiais para sua campanha à reeleição naquele ano.

    Usar uma Comissão Parlamentar de Inquérito não para elucidar crimes, mas para cometê-los, representa "uma completa inversão de valores", disse Moro, que lembrou que as CPIs foram muito efetivas nos casos do mensalão e do ex-presidente Fernando Collor. O juiz também escreveu que Argello já era investigado em inquéritos no Supremo e que a imprensa mostrou seu envolvimento "em diversos escândalos criminais".

    No despacho, disse que é "inaceitável" que agentes políticos suspeitos de envolvimento em crimes permaneçam na vida pública sem consequências.

    "Como dinheiro é poder e o domínio político é competitivo, políticos desonestos, por terem condições de contar com recursos criminosos, possuem uma vantagem comparativa em relação aos probos. Se não houver reação institucional, há risco concreto do progressivo predomínio dos criminosos nas instituições", disse Moro.

    PARTIDOS

    O decreto de prisão identifica ainda as doações feitas pela UTC no Distrito Federal em 2014 suspeitas de relação com o caso. São listadas doações de R$ 1,1 milhão para o DEM, R$ 1 milhão para o PR, R$ 1,75 milhão para o PRTB e R$ 1,15 milhão para o PMN. Os partidos faziam parte da coligação de Argello naquela eleição.

    Moro escreveu que "não há prova" de que os dirigentes desses partidos soubessem que os repasses tinham origem em crimes.

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