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    Por medo de panelaço e orientação da AGU, Dilma cancela pronunciamento

    AGUIRRE TALENTO
    GUSTAVO URIBE
    MÁRCIO FALCÃO
    MARINA DIAS
    VALDO CRUZ
    DE BRASÍLIA

    15/04/2016 17h21

    Em mais uma trapalhada na reta final do impeachment, integrantes do governo chegaram a anunciar que Dilma Rousseff faria um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV na noite de sexta (15), mas no final da tarde a presidente desistiu da ideia.

    Dilma decidiu seguir orientação do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, que, após assistir ao vídeo, avaliou que a fala poderia trazer problemas jurídicos, já que o conteúdo do discurso é eminentemente político para um espaço dedicado a discursos institucionais.

    Além disso, auxiliares da presidente temiam que o pronunciamento provocasse um grande protesto contra Dilma, ao estilo dos panelaços e buzinaços registrados nas últimas vezes em que ela ou petistas foram à TV, às vésperas da votação da abertura do processo de impeachment no plenário da Câmara, marcada para domingo (17).

    A ideia do Planalto é compartilhar nas redes sociais no sábado (18) o conteúdo de um pronunciamento de Dilma contra o impeachment.

    A oposição chegou a entrar com ações na Justiça Federal de Brasília e conseguiu, na noite de sexta (15), uma decisão na Justiça proibindo a presidente de convocar cadeia nacional para falar sobre impeachment.

    No discurso, que chegou a ser gravado na manhã desta sexta, a petista diz que não pesa contra ela nenhuma denúncia de corrupção e que o impeachment pode representar um perigo para a democracia brasileira.

    Segundo a Folha apurou, a presidente vai afirmar que os defensores do impeachment podem até ter suas justificativas, mas que a história os deixará com a "marca do golpe". Ela pede ainda à sociedade brasileira que converse com os deputados de seus Estados para que eles "fiquem ao lado da democracia" e "respeitem a Constituição". Segundo ela, há um "golpe em curso no país".

    Para se preparar para o pronunciamento, a presidente chamou a Brasília o cabeleireiro Celso Kamura.

    A proposta de ir para a televisão foi construída junto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele, por sua vez, gravou também uma mensagem com o discurso alinhado ao de Dilma. A fala do petista, de cinco minutos, foi veiculada nas redes sociais.

    'CANTO DA SEREIA'

    No vídeo, Lula faz um apelo aos deputados para barrarem o impeachment de Dilma e diz que um futuro governo do vice-presidente Michel Temer (PMDB) é um "canto da sereia" porque ele "trai um compromisso selado nas urnas".

    Além das críticas ao vice de Dilma, Lula admite que "o governo tem falhas que precisam ser corrigidas", mas afirma que "não se pode brincar com a democracia" ao aprovar o impeachment. Diz que passará a usar sua experiência de ex-presidente para ajudar Dilma em uma nova etapa de seu governo.

    Lula afirma que é papel do Legislativo criticar e cobrar, mas que aprovar o afastamento de Dilma já extrapola isso. "Outra coisa é embarcar em aventuras, acreditando no canto de sereia dos que sentam-se na cadeira antes da hora. Quem trai um compromisso selado nas urnas não vai sustentar acordos feitos nas sombras", diz, criticando Temer.

    Para o ex-presidente, "ninguém conseguirá governar um país de 200 milhões de habitantes" se não tiver "a legitimidade do voto popular".

    Lula afirma que, nas gestões petistas, "vencemos a fome e começamos a reduzir a desigualdade". Mas que "todo esse esforço pode ser jogado fora por um passo errado".

    Ele chama de "golpe" o impeachment, diz que não há crime de responsabilidade para afastar Dilma e afirma que vai existir a "incerteza permanente" caso ela seja afastada.

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