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    o impeachment

    Dilma, Temer, Cunha, Lula: O que passa nessas cabecinhas?

    Sensacionalista

     
     

    ESPECIAL PARA A FOLHA

    17/04/2016 06h45

    A convite da Folha, o site de humor Sensacionalista entrou na mente de cada um dos quatro cavaleiros do impeachment. Veja no que deu.

    *

    DILMA
    O jiló é amargo, mas não mata o passarinho

    Foi bom ter mantido a minha rotina, mesmo hoje. Ótima essa ideia de pedalar, espairecer. Foram cinco quilômetros. Eu não tinha meta, mas acabei dobrando. Adoro esse vento batendo no meu rosto. Zum de besouro.

    Ah, que bom seria se a gente pudesse estocar vento, acordar, abrir a caixinha e começar a ventar assim logo de manhã cedo. Só foi ruim uma mulher que me fechou. Gritei: minha filha, não pode trocar de faixa assim, vai acabar causando um acidente, me derrubando! Nem no selim eu tenho sossego!

    Mas, no que se refere ao impeachment, fico pensando aqui como isso começou. Se foi o cachorro ou a mulher ou a criança. O idoso, né? Tem isso. Eu acho que as pessoas começaram a me odiar quando eu inventei aquela maldita tomada de três pinos. Não sei onde eu tava com a cabeça quando inventei isso. Aquela tomada é a coisa que eu mais odeio no mundo. Depois do Temer, claro.

    Lula me ligou hoje –do orelhão, pra não ter perigo de grampo. Falou, falou mas não entendi nada. Tá cada vez mais rouco. Mandei o Bessias lá para ele mandar por escrito o que ele quis dizer.

    Agora é jogo jogado. Criança bebendo água. Abelha fazendo mel. Vou aproveitar que não começa e dar uma olhada no TripAdvisor. Quem sabe eu não tiro aquelas férias? Ah, Paris, Budapeste, samambaia chorona, uma coisa meio chocolate amargo. Mas também posso ficar por aqui. Mamãe disse que "Velho Chico" tá um espetáculo e o Antônio Fagundes continua um pão. A ver.

    E essa, faixa? Se eu perder, o que eu faço com ela? Vou anunciar na OLX. Desapegar. Pro Temer eu não dou.

    É muita coisa. Tem o rompimento, tem o cachorro, tem a criança, o vento, a mandioca. Tudo é conjectura. Operacional. Análise sintética, big brother. A questão do impeachment, é a questão do índio, do excluído, do preço do Xbox One. Tem também a problemática de Khaleesi, as injustiças de Montauk. São idiossincrasias naturais de um outono que não vem.

    Aconteça o que acontecer, deixa pra lá. O jiló é amargo, mas não mata o passarinho. Eu tô aqui mas não tô. Se eu não estivesse eu já estaria. É tudo empírico e real. Subjetivo e direto. Se eu cair, pelo menos eu tô magra.

    *

    EDUARDO CUNHA
    Mortadela eu dispenso

    341, 342... Hein? Voltou 341 de novo? Quem foi que andou pra trás, hein? Centenas de idiotas. Gentinha burra, ignorante, manipulável. Foi mais difícil conquistar o coração de Claudinha do que garantir que esse deputados façam ou aceitem o que eu quero esse tempo todo.

    Não vai ser agora que eu vou morrer na praia! 344! Nossa! 344! Agora foi. Ah, não. Eu estava contando o número de domínios com Jesus que eu registrei. Lista errada! Epa! Nem me fala em lista! Depois eu dou um jeito nisso. Faço sumir. Eles não sabem nada do regimento.

    Vou ligar pro Temer, mandar aumentar as cifras, as promessas de cargos, de aprovação de emendas, o que puder! Essa jararaca tem que morrer hoje! Claudinha me ligou, mandou foto pelo celular usando o Louboutin novo, com aquele olhão lindo arregalado, e eu nem pude atender, tamanha a correria aqui nessa espelunca. Daqui a pouco eu ligo de volta, depois de comer um sanduíche –de presunto de parma, naturalmente, que mortadela eu dispenso.

    O Temer tá posando de parceiro, mas eu não dormiria do lado dele por nada. Ficou quietinho, todo mundo pensava que o Frank Underwood era eu. Mas é ele, né? Mas, se ele garantir minha liberdade, meu posto na Câmara e meus negócios, terá sempre meio apoio. Acho que eu mereço, já mostrei do que sou capaz. Depois que isso tudo passar, vou fazer fonoaudiologia. Não gostei nada das comparações da minha voz com o falsete da MC Melody.

    Peraí: 341... 342.... conseguimos! Não? Voltou pra 340? Malditos!

    Não vou perder as contas. Dois milhões de dólares, três milhões, quatro milhões. Isso é relaxante.

    E aí? Já chegamos aos 342? Ainda tem tempo! Se a gente estiver perdendo, adia que ainda dá tempo! Vota de novo, de novo e de novo, até sair o resultado que eu quero. Democracia é isso.

    *

    LULA
    É cada sapo que a jararaca tem que engolir...

    Quase na hora e eu aumentando minhas promessas pra conseguir esses votos... Cada coisa que eu tive que inventar. Já prometi umas voltinha nos pedalinho dos menino, já prometi fim de semana no Guarujá –com tudo incluído. Prometi até voltar em 2018 e fazer cada um muito feliz. É muito safricri... cada safriciquio... É cada sapo que a jararaca tem que engolir que não é brincadeira, não! Deve ser praga do Brizola, que teve que me engolir!

    Espero que funcione a condução coercitiva que eu fiz com esses deputados pelo paraíso das coisas que eles terão no meu terceiro mandato –digo, no segundo mandato de Dilminha, caso esse impeachment não seja aprovado.

    Nem todo mundo gostou desse meu papel, mas política é política, né? O pessoal do hotel, por exemplo. Ficaram pê da vida comigo porque, desde que eu comecei a conversar com deputado, lá nunca tem dinheiro no caixa eletrônico da recepção. Falei para eles que não sei de nada. Eu nunca sei de nada mesmo.

    Eu não tô gostando nada dessa falta de respeito com o maior líder da história deste país, no caso, eu. E o mais honesto. Vocês acham que é fácil você convencer a mulher que não precisa de obra, quando os meninos da empreiteira oferecem para reformar a cozinha del... Digo, da casa do seu amigo? Nunca na história desse país alguém convenceu minha mulher de alguma coisa!

    Olha aí, mais um sendo traíra, logo esse que eu ajudei tanto. Agora diz que vai votar para a Dilma sair. E outro! Será que já está na hora de perguntar pra galega onde estão os passaportes italianos? Eu nem tinha pensado nisso mas gostei da ideia dos meninos da "Veja". Arrivê..., arrir vê..., arrirvedête, Cunha, meu querido!

    Brincadeira, claro. Com o que eu sei de italiano, se eu fosse pra lá, ia virar um boi, porque só ia saber pedir espaguete. Eu queria ficar mesmo é curtindo o Guarujá, com meu isopor, minhas fitas-cassete de sertanejo. O Dudu Paes falou que eu tenho alma de pobre, vai ver ele tem razão. Pior que fiquei até com vontade de conhecer Maricá.

    Tá chegando a hora da votação. Ainda bem que não tô perto da Dilminha. É um perigo ficar perto de um poste quando ele está para cair.

    *

    TEMER
    Nasci pra isso: discurso bem e quase não tenho barriga

    Alea jacta est. A sorte está lançada e tudo indica que os dados estão ao meu favor. Digo, a favor do melhor para o Brasil, claro. O Brasil me merece. Nasci para isso. Tenho alma de estadista, sou elegante, discurso bem, quase não tenho barriga e vou dar ao Brasil a primeira-dama mais bela que esse país já viu. Nem as mulheres de Obama e Macri chegam aos pés de Marcelinha. Minha deusa, mais bela que as mais lindas flores. In maxime pulchra flores. Pena que ela odeia Brasília. Ainda preciso convencê-la a morar nesta cidade. Ou será que é melhor ela ficar em São Paulo até o fim da gravidez? Terno cinza ou azul-marinho na posse? Falando em posse, palavras importantes para meu futuro discurso: cumplicidade e pacificação nacional. Sou o salvador de que este país precisa. Pace et sapere. Com sorte, alguém ainda vai me comparar a Tancredo Neves. Talvez seja o caso de alguém de confiança dar essa dica aos articulistas. Ou vazar um áudio de alguém fazendo esta correlação.

    Pode ser que o terno preto seja melhor. Mas aquela história de mordomo e drácula pode vir à baila. Melhor não. O azul-marinho me rejuvenesce. Será que antes de o Senado colocar a pá de cal neste governo consigo fazer uma pequena intervenção para tirar essas bolsas os olhos? Às vezes acho que o Cunha está correndo demais com isso. Marcelinha ainda nem escolheu o vestido da posse. E, por falar em Cunha, o que fazer com ele depois, diante do clamor popular? Corvus oculum corvi non eruit. Um corvo não arranca o olho de outro corvo. Preservá-lo-ei o quanto puder. Só não sei quanto tempo.

    Ad cautelam, tenho que me lembrar de não usar mais a palavra cepa. Nem verbo granjear. Preciso me aproximar do povo, falar a língua deles. Me aproximar de longe, claro. Eles lá com o famigerado Bolsa Família, eu aqui com meu poder e meus seguidores, novos e antigos. Que delícia é o beija-mão! Decorativo nunca mais! Ela há de se arrepender de ter me tratado com inútil. Ela há de perder. Ela há de sofrer. Ah, devo esquecer esses pensamentos de ódio e vingança! Sou um conciliador. Um ser superior. E sou modesto. Muito modesto. Modesto até o último fio de cabelo, implantado ou não! O mais modesto de todos!

    Terno cinza ou azul-marinho?

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