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    o impeachment

    Resultado de votação é recebido com buzinaço, gritos e choro em SP

    ANGELA BOLDRINI
    ARTUR RODRIGUES
    BRUNO SORAGGI
    EMÍLIO SANT'ANNA
    GIBA BERGAMIM JR.
    PAULO SALDAÑA
    DE SÃO PAULO

    17/04/2016 23h19

    Foi parecido com o último chute para fora do gol do jogador italiano Roberto Baggio na Copa de 1994, quando a seleção brasileira ganhou o tetracampeonato.

    Mas as pessoas, muitas delas com camisas verde e amarelo da seleção de futebol, comemoravam o 342º voto favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.

    Entre os que vibravam, alguns choraram, e muitos gritavam "fora, PT" assim que o último voto "sim" foi declarado. Até a batucada parecia com uma torcida organizada. No samba a favor do impeachment, tinha caixa, surdo e tamborim.

    Pouco antes, locutores do MBL (Movimento Brasil Livre) se revezavam numa contagem regressiva. "Faltam muito poucos votos para o Brasil voltar a ser livre", disse um deles, várias vezes.

    Em cima do palco do MBL jovens passaram a votação toda dançando. Com pixuleko (apelido dado a bonecos que mostram Dilma e Lula com roupas de presidiários) na mão o tempo todo e de olho no telão, o engenheiro Luciano Morozowski, 40, comemorava cada voto a favor.

    "Ela vai ser julgada pelas pedaladas e pelas consequências dessas pedaladas, mas acredito que tem muito mais motivos para ela cair. Mais crimes surgirão e não vai ser o Senado que vai segurar", disse Morozowski.

    Giba Bergamin Jr./Folhapress
    Manifestantes comemoram a aprovação do prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma
    Manifestantes em SP comemoram prosseguimento do processo de impeachment de Dilma

    REZANDO PELA SAÍDA

    Mãos juntas e olhos fechados, a assessora de eventos Juliana Nascimento, 25, passou boa parte da votação orando. Da religião Batista, ela disse que "conversava com Deus" pelo país.

    "Queremos que o país e os brasileiros não se afoguem. O Temer não é a solução, mas o impeachment é para a gente respirar diante da situação. Depois do impeachment, deve ter uma limpeza geral", disse.

    Católico não praticante, o namorado dela Felipe Gennari, 27, que é consultor em educação, passou o tempo todo agarrado a Juliana durante a votação.

    Eles chegaram ao meio-dia na Paulista e acompanharam voto a voto a sessão do impeachment, que começou às 17h. "A gente não sai daqui enquanto não acabar a votação", disse ele, que, junto com Juliana, foi em vários atos pró-impeachment na avenida.

    BEBÊ AO ALTO

    Pouco antes da votação final, a professora Gisele subiu ao palco do MBL com seu bebê de 6 meses no colo.

    Ela, que foi até lá com o marido e outros dois filhos mais velhos, ergueu o menino vestido com um body verde numa cena parecida com o nascimento do "Rei Leão", no filme da Walt Disney que foi sucesso nos anos 1990.

    Veja vídeo

    Gisele diz que foi à Paulista espontaneamente e foi chamada ao palco pelos integrantes do movimento após mostrar um cartaz que fez com os filhos. Nele estavam uma cueca infantil com a sigla PT e notas falsas de dinheiro em volta.

    "Meu filho chegou no meio de uma crise que nos deixou apavorados. Embora todos sejam corruptos, esse aqui é pontapé inicial da limpeza da política. Eu e meu marido estamos aqui pelos nossos filhos."

    Quando só faltavam 20 votos para o impeachment avançar, a Paulista entrou em contagem regressiva. "Contagem regressiva para o fim do PT, contagem regressiva para o fim do comunismo", disse o mestre de cerimônias do palco da Fiesp quando faltavam 10 votos. "Ai, ai, ai, ai, tá chegando a hora", o publico respondia cantando.

    Quando o último deputado deu o voto decisivo, várias pessoas começaram a chorar. "Não tem explicação pra emoção que estou sentindo", disse Tanise Oliveira, 28, que chorou durante o hino nacional.

    FIESP

    A Fiesp então projetou a bandeira nacional em sua fachada, algo que tinha sido proibido por infringir a Lei Cidade Limpa. Os manifestantes cantaram o grito "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor", comum em jogos da seleção brasileira.

    Lívia Sampaio/Folhapress
    Fiesp projeta bandeira do Brasil na fachada do seu prédio-sede na Pav. Paulista, apesar de proibição por infringir lei
    Fiesp projeta bandeira do Brasil na fachada de sua sede, mesmo após proibição por infringir lei

    O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, disse acreditar na melhora da confiança na economia já a partir de segunda-feira (18). "De uma mudança, nasce uma esperança. Não tenho dúvidas de essa votação vai trazer a confiança de volta. A simples indicação desse resultado já mexeu com os mercados. A Bolsa subiu e o dólar caiu na semana passada", disse Skaf.

    O presidente da Firjan, Eduardo Eugênio, disse, depois de acompanhar a votação ao lado de Paulo Skaf, que espera que o Senado defina pelo impeachment o mais rápido possível, para que a confiança e a economia possam entrar numa rota de crescimento.

    "Precisamos sepultar esse capítulo da nossa história. Michel Temer tem condições de formar uma agenda de crescimento. Precisamos do equilíbrio fiscal para a retomada dos investimentos, para a volta dos empregos e da confiança no país. O mundo acredita no Brasil", disse.

    FOGOS E CARRETA FURACÃO

    Em bairros como a Vila Mariana, Mooca, Pinheiros, Vila Madalena e Chácara Klabin, foram ouvidos rojões e panelaços. Gritos de "valeu, Cunha!" também foram ouvidos.

    Na Paulista, o apresentador Danilo Gentili subiu ao palco após o 342º voto e disse que Dilma "está com o cu na mão de perder o emprego". Na sequência, anunciou a banda Carreta Furacão, "a banda mais importante do mundo".

    CHORO DOS ACAMPADOS

    O gerente comercial Maurício Fungaro Pelosi, 28, passou um mês acampado na Paulista antes de ver o impeachment. Depois do último voto, estava sentado em uma cadeira, bastante emocionado. "É muita alegria, não dá pra descrever. Porque eu me lasquei tanto para ficar aqui, no trabalho, tanta gente que não acreditava, falava que não iria mudar".

    Segundo ele, o grupo de cerca de 50 pessoas teve muitos conflitos, mas a amizade agora vai durar pra sempre. "A gente viveu junto muita coisa importante", disse.

    Artur Rodrigues/Folhapress
    SÃO PAULO - o gerente comercial Maurício Fungaro Pelosi, 28, passou um mês acampado na Paulista antes de ver o impeachment. Depois do último voto, estava sentado em uma cadeira, bastante emocionado. "É muita alegria, não dá pra descrever. Porque eu me lasquei tanto para ficar aqui, no trabalho, tanta gente que não acreditava, falava que não iria mudar". Segundo ele, o grupo de cerca de 50 pessoas teve muitos conflitos, mas a amizade agora vai durar pra sempre. "A gente viveu junto muita coisa importante"
    Ogerente comercial Maurício Fungaro Pelosi, 28, que passou um mês acampado na avenida Paulista

    HIGIENÓPOLIS

    Assim que a Câmara atingiu votação suficiente para dar prosseguimento ao impeachment de Dilma Rousseff, na noite deste domingo (17), moradores do Higienópolis, bairro que se mostrou comedido durante toda a votação (foram poucos os gritos e fogos de artifício ao longo da tarde) foram às janelas piscar luzes, bater panelas, soprar cornetas e gritar impropérios contra a presidente e seu partido, o PT.

    Frases como "Fora Dilma", " Dilma ditadora", "Chupa Dilma" e "Dilma, sua vaca" foram ouvidos por volta das 23h10. No cruzamento da avenida Higienópolis com a avenida Angélica, muitos carros passaram buzinando e piscando faróis. A comoção, porém, durou pouco. Cerca de dez minutos depois o clima de silêncio dominical voltou a tomar conta do bairro.

    ESVAZIAMENTO

    Foram abraços, alguns soluços, choro contido e meia-volta para o Metrô. Nem bem o último voto foi lido na Câmara dos Deputados e a avenida Paulista começou a esvaziar. Enquanto a Carreta Furacão tocava, os paulistanos seguiam em direção às estações Trianon e Consolação.

    Enrolado em bandeiras do Brasil, vestindo a camisa da seleção ou empurrando o carrinho de bebidas, a festa não se estendeu. Nem Danilo Gentili e os personagens da já citada carreta seguraram a população na avenida. "Vim fazer minha parte", dizia Carla Gomes, 36, professora da rede pública municipal. Ela segurava as lágrimas logo após o último voto.

    O show começou no palco do MBL e pouco depois ela se foi. A poucos metros o orçamentista de obra Marcos ferreira dos Santos, 42, se ajeitava para ir para casa. Não ficou para a festa. O caminho até Itaquera é longo, melhor garantir o Metrô.

    Pouco antes das 23h30, a PM se preparava para abrir a pista da avenida no sentido Consolação. Ali, alguns senhores de terno confraternizavam no sentido dos Jardins.

    Iam de encontro a poucas pessoas que saíam do metro Consolação. Uma delas, uma menina de camiseta vermelha, ouviu um insulto de um casal gay que entrava. "Gente, eu sou como vocês", retrucou.

    O casal, de verde e amarelo, não parou, mas ainda deu tempo de cruzar com um manifestante contra o impeachment que perguntava aos berros se as catracas estariam liberadas "para os fascistas". O casal seguiu em frente, segunda -feira estava logo ali. O fim do governo Dilma, acreditam, também.

    MANIFESTAÇÕES EM SÃO PAULO - Veja a evolução dos atos pró e contra o governo, segundo o Datafolha<br><br><b>PÚBLICO EM SP, EM MIL</b>

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