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    Lava Jato

    Lava Jato precisa prosseguir qualquer que seja o governo, diz procurador

    JULIANA COISSI
    DE CURITIBA
    GRACILIANO ROCHA
    ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
    BELA MEGALE
    DE SÃO PAULO

    18/04/2016 15h58

    Paulo Lisboa - 19.jun.2015/Folhapress
    Carlos Fernando dos Santos Lima (à esq.) e o delegado Igor Romário de Paula durante coletiva

    As investigações reveladas pela Operação Lava Jato, que apura um grande esquema de corrupção na Petrobras envolvendo políticos e empreiteiras, precisam ter sequência seja ainda durante o governo Dilma Rousseff (PT) seja em um eventual governo Michel Temer (PMDB) caso o impeachment seja aprovado.

    A opinião é do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos integrantes da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. À Folha ele comentou nesta segunda-feira (18) o resultado da votação do dia anterior na Câmara dos Deputados, que foi favorável ao avanço do processo de impeachment no Congresso.

    "Nosso posicionamento é o de que, independentemente do governo, há que se respeitar as investigações da Operação Lava Jato e que elas devem prosseguir até a revelação dos esquemas criminosos que macularam nosso sistema político-partidário", afirmou o procurador.

    Ainda segundo Lima, existem tentativas de "macular a reputação" dos investigadores da Lava Jato, incluindo delegados e procuradores, em especial o juiz Sergio Moro, que conduz os processos em primeira instância.

    O procurador diz esperar que estas ameaças "encerrem-se por completo, pois o uso desses expedientes pode caracterizar crime de obstrução à Justiça, dentre outros".

    Em sua página no Facebook e também no Twitter, o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa no Ministério Público Federal de Curitiba, também se manifestou nesta segunda sobre o resultado da votação na Câmara.

    Para Dallagnol, o resultado no Legislativo não muda o curso das investigações da Lava Jato. "A decisão não afeta a Lava Jato, que é uma investigação técnica, imparcial e apartidária."

    Qualquer que fosse a decisão, ainda segundo Dallagnol, "a Lava Jato continuará tendo muitos inimigos, cujo número cresce a cada dia em que o número de investigados aumenta".

    A operação, diz ele, "continuará a ser atacada, de modo ostensivo e sorrateiro, e nossa única proteção é a sociedade".

    'CASO DE POLÍCIA'

    Integrantes da força-tarefa da Lava Jato minimizaram o risco da provável substituição da presidente Dilma Rousseff pelo vice Michel Temer –líder do PMDB, um dos partidos beneficiários do petrolão– possa respingar nas investigações em curso.

    "A sociedade deu independência ao Ministério Público na Constituição de 1988, fazendo-o uma instituição de Estado e não de governo. Ou seja, independentemente de quem estiver no governo, as investigações continuam como antes. A investigação do caso Lava Jato é um caso de polícia, e não um caso de política", disse Dallagnol, por meio de nota distribuída nesta segunda-feira (18).

    Atualmente, há mais de 50 congressistas sob investigação no STF (Supremo Tribunal Federal), muitos deles peemedebistas.

    O número tende a subir se forem concretizadas novas delações premiadas em processo de negociação, como a da cúpula da Odebrecht.

    Na "lista da Odebrecht", como ficou conhecido o conjunto de planilhas apreendido em fevereiro pela PF, estão listados supostos repasses a 314 políticos de 24 partidos.

    Na semana passada, antes da votação do impeachment, Dallagnol disse à BBC Brasil que um dos riscos que a Lava Jato corre é ser asfixiada por meio da aprovação de leis que restrinjam os instrumentos de investigação, repetindo o desfecho da Operação Mãos Limpas, na Itália.

    Na nota distribuída nesta segunda, Dallagnol disse que a continuidade da Lava Jato depende, sobretudo, do apoio da opinião pública.

    "[Com o impeachment] não só os potenciais continuam os mesmos, mas também os riscos. A operação acumula inimigos a cada dia em que o rol de investigados aumenta, e eles continuarão tentando minar as investigações, de modo ostensivo ou sorrateiro, qualquer que seja o governo. A nossa defesa é a sociedade."

    Principal cérebro por trás das negociações das delações premiadas em Curitiba, um dos pilares da Lava Jato, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima disse que espera a aprovação do projeto das dez medidas anticorrupção, entregue com mais de 2 milhões de assinaturas ao Congresso, em março.

    "As investigações não se resolvem com qualquer solução política", disse em nota.

    Procurado, o delegado Igor Romário de Paula, que coordena a equipe de delegados da Polícia Federal nas investigações da Lava Jato em Curitiba, disse que a corporação não se manifestaria sobre a votação deste domingo. "A situação ainda é tão incerta que não dá para ter perspectiva nenhuma."

    Procurado neste domingo e na segunda, o juiz Sergio Moro respondeu, via assessoria, que não iria se manifestar sobre o resultado da votação no Legislativo.

    QUEM TENTAR INTERVIR VAI SE DAR MAL

    O grupo de trabalho da PGR (Procuradoria Geral da República) não se manifestou publicamente sobre um eventual governo Temer, mas procuradores ouvidos pela Folha afirmaram que os trabalhos continuam da mesma forma.

    Um dos investigadores ouvidos pela reportagem também minimizou a possível substituição da presidente Dilma afirmando que não há preocupações de que aconteça a obstrução da operação, e irá se dar mal que agir nesse sentido.

    Integrantes da Polícia Federal afirmaram que a votação pela continuidade do impeachment trouxe mais incerteza para os rumos da operação e que ainda é cedo para traçar um cenário que possa comprometer a Lava Jato.

    Datafolha - Lava Jato

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