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    Lava Jato

    Dinheiro para silêncio de Cerveró foi entregue em caixas de vinho e sapato

    MÁRCIO FALCÃO
    AGUIRRE TALENTO
    GABRIEL MASCARENHAS
    DE BRASÍLIA

    19/04/2016 16h37

    Alan Marques - 16.abr.2014/Folhapress
    GALERIA DILMA ROUSSEFF: MANDATOS E CRISE - O ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró fala na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados
    O ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró

    Ex-chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), Diogo Ferreira afirmou aos investigadores da Lava Jato que pagamentos para a tentativa de comprar a delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró foram feitos em caixas de vinho, sapato e envelope branco.

    Os repasses foram combinados entre o senador e Maurício Bumlai, filho do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

    Diogo contou que fez três viagens a São Paulo para pegar os recursos, entre junho e agosto de 2015, quando o dinheiro foi repassado para o advogado Edson Ribeiro, que atuava na defesa do ex-diretor da Petrobras. Em uma das três ocasiões, o dinheiro foi entregue pelo próprio Maurício, em um envelope branco.

    Um dos encontros ocorreu no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Quando entrou no automóvel, o motorista, que seria de Maurício Bumlai, informou que "no banco do carona, e no soalho havia uma sacola com uma caixa de um vinho".

    Em outra oportunidade, ele disse se recordar que recebeu uma sacola de uma loja de departamento, "com uma caixa de sapatos fechada com fita adesiva, que havia um buraco na caixa de sapatos, permitindo ao depoente ver, como efetivamente viu, que havia dinheiro em espécie em seu interior".

    A delação de Diogo reforça a acusação de Delcídio de que Lula atuou para tentar impedir a colaboração de Cerveró. Ele contou que o senador relatou encontro com Lula, em um hotel em Brasília, na qual o ex-presidente relatou preocupação com a fala de Cerveró e os desdobramentos das investigações do esquema de corrupção da Petrobras.

    "Em mais de uma ocasião o senador Delcidio do Amaral comentou com o depoente que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestava preocupação com a Operação Lava Jato, especificamente com sua incisividade", diz a delação.

    "Que em determinada ocasião, ao que se recorda o depoente entre abril e maio de 2015, o senador Delcidio do Amaral comentou com o depoente que participou de uma reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, [...] no hotel onde este estava hospedado, e que, na ocasião, o ex-presidente manifestou preocupação com a hipótese de Nestor Cerveró vir a fazer acorda de colaboração premiada", completou.

    Diogo contou que Delcídio "mantinha relação de amizade próxima com Cerveró".

    Segundo ele, Delcídio justificava que os recursos eram destinado "a prover ajuda financeira a família de Nestor Cerveró, a qual estaria passando necessidades em razão de estar com seus bens bloqueados e de Nestor não estar recebendo salário", disse.

    Diogo Ferreira afirmou também em sua delação que a presidente Dilma Rousseff pediu ajuda para obter na Justiça a soltura do empreiteiro Marcelo Odebrecht, preso na Lava Jato sob acusação de corrupção.

    Pedro Ladeira - 25.nov.2015/Folhapress
    O ex-chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS), Diogo Ferreira
    O ex-chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS), Diogo Ferreira

    PLANO B

    O ex-chefe de gabinete de Delcídio afirmou que chegou a receber uma mensagem de Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, por aplicativo de celular, informando que não precisaria mais de ajuda financeira porque "pois seu pai se resolverá pela colaboração".

    Em outubro, no entanto, o advogado de Cerveró pede que o auxílio financeiro seja retomado e que respondeu, por orientação de Delcídio, que estavam, dispostos a ajudar.

    Diogo afirmou ainda que Delcídio comentou com o advogado de Cerveró que o banqueiro André Esteves seria o "plano B" para efetuar o pagamento de honorários de Edson Ribeiro "caso a seguradora da [Petrobras] não o fizesse".

    Procurada, a defesa de Maurício Bumlai informou que não teve acesso aos termos da delação, mas disse reiterar que seu cliente nunca repassou valores a Delcídio ou a Diogo, conforme esclarecido em depoimento à Procuradoria Geral da República.

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