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    o impeachment

    Após crítica de Lula, articulador do PMDB diz que luta política é esperada

    PAULA REVERBEL
    DE SÃO PAULO

    20/04/2016 11h14 - Atualizado às 20h39

    O ex-ministro e ex-deputado federal Eliseu Padilha, aliado do vice-presidente Michel Temer (PMDB), disse nesta quarta-feira (20), antes de se encontrar com o peemedebista, que a "luta política é esperada", em resposta às criticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva –o petista reclamou sobre o vice estar montando a equipe de seu governo sem que a presidente Dilma Rousseff tenha sido afastada.

    "A luta política é esperada. Eu acho que, neste momento, o melhor que nós podemos fazer é observar, observar, observar e definir", declarou. "Nós estamos ainda vivendo o processo de impeachment, não se tem certeza do que pode acontecer, então a gente tem que raciocinar como alguém que está fora do governo e o governo tem que cumprir o seu papel –e o presidente Lula, pelo que vejo, fala em nome do governo", acrescentou.

    Padilha é um dos principais articuladores do PMDB que está trabalhando com Temer.

    O ex-ministro da Secretaria de Aviação Civil no governo Dilma também reiterou a declaração dada por Temer na terça (19): "Vamos ficar paciente e silenciosamente aguardando a decisão do Senado". Defendeu que é natural que ele e o vice se encontrem e que esta reunião é "de rotina".

    JUCÁ

    O senador Romero Jucá também foi para encontro com Temer e afirmou que, caso o vice assuma, ele já terá condições de nomear a sua equipe ministerial. Disse que a espera de Temer é silenciosa apenas na manifestação.

    "É uma espera silenciosa na manifestação, não é uma espera paralisante. O presidente Temer não estará paralisado, ele está atuando", disse, acrescentando que o vice sabe dos seus limites. "É claro que, quando ele assumir, estará preparado para dar posse a um novo ministério", afirmou.

    Jucá classificou como "urgente" a necessidade de apreciação do processo do impeachment no Senado. "Nós temos hoje no Brasil uma paralisia", disse. "Temos uma zona cinzenta hoje de um governo que não tem legitimidade, que não tem capacidade de atuação, que não tem credibilidade", acrescentou.

    Ele afirmou ainda que os participantes da reunião estão muito preocupados com a imagem do Brasil no exterior, já que Dilma e Lula classificam o processo de impeachment como um golpe em curso.

    "Estamos muito preocupados com o tipo de mensagem equivocada e até maléfica que está sendo passada para setores internacionais que não têm o detalhe dos procedimentos constitucionais do Brasil e podem ser enganados", afirmou.

    Na entrada do encontro o parlamentar negou que foi à reunião conversar sobre uma divisão ministerial, mas para, nas palavras dele, "trocar ideia".

    GEDDEL

    Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Integração Nacional no governo Lula, também foi ao encontro. Na entrada, ele disse que Dilma precisa parar de "se vitimizar" e que a presidente perdeu a governabilidade.

    "A presidente Dilma tem que parar com essa história de tentar se vitimizar e de denegrir a imagem do Brasil. O que a presidente Dilma tem é que respeitar a constituição e parar com essa conversa fiada de que houve golpe", atacou. "Ela perdeu a maioria no Congresso, teve cem votos. Quem consegue só cem votos em uma votação importante dessas perdeu qualquer condição de governabilidade", completou.

    Na votação de domingo na Câmara, 137 deputados votaram a favor de Dilma e 367 deputados votaram contra, mais do que os 342 necessários para que a ação do impeachment seguisse para o Senado.

    Geddel ainda disse que Dilma cometeu crime de responsabilidade.

    O ex-deputado José Yunes, amigo de Temer, disse que as falas de Lula e Dilma, que classificam o processo em curso como um "golpe", são "invenção de mau perdedor". O cientista politico Gaudêncio Torquato chegou junto com Yunes e, quando viu a imprensa montando as câmeras, entrou novamente no carro.

    Moreira Franco, ex-ministro da Secretária de Aviação Civil na gestão Dilma e presidente da Fundação Ulysses Guimarães, chegou para o encontro junto com Geddel, mas não falou com a imprensa.

    O promotor Roberto Porto (PMDB), ex-controlador-geral do município de São Paulo na gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), também foi ao encontro sem falar com jornalistas.

    Algumas horas depois que Temer voltou para sua casa, o economista e ex-ministro Antônio Delfim Netto saiu de uma visita a ele. Perguntado se recebeu convite para algum ministério, Delfim Netto disse que tem 88 anos. "Você acha que eu sou louco de aceitar convite [para ministério]?", brincou.

    Questionado por jornalistas se veio dar ideias para um eventual governo, o economista respondeu: "Ele (Temer) não precisa de ideias, ele tem boas ideias". "Acho que esse processo vai terminar naturalmente, o Brasil vai encontrar o seu caminho, o Brasil vai voltar a crescer", disse.

    MANSUR

    O deputado Beto Mansur (PRB-SP), que também se reuniu com Temer nesta quarta, desconversou quando perguntado se o seu partido teria participação em um eventual governo do peemedebista.

    Segundo Mansur, os partidos que apoiam o impeachment da presidente Dilma "participariam do governo em uma coalizão como em qualquer democracia".

    Para Mansur, o país precisa se unir para recuperar a economia e os investimentos. O deputado diz acreditar que o vice-presidente está desapontado com parte das críticas que recebe, já que "muitas delas são infundadas" e que o impeachment "não é golpe".

    "Mas ele é sério e vai montar uma grande equipe", disse. "Temos que achar as grandes cabeças do Brasil para os diversos setores de atividade e para trazerem ideias que resolvam os problemas do país."

    CLIMA ATUAL

    A presidente chamou Temer de "traidor" e "conspirador" em seu pronunciamento na segunda (18), um dia após a Câmara aprovar o impeachment dela.

    "É inusitado, é estranho, é estarrecedor que um vice-presidente no exercício de seu mandato conspire contra a presidente abertamente. Em nenhuma democracia do mundo uma pessoa que fizesse isso seria respeitada, porque a sociedade não gosta de traidor. Por que não? Porque cada um de nós sabe a injustiça e a dor que se sente quando se vê a traição no ato", criticou.

    A situação entre os dois quase fez Dilma desistir de viajar aos EUA para participar da cerimônia de assinatura do Pacto de Paris, na ONU (Organização das Nações Unidas). Ela demonstrava resistências em deixar o peemedebista à frente do cargo durante o período.

    O presidente do PT, Rui Falcão, disse nesta terça (19) que "não haverá trégua nem estabilidade" para um eventual governo Temer. Segundo Falcão, o PT decidiu não reconhecer uma posse do vice e dizer para a população que esse seria governo ilegítimo.

    Mais cedo, Lula se reuniu com o comando do PT e avaliou que a campanha contra Temer deverá perdurar até 2018, quando ocorrerão novas eleições. O ex-presidente pregou oposição ao peemedebista desde já, mas sugeriu que o movimento não seja agressivo para que o PT não seja responsabilizado na hipótese de um fracasso do governo Temer.

    Time de temer

    Colaborou RENAN MARRA, de São Paulo

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