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    o impeachment

    Análise

    Presidente e vice tropeçam juntos no exterior

    MATIAS SPEKTOR
    COLUNISTA DA FOLHA

    23/04/2016 02h00

    Dilma e Temer levaram sua competição para fora esta semana, mas tropeçam juntos quando o tema é comunicação internacional.

    Ela obteve alguma simpatia da imprensa mundial na esteira do circo de domingo passado na Câmara.

    Embalada pela onda, Dilma anunciou uma viagem de último minuto à ONU, onde faria denúncia contundente contra o suposto golpe branco. A presidente, porém, viu-se forçada a recuar diante da reação de três ministros do Supremo, para os quais um gesto dessa natureza seria ofensivo às instituições.

    Chegando a Nova York, a presidente terminou fazendo um discurso anódino. Em conversas com a imprensa estrangeira ao longo do dia, repetiu os argumentos de sempre, sem introduzir um mote capaz de consolidar-lhe a pequena vantagem.

    Não traduziu para o público estrangeiro sua versão sobre as pedaladas, não explicou as contas de campanha, não ofereceu uma visão para salvar a economia ou combater a corrupção que domina as manchetes mundo afora.

    Carente de ideias, parte do governo gostaria que ela adotasse a linha seguida pelo jornalista Glenn Greenwald, para quem o impeachment seria um plano da plutocracia brasileira para jogar Dilma aos leões, na tentativa de abafar a Lava Jato.

    Para Greenwald, a mídia enviesada, o Judiciário seletivo e a classe política maculada por corrupção endêmica estariam operando para destronar uma presidente honesta e sem crime nas costas.

    Dilma terá a chance de embarcar nessa canoa quando der entrevista a Christiane Amanpour, a âncora da CNN que nos últimos dias levou ao ar conversas similares com o próprio Greenwald e com o ex-ministro Celso Amorim.

    Temer também correu atrás da imprensa estrangeira esta semana. Em entrevistas a "Wall Street Journal", "Financial Times" e "New York Times", ele questionou a tese do golpe. Se golpe fosse, disse, Dilma não teria viajado para o exterior, deixando-o no comando.

    Se golpe fosse, insistiu, a corte suprema do país não teria referendado o voto de uma assembleia de deputados eleitos de acordo com as regras do jogo.

    Temer, porém, não consolidou vantagem. Neste caso, o problema é que o vice se recusou a partir para cima do governo. Não insistiu que o governo tem culpa no cartório, nem listou seu crimes.

    Não disse que os partidos agora demonizados pelo Planalto –inclusive o do vergonhoso Bolsonaro– eram até outro dia aliados.

    O vice perdeu espaço valioso nos principais jornais falando de suas desavenças pessoais com a presidente, sem entender que ninguém lá fora dá a mínima para o tema. O mundo quer saber é se ele fará algo diferente em relação à economia e se tem um plano para reconstruir o sistema político-partidário destroçado pelo petrolão.

    Depois de esquentar esta semana, a disputa de narrativas atingirá temperatura máxima nos próximos dez dias. Nenhum dos competidores goza de uma clara dianteira.

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