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    Lava Jato

    STF mantém Marcelo Odebrecht preso e tira da cadeia dois ex-executivos

    MÁRCIO FALCÃO
    DE BRASÍLIA

    26/04/2016 17h24

    Paulo Lisboa - 1º.set.2015/Efe
    BRA02 CURITIBA (BRASIL), 01/09/2015.- El presidente de Odebrecht, Marcelo Bahia, y otros cuatro exdirectivos de la constructora se atuvieron a su derecho a permanecer en silencio frente a un grupo de diputados que investiga las corruptelas detectadas en la estatal brasileña Petrobras, hoy martes 1 de septiembre de 2015, en Curitiba, Brasil. El presidente del grupo, Marcelo Odebrecht, y los otros cuatro exejecutivos de la constructora están detenidos en esa ciudad en el sur del país, hasta donde se desplazaron los diputados en un vano intento por obtener información sobre la supuesta participación de la firma en el escándalo que se investiga en la petrolera. EFE/ Paulo Lisboa ORG XMIT: BRA02
    Marcelo Odebrecht, durante depoimento na CPI da Petrobras

    O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta terça-feira (26) manter a prisão de Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do grupo Odebrecht, e tirar da cadeia dois ex-executivos da empresa.

    Os três estão presos preventivamente há mais de dez meses por determinação da Justiça do Paraná diante da ligação com o esquema de corrupção e tiveram habeas corpus analisados pela segunda turma do STF.

    Por 3 votos a 2, os ministros entenderam que a liberdade de Marcelo Odebrecht ainda oferece risco para as investigações, uma vez que ele pode interferir, por exemplo, na coleta de provas.

    Isso porque há elementos de que o empreiteiro tentou perturbar a Lava Jato, colaborando e direcionando a defesa de aliados e eliminando registros, além de tentar exercer influência sobre autoridades que poderiam interferir em seu caso.

    A manutenção da prisão foi defendida pelo relator da Lava Jato, Teori Zavascki, que foi seguida pelos colegas Cármen Lúcia e Celso de Mello.

    "Os elementos apresentados pelo juiz (Sérgio Moro), digo eu, permitem de fato constatar a presença de indícios de que o paciente [Marcelo] estaria agindo, com perspectiva de êxito ou não, o que é irrelevante para essa análise, no sentido de perturbar a investigação, seja por meio da orientação de seus subordinados para que destruíssem provas, seja por meio de tentativa de apoio político ou de corrupção de servidores da Polícia Federal", afirmou Teori.

    O ministro citou como indícios anotações que continuam orientações para executivos apagarem dados de seus celulares, evitar movimentação em contas bancárias e ainda "vazar doação de campanha".

    Gilmar Mendes e Dias Toffoli avaliaram que não há justificativa para manter o empreiteiro detido e defenderam medidas alternativas, como prisão domiciliar e uso de tornozeleira. Gilmar criticou excessos de prisões preventivas.

    A defesa de Odebrecht avalia se vai apresentar recurso a própria turma questionando a decisão. No julgamento, o advogado Nabor Bulhões afirmou que houve irregularidade nas sucessivas decretações de prisão do empreiteiro e que havia interesse de Moro em manter o empresário preso a qualquer custo. Bulhões disse ainda que a prisão era insustentável e defendeu que os tribunais não podem usar prisão como "injusto" instrumento de antecipação de punição.

    Ex-presidente da maior empreiteira do país, Marcelo já foi condenado pelo juiz Sergio Moro a 19 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e por integrar organização criminosa. Ele teria atuado para obtenção de contratos que somam R$ 12,6 bilhões de parte das obras do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio), da refinaria Abreu e Lima (Rnest, PE) e da refinaria Getúlio Vargas (Repar, PR). Ele ainda responde a outra ação penal. A prisão, no entanto, é motivada pela tentativa de obstruir as investigações.

    DOMICILIAR

    No julgamento, os ministros decidiram aplicar medidas alternativas os ex-executivos da Odebrecht Márcio Faria da Silva e Rogério Araújo, como prisão domiciliar e tornozeleira eletrônica.

    Por 3 votos a 2, a maioria dos ministros avaliou que o fato de Márcio Faria da Silva ter dupla nacionalidade (brasileira e suíça) e ter enviado R$ 11,4 milhões para o exterior após o inícios da investigações do esquema de corrupção não justificavam a manutenção da prisão.

    Os ministros Gilmar Mendes, Celso de Mello e Dias Toffoli votaram para que ele passe a cumprir pena em prisão domiciliar. Para esses ministros, o fato de ter recursos no Brasil e no exterior não indica risco de fuga.

    "Nos dias de hoje a fuga não parece ser atrativo. Se verificarmos desde o caso PC Farias até a AP 470 [julgamento do mensalão], os fugitivos vieram ser capturados. Penso que a tornozeleira eletrônica é suficiente", disse Dias Toffoli.

    Os ministros Teori Zavascki e Cármen Lúcia defenderam manter a prisão, diante do risco de fuga.

    "Não consigo superar esse fundamento de que no curso das investigações houve remessa ao exterior e tem dupla nacionalidade", argumentou Teori ao defender que há receio de fuga.

    Por unanimidade, a segunda turma do STF também entendeu que a a manutenção da prisão decretada por Moro para Rogério Araújo não se justificaria, uma vez que era sustentada apenas na presunção de que ele poderia fugir. "O que há é apenas presunção, que não é admitido como fundamento para decretar a prisão", disse Teori.

    Segundo a acusação contra a Odebrecht, as obras que eram desejadas pela empreiteira e que teriam envolvimento com o esquema de corrupção estavam entre as 10 maiores do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), principal vitrine de infraestrutura dos governos Lula e Dilma Rousseff. A propina, segundo a sentença, percorreu uma rede de contas secretas em nomes de offshores em paraísos fiscais.

    De acordo com a acusação, subsidiárias da Odebrecht no exterior foram a origem de pagamentos de US$ 16,3 milhões aos ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Renato Duque e ao ex-gerente Pedro Barusco.

    Além disso, entre 2011 e 2012, a Odebrecht realizou oito depósitos que somaram US$ 4,2 milhões em uma conta em Hong Kong e o doleiro Alberto Youssef disponibilizou o valor em espécie, em reais, no Brasil, para entregar a Paulo Roberto Costa.

    A decisão do STF também deve ter efeito nas negociações de Odebrecht com a Procuradoria-Geral da República para fechar acordo de delação premiada.

    Em março, a empreiteira anunciou que seus executivos estavam dispostos a colaborar, revelando detalhes do esquema de corrupção, em troca de benefícios, como eventual redução de penas.
    Inicialmente, Marcelo Odebrecht resistia à ideia de fechar delação, mas acabou se dobrando diante do número de delatores, que já alcança 65 e conta com empreiteiros, com o avanço das investigações e ainda os dias na cadeia.

    Procuradores, no entanto, apontam que, como a empreiteira demorou em sinalizar com a delação, as negociações serão ainda mais exigentes.

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