• Poder

    Monday, 06-May-2024 19:42:33 -03

    o impeachment

    Amigo cotado para ser assessor define-se como 'psicoterapeuta' do vice

    BELA MEGALE
    THAIS ARBEX
    DE SÃO PAULO

    02/05/2016 02h00

    Marlene Bergamo/Folhapress
    O advogado José Yunes em seu escritório em São Paulo
    O advogado José Yunes em seu escritório em São Paulo

    Cotado para ocupar o cargo de assessor especial da Presidência em um eventual governo de Michel Temer, o advogado José Yunes tem na sala do seu escritório, em São Paulo, o símbolo da amizade de mais de 40 anos com o vice: uma foto sua e de Temer tirada em 2014 em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, durante uma missão internacional em que acompanhou o peemedebista.

    Questionado sobre o número de viagens internacionais em que integrou a comitiva de Temer, ele manteve a discrição: "Acho que foram só umas duas".

    Melhor amigo e homem de confiança do vice, o advogado tem seguido à risca o conselho de falar pouco e não se pronunciar como se o governo do PMDB já fosse realidade.

    O lugar do advogado no Palácio do Planalto, no entanto, é garantido se Temer assumir, segundo interlocutores peemedebistas e amigos do vice, pela liberdade que Yunes tem de criticá-lo e falar o que pensa.

    "O poder é perigoso, é importante se cercar de pessoas para não se perder da realidade", disse o consultor político Guadêncio Torquato, também amigo de Temer.

    "Sou uma espécie de psicoterapeuta político", resumiu Yunes, que foi testemunha e muitas vezes participante direto nas ações de Temer ao longo dos meses que antecederam a votação do impeachment na Câmara.

    Os dois costumam almoçar às segundas e às sextas. O escritório do advogado passou a funcionar como QG de reuniões para montagem do governo.

    A primeira sinalização pública dada por Temer sobre a possibilidade de desembarcar do governo petista aconteceu em setembro passado em evento organizado pela empresária Rosangela Lyra que teve a presença do vice intermediada pelo advogado. O peemedebista disse que seria difícil Dilma Rousseff chegar até o fim do mandato se continuasse tão impopular.

    Pessoas próximas a Temer relataram que Yunes foi, juntamente com o vice, um dos autores da carta com queixas enviada em dezembro pelo vice à titular. O advogado diz que seu papel no episódio foi só de "bom ouvinte".

    A presença do advogado nas articulações políticas do amigo sempre foi constante. Em 2014, durante a eleição estadual para o governo de São Paulo, ele realizou um jantar em sua casa com a presença de Temer e dos candidatos a governador Paulo Skaf (PMDB) e Alexandre Padilha (PT) em busca de um pacto de não agressão –que acabaria rompido depois.

    Yunes também foi o nome de confiança de Temer no conselho político da campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo, em 2012.

    Deputado estadual por duas vezes com Michel Temer, a primeira pelo MDB, nos anos 70, e a segunda pelo PMDB, na década de 80, partido ao qual é filiado até hoje, o advogado sempre teve influência direta na trajetória política do amigo.

    Em 1984, Yunes aproveitou sua proximidade com o então governador paulista André Franco Montoro, para ajudar a viabilizar Temer como secretário de Segurança Pública.

    Crítico a Paulo Maluf (PP-SP), Yunes atribuiu o lugar de deputado estadual mais votado em 1982 ao livro de sua autoria "Uma má lufada que abalou São Paulo".

    Maluf entrou na Justiça para impedir que o livro saísse e, na noite do lançamento, um delegado foi ao local ordenando que todos fossem colocados para fora.

    Com frequência, Yunes ainda é confundido com Jorge Yunes, aliado histórico de Maluf, devido ao sobrenome em comum. A confusão costuma desagradar o advogado.

    Após o término de seu segundo mandato como deputado, porém, Yunes decidiu não concorrer mais a cargos eletivos, mas deixa claro que nem por isso abandonou a política. "Até hoje procuro dar minha contribuição", diz.

    O advogado também teve papel em outro fato marcante da vida de Temer, a publicação de seu livro de poesias "Anônima Intimidade".

    O advogado foi uma das primeiras pessoas para quem Temer mostrou os poemas que tinha escrito em suas viagens de avião. "Li em um fim de semana e falei que era maravilhoso, que ele tinha que fazer um livro", contou Yunes. Mesmo assim, o vice-presidente se mostrou resistente, mas foi convencido quando Yunes argumentou: "Você tem que mostrar seu lado humano, sua alma".

    Edição impressa
    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024