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    Lava Jato

    análise

    PGR esteriliza discurso de vítima de Lula

    IGOR GIELOW
    DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

    03/05/2016 19h58

    No momento de maior baixa política do PT no poder, às vésperas do previsível afastamento da presidente Dilma Rousseff, a Operação Lava Jato atingiu em cheio o último esteio político do partido há 13 anos ocupando o Palácio do Planalto: Luiz Inácio Lula da Silva.

    Com dois golpes, a acusação direta de ser o sustentáculo do petrolão e a denúncia por crime ao Supremo Tribunal Federal, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, abre espaço para o golpe de misericórdia contra o ex-presidente.

    Lula já vem sendo investigado pela Lava Jato, mas o jogo agora é outro. Será muito difícil aqui os petistas acusarem algum tipo de ofensiva partidária ou personalista comandada pela figura do juiz Sergio Moro ou pela força-tarefa da apelidada República de Curitiba.

    O golpe duplo ocorre quando Lula dava sinais de que seu gás para a defesa de Dilma havia acabado. A rouquidão que o afastou da defesa da pupila no palanque do 1º de maio soou, para muitos aliados em Brasília, como uma senha de que o petista iria cuidar de seu futuro.

    Presidenciável que restou ao PT, agora ele corre o risco de virar réu no Supremo, algo inédito para uma figura de sua estatura política. E potencialmente fatal para suas pretensões.

    Se Dilma tentou fazer de Lula ministro da Casa Civil para que não caísse na malha de Moro, agora Janot elimina qualquer vantagem hipotética do foro privilegiado –e só fala aqui de um dos inúmeros inquéritos do petrolão, o que apura a tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

    Desde que foi levado para depor pela Polícia Federal sob as ordens de Moro, em março, Lula tem arregimentado apoios com o discurso da perseguição. Na segunda (2), a PGR colocou no rol dos pedidos de investigação da Lava Jato o presidente tucano, Aécio Neves, e boa parte da cúpula do PMDB que chegará ao poder com o afastamento de Dilma.

    Agora vêm as acusações formais da Procuradoria, que obviamente terão de ser avaliadas pelo Supremo se procedentes –e, caso sejam, ainda dará curso a longo processo legal, com amplo direito ao contraditório. Isso na Justiça. Politicamente, o discurso de vitimização de Lula vai sendo esterilizado.

    Se o petista foi flagrado em telefonema de março chamando Janot de "ingrato" por investigar o governo que o indicou ao cargo, imagina-se o que está a dizer agora.

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