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    Ex-secretária forçou empresário a aceitar delação na Lava Jato

    WÁLTER NUNES
    DE SÃO PAULO

    08/05/2016 02h00

    Rodolfo Burher - 20.jun.2015/Reuters
    Marcelo Odebrecht (bottom, R), the head of Latin America's largest engineering and construction company Odebrecht SA, and Otavio Marques Azevedo (2nd L), CEO of Brazil's second largest builder Andrade Gutierrez, are escorted by federal police officers as they leave the Institute of Forensic Science in Curitiba, Brazil, June 20, 2015. Brazilian police on Friday arrested Odebrecht and accused his family-run conglomerate of spearheading a $2.1 billion bribery scheme at state-run oil firm Petrobras. Police also apprehended Azevedo as the probe into corruption at Petrobras spread to the highest level of Brazilian business. REUTERS/Rodolfo Burher ORG XMIT: BRA104
    Marcelo Odebrecht (à frente), um dia após sua prisão

    Ao fim de cada um dos últimos 324 dias Marcelo Odebrecht pega caneta e papel e descreve detalhadamente sua rotina na prisão. Anota atividades, manda recados para a família, faz apontamentos sobre processos, discorre sobre assuntos da empresa que leva seu sobrenome.

    Nos fins de semana, quando são permitidas visitas, entrega o inventário à mulher. O diário já tem mais de 2.000 páginas e, segundo pessoas próximas, não está sendo feito para virar livro.

    Além da mulher, a mãe o tem visitado com frequência. Emílio Odebrecht, o pai, só o viu na cadeia uma vez. Voltou a chefiar os negócios da família após a prisão do filho.

    Desde fevereiro, a vida do empreiteiro piorou. Ele foi transferido do Complexo Médico Penal para a carceragem da Superintendência da Polícia Federal para ser ouvido sobre a 23ª fase da Lava Jato, a Operação Acarajé.

    No CMP ele, hiperativo e compulsivo, gastava as energias em sessões diárias de exercícios físicos que duravam cinco horas. Na PF, passa 23 horas na cela e sai por só uma hora para o banho de sol. Dividiu o xadrez com quatro traficantes antes de se mudar para a cela do doleiro Alberto Youssef.

    Decidiu colaborar.

    Marcelo sucumbiu à delação premiada ao saber que Maria Lúcia Tavares, ex-secretária da empreiteira, havia decidido contar tudo que sabe. Ela era responsável pelas planilhas do Departamento de Operações Estruturadas, apontado pelos investigadores como o setor de pagamento de propina da Odebrecht.

    Ele ficou surpreso com a decisão da ex-subordinada. Estava apreensivo, sobretudo em razão de menções sobre transações no exterior.

    Maria Lúcia foi presa no dia 22 de fevereiro e colocada na cela de Nelma Kodama, ex-amante e auxiliar de Youssef. Ao prestar depoimento à delegada Renata Rodrigues ela pediu para ser ouvida sem a presença de Roberto Garcia, advogado da empreiteira.

    A delegada não permitiu. Deixou cliente e advogado a sós para resolverem o impasse. Maria Lúcia disse que havia decidido fechar delação e seguiria sem o apoio jurídico da Odebrecht.

    Garcia saiu da sala e topou com Juan Viera, advogado de Nelma –e que agora defende Maria Lúcia.

    Advogados de réus da Lava Jato consideram que Youssef e Nelma ajudam os investigadores a convencer os presos a fazer delação.

    A Odebrecht negocia fazer delação em grupo. Marcelo, Márcio Farias, Alexandrino Alencar e Rogério Araújo são os que mais têm a falar, mas o total de depoentes pode passar de 15.

    São negociados 20 temas. Sobre o ex-presidente Lula os delatores já aceitaram dar detalhes das reformas do sítio em Atibaia (SP) pagos pela empreiteira, mas não muito mais que isso. Dizem não haver irregularidades nas viagens e palestras do petista.

    Nas últimas 47 semanas e 5 dias Marcelo Odebrecht registrou minuciosamente tudo o que se passou na sua vida no cárcere. Caso ele tenha sido detalhista também no registro das relações com investigados pela Lava Jato, sua delação tem potencial para causar estragos.

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