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    Vice investiu na Segurança em SP e defendeu temas conservadores

    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    09/05/2016 02h00

    Folhapress
    ORG XMIT: 410601_0.tif LOCAL DESCONHECIDO, 24-09-1984: O secretário de Segurança Pública Michel Temer fala durante a cerimônia de entrega das novas viaturas para a polícia. Na foto, da esq. para a dir., Mario Covas, Fernando Henrique Cardoso, o então governador Franco Montoro e o comandante da PM, Nilton Viana. (Foto: Folhapress, 0099)
    Em 1984, o secretário de Segurança Pública Michel Temer com Mario Covas (esq. para dir.), Fernando Henrique Cardoso, o então governador Franco Montoro e o comandante da PM, Nilton Viana

    O advogado Miguel Reale Jr. estava convicto da necessidade de mudança. O melhor substituto, quem deveria assumir o comando de tudo, era o colega Michel Temer.

    Até Fernando Henrique Cardoso participou da reunião que sacramentou a troca. Consultado, Temer aceitou. "Sinto-me profundamente atraído para o desafio".

    O cenário atual ecoa o de 32 anos atrás –inclusive com personagens coincidentes—, quando Temer assumiu, em 27 de janeiro de 1984, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo.

    Substituía Reale Jr., coautor do pedido de impeachment que deverá levar seu amigo ao Palácio do Planalto nesta semana.

    Foi a primeira das três vezes em que Temer assumiria a secretaria até 1993, totalizando cerca de três anos de gestões marcadas por posicionamentos contraditórios.

    Em seu currículo de secretário há, por exemplo, a criação da Delegacia da Mulher, da Delegacia do Combate ao Preconceito Racial e até um sonho de ver policiais trabalhando desarmados.

    Ao mesmo tempo, defendeu uma agenda vista como conservadora, com a defesa da reduzir a maioridade penal, ampliar a "Rota na rua" e críticas a manifestações de trabalhadores rurais.

    Temer foi escolhido mesmo não tendo experiência na área criminal e em meio a uma crise no governo.

    Foi o terceiro nome designado para a Segurança em apenas dez meses pelo governador do Estado, Franco Montoro (PMDB).

    Talvez essa falta de experiência tenha contribuído para uma polêmica afirmação: apontou a pornografia como um dos fomentadores da violência no Estado.

    "A divulgação do chamado sexo explícito, tanto no cinema quanto em meios escritos, atua como elemento de incentivo ao crime, já que essas mensagens atingem, sobretudo, as pessoas carentes, econômica e emocionalmente", disse na época.

    HELICÓPTEROS

    Naqueles anos 1980, a principal preocupação dos paulistanos passou a ser o aumento da criminalidade –desbancando o custo de vida, o desemprego e a poluição de anos anteriores.

    A dificuldade de diálogo com delegados também fez parte da avaliação negativa dos peemedebistas.

    Em 1985, o então chefe da Segurança Pública foi alvo de pedidos de "Fora, Temer" nas assembleias de delegados da Polícia Civil, nos movimentos grevistas. A associação dos delegados chegou a protocolar um pedido formal de demissão do secretário.

    Montoro não aceitou. Fez defesa pública ao classificá-lo como "o melhor secretário da Segurança Pública de toda a história de São Paulo."

    Talvez seja um exagero, mas graças a esse apoio Temer conseguiu implantar mudanças como a melhora na estrutura das polícias, inclusive com a introdução de helicópteros.

    Ganhou tanta projeção que foi eleito suplente como deputado Constituinte em 1986.

    Suas duas últimas passagens foram na gestão do governador Luiz Antônio Fleury Filho (1991-1995). A primeira logo depois do "Massacre do Carandiru" –quando 111 presos foram mortos pela PM na Casa de Detenção.

    Foi nessa época que defendeu a volta da "Rota nas ruas". "Efetivamente, a população quer ver a Rota na rua. O trabalho de readequação foi feito de forma excelente pelo coronel Ivan [Marques de Almeida], mas agora é hora de voltar à rua", afirmou.

    Meses depois publicaria artigo defendendo a redução da responsabilidade penal para 16 anos –em prisões especiais– sob o argumento de que os "tempos são outros". "A pauta de valores que levou o legislador a fixar esse preceito está superada", disse.

    O atual vice-presidente da República defendeu ainda, por algumas vezes, a unificação das polícias.

    Apesar do histórico de atritos, teve aliados fiéis nas polícias. Era amigo na PM do coronel Julio Bono Neto (morto em 2010) e, na Civil, do delegado Ruy Estanislau Silveira Mello –que em 2011 passou a cuidar da segurança da Vice-Presidência.

    Temer deixou a Segurança de São Paulo pela última vez em novembro de 1993, mais uma vez sem grandes sucessos no combate ao crime.

    A década de 1990 é considerada uma das mais violentas da história do Estado, com explosão dos homicídios dolosos que superaram a casa dos 50 assassinatos por 100 mil habitantes. Atualmente, o índice é de menos de 10 casos por 100 mil.

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