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    o impeachment

    Movimentos pró e anti Dilma fazem atos simultâneos em várias cidades

    BRUNO FÁVERO
    THIAGO AMÂNCIO
    WÁLTER NUNES
    THAÍS BILENKY
    DE SÃO PAULO
    DIMMI AMORA
    DE BRASÍLIA
    LUCAS VETORAZZO
    DO RIO

    09/05/2016 16h25 - Atualizado às 19h45

    Movimentos a favor e contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff realizaram atos simultâneos para esta segunda-feira (9) na av. Paulista, na região central de São Paulo, em reação à decisão do presidente interino da Câmara Waldir Maranhão de suspender a tramitação do impeachment contra Dilma Rousseff.

    O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), chamou anulação de 'brincadeira com a democracia' e decidiu manter o rito.

    Militantes do PT, PCdoB, CUT (Central Única dos Trabalhadores) e UNE (União Nacional dos Estudantes) se encontraram às 17h no vão livre do Masp para comemorar decisão do presidente interino da Câmara. Também foram convocados atos em Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Fortaleza, entre outras cidades.

    Para o secretário da JPT (Juventude do PT) em São Paulo, Vitor Marques, "o ato do deputado Maranhão representa um fôlego de esperança para quem defende o Estado Democrático de Direito".

    "Fica clara a fragilidade na votação daquele famigerado dia 17. Concordamos e apoiamos a posição do presidente da Câmara em exercício, achamos que o impeachment é um processo atropelado que tem que ser discutido, acreditamos que não há motivos para o afastamento da presidente", concorda Vagner Freitas, presidente da CUT.

    A presidente da UNE, Carina Vitral, afirma que, "com a saída de Eduardo Cunha, a Câmara volta a analisar os processos de forma regimental. A decisão de anulação do impeachment é sustentada em problemas jurídicos que a UNE vem alertando há tempos", afirmou.

    No começo da tarde, manifestantes pró-governo ocuparam parte do segundo andar do Palácio do Planalto, e colaram cartazes com dizeres de "Não ao golpe" e "Resistência e luta".

    Na Avenida Paulista, logo no início das manifestações, a polícia tentou convencer manifestantes pró-governo a deixarem o local. "O movimento Revoltados Online já havia solicitado o local para fazer a manifestação deles. Não podemos ter movimentos antagônicos no mesmo lugar", disse André Luiz, tenente-coronel da Polícia Militar.

    O diretor jurídico da UNE, Rarikan Heven, respondeu que os manifestantes não iriam sair. "Não vamos retirar nosso evento por causa de um evento do Revoltados Online. Nosso evento tem 10 mil confirmados no Facebook, o deles só 600. Que se divida a Paulista como fizeram no dia da votação do impeachment."

    Por fim ambas as manifestações foram permitidas, com a orientação de que deveriam seguir em sentidos contrários. A polícia orientou os manifestantes pró-governo a desembarcarem na estação Consolação do Metrô e a seguirem do MASP para a praça dos ciclistas, enquanto os pró-impeachment deveriam desembarcar na estação Trainon-MASP e seguir da Fiesp em direção à Faria Lima.

    Luiz Dantas, 22, veio fantasiado de presidente Dilma para a Paulista. "É uma forma de protestar contra o golpe que foi articulado pelos setores conservadores da sociedade." Integrante da juventude do PT, ele é ator e abertamente homossexual. "Vim assim pra me rebelar contra o machismo e a homofobia que esse golpe representa."

    CONTRA

    A poucos metros dali, em frente à sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), movimentos pró-impeachment, como MBL (Movimento Brasil Livre) e NasRuas, marcaram protesto contra a decisão e pedirão retaliações a Maranhão.

    "A decisão de Waldir Maranhão é inconstitucional, viola o regimento interno da Câmara, passa por cima do rito proposto pelo STF [Supremo Tribunal Federal], das comissões da Câmara e do Senado", afirmou um dos líderes do MBL Kim Kataguiri, que também é colunista da Folha.

    Em seu discurso, ele usou expressões como "bandido, vagabundo e criminoso" para criticar o presidente interino da Câmara pela tentativa de barrar o impeachment. "[Waldir Maranhão] não está acima da vontade do povo, da Constituição", disse.

    Ao defender a saída de Dilma, Kataguiri afirmou que manterá a vigilância em eventual governo Michel Temer.

    "Caso a presidente seja de fato afastada nesta semana, o vice tem que saber que a gente não apenas derrubou Dilma, mas um método de governo. Se ele transgredir a Constituição, se violar a lei, nada nos impede de ir pra rua contra ele também", disse o colunista da Folha.

    Líderes de alguns movimentos cantaram o hino nacional em um palanque montado na entrada da Fiesp.

    "Se a decisão não tivesse sido revertida, aqui já estaria lotado", afirmou a aposentada Carmen Lutti, 65. "A gente está acostumada com isso. O pessoal é muito acomodado, só sai das redes sociais quando acontece alguma coisa muito forte.

    Embora a PM tenha autorizado o fechamento de apenas duas pistas, em alguns momentos os manifestantes tomaram toda a Av. Paulista no sentido Paraíso.

    No cruzamento com a alameda Casa Branca os dois grupos se provocaram, separados por um cordão policial.

    BRASÍLIA

    Cerca de 30 manifestantes anti-governo iniciaram um protesto em frente ao Congresso Nacional no fim da tarde para apoiar o Senado a seguir com o rito do impeachment. Os manifestantes ocuparam a rua em frente ao parlamento e seguiram para a entrada dos fundos da Casa. Por volta das 19h, havia cerca de 300 pessoas no local.

    O Governo do Distrito Federal voltou a erguer um muro para separar a Esplanada dos Ministérios. Mas, por enquanto, a PM ainda está permitindo a ocupação da área na frente do Congresso, onde durante a votação do impeachment em abril não foram permitidas manifestações.

    Logo acima, manifestantes pró-governo ocuparam a rua principal, liderados pelo deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS). Segundo o parlamentar, a estratégia é de "guerrilha". Pimenta lembrou aos manifestantes que a segurança do local era tarefa deles e que não poderiam cair na provocação dos manifestantes contrários.

    Entre os manifestantes anti-governo está o empresário do setor de publicidade André Rhouglas, 55 anos, que resolveu se amarrar a uma cruz improvisada. Ele afirma que seu coração "se assustou" ao saber da anulação da sessão do impeachment.

    "Será que um cara poderia anular tudo isso que o Brasil fez?", afirmou Rhouglas que diz ter ficado cinco dias em greve de fome no processo de votação da Câmara.

    Por conta de provocações entre os grupos de manifestantes, a segurança do Senado fez um cordão de isolamento entre eles, que já estavam separados por uma grade.

    RIO DE JANEIRO

    No Rio de Janeiro os manifestantes contra o impeachment se reúnem na praça da Cinelândia, no centro, em protesto relâmpago convocado pela Frente Brasil Popular no Rio.

    Os organizadores estimam o público entre 300 e 500 pessoas. A PM do Rio não faz estimativa. Os manifestantes ocupam as escadarias da Câmara dos Vereadores, local tradicional de protestos na cidade. O protesto é pequeno em relação aos ocorridos na cidade com o mesmo tema.

    Um pequeno carro de som está no local e o microfone está aberto para quem quiser falar. Militantes da CUT distribuem bonés da central sindical.

    "A decisão dele [Waldir Maranhão] é soberana, quem autoriza o processo é a Câmara e não cabe ao Senado passar por cima disso", disse o dirigente da Frente Brasil Popular, Caique Tibiriça.

    Uma manifestação pró-governo já estava marcada para amanhã, terça-feira (10), na cidade. Intitulada "Luzes contra o golpe", a Frente Brasil Popular promete reunir diversos movimentos em uma caminhada pelo centro do Rio, a começar às 17h em frente ao prédio da Assembleia Legislativa. A ideia é que haja diversos movimentos amanhã ao longo do dia, que se concentrarão no final da tarde em frente à Alerj.

    Na terça, dois ônibus do Sindipetro (Sindicato dos Petroleiros) sairão do centro do Rio rumo à Brasília. A viagem já estava programada antes dos eventos desta segunda. A ideia é engrossar os protestos marcados para a capital federal durante a votação do Senado do pedido de aceitação do processo de impeachment.

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