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    Após reviravolta, Senado votará cassação de Delcídio nesta terça

    MARIANA HAUBERT
    DÉBORA ÁLVARES
    LEANDRO COLON
    DE BRASÍLIA

    09/05/2016 20h42

    Adriano Machado/Reuters 9.mai.2016
    Brazil's Senator Delcidio Amaral reacts during a meeting of the ethics committee of the federal senate in Brasilia, Brazil, May 9, 2016. REUTERS/Adriano Machado ORG XMIT: BSB41
    Senador Delcídio do Amaral em reunião do Conselho de Ética do Senado

    Indignado com o novo adiamento do processo de cassação do mandato do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) na Comissão de Constituição e Justiça, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), conseguiu acelerar a conclusão do caso após ameaçar não colocar em votação o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na próxima quarta (11), como estava previsto.

    Com a pressão do peemedebista, a votação sobre a cassação de Delcídio foi marcada para esta terça (10) às 17h no plenário do Senado.

    Diante a ameaça do presidente da Casa, senadores, principalmente da oposição e do PMDB, reagiram e decidiram apresentar um requerimento para que o caso fosse tratado com urgência, o que determinou o seu envio diretamente para o plenário.

    Um pedido, neste sentido, foi apresentado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), um dos principais aliados do vice-presidente Michel Temer, e foi aprovado em votação simbólica.

    Os integrantes da CCJ se reuniram extraordinariamente no próprio plenário do Senado e aprovaram o parecer do Conselho de Ética, que já havia decidido, na semana passada, favoravelmente à cassação de Delcídio por quebra de decoro parlamentar.

    O relator na CCJ, senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) leu o relatório e os parlamentares fizeram uma votação simbólica. Assim, o caso ficou liberado para análise do plenário.

    Em reunião à tarde, a comissão havia decidido adiar a votação do parecer após ter acatado um pedido da defesa de Delcídio para que o colegiado pedisse à Procuradoria-Geral da República o compartilhamento de informações referentes a um aditamento da denúncia contra o senador feita na semana passada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

    O requerimento de informação sobre o aditamento foi apresentado pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e foi aprovado pela comissão com o voto contrário apenas do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Horas depois, no entanto, os senadores foram informados de que tais informações estão sob sigilo e que a PGR não poderia compartilhá-las

    Assim que foi informado da decisão da comissão, Renan reagiu em plenário. "Acho que algumas pessoas querem que o senador Delcídio participe da sessão do impeachment, mas eu manterei a minha isenção", afirmou Renan no plenário.

    "Não é competência da CCJ produzir provas. É sim dizer se foi ilegal o trâmite do processo. Compreendo as razões da CCJ, mas qualquer medida para produzir provas entendo como procrastinação. Isso é papel do Conselho de Ética. Terei dificuldades de convocar a sessão de afastamento da presidente antes da decisão da cassação do senador Delcídio do Amaral. Não vamos repetir a Câmara dos Deputados", completou.

    O peemedebista também argumentou que, por ser uma matéria cuja tramitação teve início antes do impeachment de Dilma chegar ao Senado, deveria ser analisada primeiramente.

    Se o adiamento da CCJ fosse mantido, Delcídio poderia votar no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, previsto para ocorrer na quarta (11). Senadores governistas acusaram Delcídio de ter feito um acordo com senadores do PSDB para que os tucanos segurassem o seu processo no Senado e, em troca, o senador não minimizaria as acusações contra o presidente da sigla, Aécio Neves (MG) em delações sobre a operação Lava Jato.

    Como revelou a Folha na semana passada, a presidente Dilma tem pressionado Renan a pautar a votação da cassação de Delcídio no plenário da Casa antes da apreciação da admissibilidade do impeachment da petista porque ela não quer ter entre seus algozes alguém que foi líder do seu governo no ano passado. Delcídio já declarou publicamente sua intenção de votar pelo impeachment.

    O senador ocupou o posto até ser preso em 25 de novembro. Após o episódio, ele relatou a interlocutores ter se sentido abandonado pelo pelo PT e pelo governo, que condenaram suas atitudes. Por isso, Renan já havia previsto a votação de seu processo na terça (10).

    Uma conversa sua com Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró foi gravada e entregue à Justiça. Nela, Delcídio oferecia ajuda à família e traçava um plano de fuga para o pai de Bernardo como forma de convencê-lo a não contar o que sabia sobre os esquemas de corrupção da Petrobras.

    Após a prisão, Delcídio admitiu envolvimento no petrolão e fechou acordo de delação premiada, implicando 74 pessoas no esquema.

    Solto em 19 de fevereiro, ele pediu seguidas licenças médicas. Na semana passada, ele fez um novo pedido de licença, desta vez por cem dias, para tratar de "assuntos pessoais".

    DESCULPAS

    Antes da reviravolta, Delcídio falou por cerca de 15 minutos aos colegas na CCJ. Esta foi a primeira vez que ele voltou ao Senado desde que foi preso em 25 de novembro sob a acusação de atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato, quando tentou tramar uma fuga para o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

    Em sua defesa, o senador pediu desculpas pelos "constrangimentos" que causou, segundo ele, não só ao Senado mas a todos os brasileiros, especialmente aos cidadãos do Mato Grosso do Sul. Ele também agradeceu ao apoio de sua família e de sua equipe de gabinete. "O que passei, eu não desejaria a nenhum dos meus inimigos", disse com a voz embargada.

    Delcídio sustentou que não cometeu crimes que possam levar à sua cassação e afirmou que agiu a mando do governo da presidente Dilma Rousseff. "Eu não roubei, não desviei dinheiro, não tenho conta no exterior. Estou sendo acusado de obstrução de Justiça. E isso quando eu, como líder do governo, inadvertidamente errei mas agi a mando. Eu errei mas vou perder o mandato?", afirmou aos colegas.

    Questionado sobre quem teria dado ordens a ele, Delcídio afirmou que agiu a pedidos do ex-presidente Lula e da presidente Dilma. "Eu como líder do governo, eu agi. O presidente Lula me pediu isso e em outras situações também a própria presidente Dilma. Aí, curioso, eu fui chamado de mentiro. Um líder de governo ser chamado de mentiroso? Eu fui o líder dela aqui no Senado", disse.

    Ao deixar a comissão, Delcídio conversou amistosamente com jornalistas e disse que retomaria sua rotina na Casa a partir desta semana. Ele confirmou a intenção de votar no processo de impeachment da presidente Dilma.

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