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    o impeachment

    Ministro do STF nega recurso do governo contra impeachment de Dilma

    MÁRCIO FALCÃO
    MARINA DIAS
    DÉBORA ÁLVARES
    LEANDRO COLON
    MARIANA HAUBERT
    DE BRASÍLIA

    11/05/2016 12h55

    Geraldo Magela/Agência Senado
    Plenário do Senado antes da sessão que analisa abertura de impeachment contra Dilma Rousseff
    Plenário do Senado antes da sessão que analisa abertura de impeachment contra Dilma Rousseff

    Impondo uma nova derrota ao governo, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki negou nesta quarta-feira (11) a ação apresentada pela AGU (Advocacia-Geral da União) que tentava anular o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso.

    Com isso, fica mantida a sessão do Senado que discute a admissibilidade da denúncia por crime de responsabilidade da presidente. Se for aprovada, Dilma será afastada por até 180 dias e o vice-presidente Michel Temer assumirá o comando do país.

    O ministro não admitiu os argumentos da AGU alegando "desvio de poder" de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que conduziu o processo como presidente da Câmara dos Deputados, que teria deixado o processo "viciado" desde a aceitação do pedido de impeachment em dezembro do ano passado.

    Na ação, o governo alegava que o recebimento do processo por Cunha foi ilegal porque o peemedebista agiu por interesse pessoal, em retaliação ao Planalto e ao PT que não aceitaram endossar o que chamaram "leilão do impeachment". O objetivo de Cunha, sustentou o governo, era ser blindado para não ser cassado no Conselho de Ética.

    Teori avalia que é subjetiva a argumentação de que os atos de Cunha teriam influenciado todo o processo –o que seria difícil provar com esse tipo de ação, uma vez que não há produção de provas.

    O ministro cita que o processo avançou em outras etapas contando com aval de deputados da comissão especial que discutiu o processo e do plenário, que autorizou o impeachment por 367 votos.

    "É preciso considerar que os atos do presidente da Câmara, inclusive o de recebimento da denúncia contra a presidente da República, foram subsequentemente referendados em diversas instâncias da Câmara, com votações de acolhimento numericamente expressivas, o que qualifica –e muito– a presunção de legitimidade do ato final de autorização de instauração do processo de impeachment, que não é de competência solitária do presidente daquela Casa Legislativa, mas do seu plenário", escreveu o ministro.

    Segundo Teori, é difícil invocar desvio de poder quando o ato questionado representa a vontade conjugada de quase 370 parlamentares.

    "Não há como atestar plausibilidade suficiente nas alegações de que o impulso conferido ao processo de impeachment pelo presidente da Câmara dos Deputados tenha o condão de contaminar todos os demais crivos realizados no curso do processo pelos colegiados daquela instância", escreveu.

    "Concluir nesse sentido, além de menosprezar o princípio da presunção de legitimidade das deliberações tomadas em colegiado, minimiza brutalmente a presunção, que se deve considerar presente, da aptidão para se posicionar de modo independente que assiste a cada um dos parlamentares", completou.

    SEM MÉRITO

    Em seu despacho, Teori fez considerações que se somam a outros quatro ministros do STF no sentindo de que o tribunal não pode discutir o mérito do processo de impeachment.

    "Não há base constitucional para qualquer intervenção do Poder Judiciário que, direta ou indiretamente, importe juízo de mérito sobre a ocorrência ou não dos fatos ou sobre a procedência ou não da acusação", disse o ministro.

    Segundo Teori, "o juiz constitucional dessa matéria é o Senado, que, previamente autorizado pela Câmara, assume o papel de tribunal de instância definitiva, cuja decisão de mérito é insuscetível de reexame, mesmo pelo Supremo Tribunal Federal".

    "Admitir-se a possibilidade de controle judicial do mérito da deliberação do Legislativo pelo Judiciário significaria transformar em letra morta o art. 86 da Constituição Federal, que atribui, não ao Supremo, mas ao Senado Federal, autorizado pela Câmara dos Deputados, a competência para julgar o Presidente da República nos crimes de responsabilidade".

    O presidente do STF, Ricardo Lewandowski, tem indicado que o STF pode discutir se caberia analisar o mérito do impeachment, ou seja, se Dilma cometeu crime de responsabilidade.

    O governo promete recorrer ao STF até o fim do processo, esgotando todas as possibilidades de recurso.

    Não foi a primeira vez que a parcialidade de Cunha foi questionada no STF. Em dezembro do ano passado, o PCdoB entrou com uma ação pedindo a anulação do ato de Cunha, que havia aceitado o pedido de abertura do processo de impeachment contra Dilma, mas o STF julgou a questão "improcedente".

    Para os ministros da corte, a imparcialidade é exigida dos "magistrados", mas os parlamentares podem agir "com base em suas convicções político-partidárias".

    REAÇÃO

    Após saber da decisão, Dilma Rousseff chamou o ministro Cardozo ao Palácio da Alvorada para discutir tanto o discurso de defesa que o petista fará na sessão do Senado quanto as consequências da decisão de Teori.

    Dilma passou a manhã inteira desta quarta no Alvorada, onde se reuniu com alguns assessores, em reuniões separadas, enquanto o ministro Jaques Wagner (Gabinete Pessoal da Presidência) comandava no Palácio do Planalto uma reunião com 30 ministros do governo Dilma. Cardozo, por estar com a presidente, não participou do encontro, nem o titular do Ministério das Cidades.

    Segundo a Folha apurou, os ministros fizeram um balanço geral do governo Dilma e trataram das exonerações, que devem ser publicadas em edição do Diário Oficial da União desta quinta-feira (12).

    Ficou decidido que as exonerações dos ministros serão feitas em conjunto com os secretários-adjuntos e secretários especiais das pastas. Segundo relato de participantes, a reunião foi "bastante burocrática", apenas para definir a rotina prática das últimas horas de governo.

    SENADO

    Uma das principais vozes em defesa de Dilma Rousseff, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) lamentou no início da tarde desta quarta-feira (11) a decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki que negou o recurso para suspender a sessão que analisa a abertura do processo de impeachment da presidente da República.

    "Já sabíamos que a essa altura dos acontecimentos seria difícil conseguir uma vitória. Mas a AGU (Advocacia-Geral da União) fez certo. Tinha que recorrer. Hoje é difícil ser um placar favorável, mas vamos entrar com várias ações no STF depois".

    O senador participa nesta quarta (11) da sessão de votação da abertura do processo de impeachment de Dilma. Com a maioria simples dos presentes no plenário no momento da apreciação, a presidente é afastada de seu cargo por até 180 dias. Quem assume é o vice-presidente Michel Temer (PMDB).

    O senador petista avalia que o governo de Temer será marcado pela "ilegitimidade". "As pessoas não o elegeram. Ele vai precisar tomar medidas impopulares. Tenho muita esperança de que em quatro, cinco meses, possamos reverter a situação aqui".

    Segundo o congressista, apesar de haver maioria formada no plenário atualmente pela abertura do julgamento, o cenário não é o mesmo no julgamento final.

    "Tem muita gente dizendo que vota pela admissibilidade, mas que ainda vai formar juízo pelo julgamento. Acho que o governo Temer vai ser de crise, desconfiança da população. Se ele não tiver popularidade, que hoje já é muito baixa, terá dificuldade de se manter no cargo".

    • Confira a íntegra da decisão do STF:

    Íntegra da decisão do ministro Teori Zavascki

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