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    novo governo

    Articulador do impeachment, Padilha tem a missão de fazer o governo andar

    VALDO CRUZ
    DE BRASÍLIA

    18/05/2016 02h00

    Jorge Araujo - 25.nov.15/Folhapress
    Eliseu Padilha, novo ministro da Casa Civil e aliado de Temer
    Eliseu Padilha, novo ministro-chefe da Casa Civil e aliado de Temer

    Fiel escudeiro do presidente interino Michel Temer e um dos principais articuladores da chegada do vice ao Palácio do Planalto, Eliseu Padilha, 71, foi escalado ministro da Casa Civil com a missão de fazer o governo voltar a andar no prazo mais curto possível.

    A meta foi dada diante da avaliação do peemedebista de que precisa dar respostas rápidas à população e, em sua opinião, Padilha é o assessor mais disciplinado para ajudá-lo nesta tarefa.

    Para cumprir o objetivo traçado pelo presidente, o novo chefe da Casa Civil montou uma equipe formada por técnicos experientes do próprio governo. Alguns trabalharam diretamente com a hoje presidente afastada Dilma Rousseff.

    Padilha e Temer se tornaram amigos nos anos 90, quando o ministro assumiu o primeiro dos seus quatro mandatos de deputado federal. O hoje presidente era líder do PMDB na Câmara.

    Temer encarregou o novato de receber os colegas que chegavam até o gabinete da liderança para ouvir antes seus pedidos. Ali, Padilha começou a montar suas famosas planilhas, na qual listava o nome dos parlamentares, suas ligações políticas e pedidos.

    A organização do deputado impressionou Temer, que desde então nunca mais dispensou os trabalhos do peemedebista. Padilha entrou no partido em 1966 quando ainda era chamado de MDB. Nunca trocou de legenda.

    Ele virou ministro da Aviação Civil de Dilma Rousseff em dezembro de 2014 por indicação de Temer. No ano seguinte, passou a auxiliar o amigo na articulação política do governo Dilma.

    A presidente passava por uma crise com sua base e não conseguia aprovar as medidas do seu ajuste fiscal. Foi obrigada a pedir socorro a seu vice, que assumiu o papel de articulador político.

    Na época, Padilha voltou a fazer suas famosas planilhas, com mapas sobre o voto de deputados e senadores. Juntamente com Temer, conseguiu aprovar a primeira etapa do ajuste fiscal.

    Decidiu pedir demissão no início de dezembro de 2015 depois de reclamar que Temer e ele estavam sendo sabotados no trabalho de articuladores políticos pela própria presidente Dilma e seu então ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.

    O gesto de Padilha foi visto como a primeira sinalização de que Temer estaria preparando o desembarque do governo Dilma. Alguns dias depois, o vice enviou carta à presidente Dilma, acusando-a de não confiar nele e de sabotar o PMDB. No desabafo, disse que a petista havia lhe transformado num "vice decorativo".

    Dilma ainda tentou uma reaproximação, mas começou a reclamar nos bastidores que Temer estava conspirando contra ela. Dentro do Planalto, auxiliares da petista acusavam Padilha de ser um dos "articuladores da conspiração".

    Neste ano, o peemedebista esteve ao lado de Temer em toda operação que levou ao desembarque do PMDB do governo Dilma. E, depois, nas articulações para conquistar votos na Câmara para aprovar o pedido de impeachment contra a presidente petista.

    Voltou a montar suas planilhas de votos, mapeando quem estava contra e favor do impeachment. Um dia antes, seus mapas indicavam que o pedido seria aprovado na Câmara por 368 votos. Errou por um.

    Logo após a aprovação do pedido de impeachment na Câmara, Temer perguntou qual cargo ele gostaria de ocupar no governo. Respondeu que a decisão era do vice. Foi informado, dias depois, que iria para a Casa Civil.

    REI ASFALTO

    Gaúcho de Canela, Padilha foi prefeito de Tramandaí de 1989 a 1992. Advogado, foi sócio de Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo, em escritório em Brasília.

    Sua carreira no Executivo federal começa no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso. Assumiu, por indicação do PMDB da Câmara, o Ministério dos Transportes de 1997 a 2001.

    Na época, sofreu a acusação de ordenar pagamento superfaturado de R$ 2 milhões a uma empresa e de praticar irregularidades no pagamento de precatórios.

    Reclama que carrega até hoje estas acusações contra ele porque ainda existem ações tramitando na Justiça, apesar de o Tribunal de Contas da União não ter lhe responsabilizado num dos casos e, no outro, o STF ter mandado arquivar por falta de provas.

    Acusações que lhe renderam um apelido que ainda o incomoda, de Eliseu Quadrilha, cunhado por Antônio Carlos Magalhães. Decidiu, na época, processar o ex-senador, que morreu antes de o assunto ser julgado.

    Em 1997, um deslize o levou a pedir desculpas a Pelé, à época seu colega na pasta dos Esportes do governo FHC.

    Durante seminário, Padilha disse que "no Brasil existem dois pretos admirados". "Um é o Pelé, o nosso rei de sempre. O outro é o rei asfalto". Dias depois, Padilha ligou a Pelé e disse que a declaração não teve intenção pejorativa.

    Carlinhos Müller/Editoria de Arte/Folhapress
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