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    novo governo

    Há 15 anos com Temer, marqueteiro do PMDB desponta sob novo governo

    THAIS ARBEX
    THAIS BILENKY
    DE SÃO PAULO

    22/05/2016 02h00

    Um dia após a Câmara dos Deputados dar seguimento ao processo de impeachment de Dilma Rousseff, o marqueteiro Elsinho Mouco, 55, foi às redes sociais.

    Publicou uma foto da presidente afastada e de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, descendo aos subsolos do Palácio do Planalto.

    "Quem apostou na teimosia, na arrogância e na soberba começa a experimentar a derrota", decretou o publicitário, que trabalha para Michel Temer (PMDB), agora presidente interino, há quase 15 anos.

    Divulgação
    Elsinho Mouco com Temer
    O publicitário Elsinho Mouco orienta Michel Temer durante gravação de propaganda política do PMDB

    Para Mouco, era uma vitória. Havia meses que ele criticava a chefe de seu chefe.

    "Que feio, Elsinho", esbravejou uma amiga. "O Temer apostou no PT e agora vem como um abutre."

    Ele não perdeu o traquejo. "Quantos casamentos você conhece que terminaram em divórcio? Teimosia e arrogância nunca ajudaram o bom cônjuge", rebateu, despedindo-se com "risos" e "beijão".

    Um mês depois, na última terça-feira (17), Mouco desembarcava em Brasília com destino ao Palácio do Planalto. Levava consigo a prova do livro de 50 anos do PMDB, celebrados em março, para definir quais imagens da posse e da primeira reunião ministerial incluir.

    Com o título "PMDB, o Partido que Muda o Brasil", o livro traz registros fotográficos desde Ulysses Guimarães.

    SUSTO

    Na ocasião, Mouco ainda se recuperava do susto de ter deixado o bastidor para se tornar, ele próprio, notícia.

    Dias antes, o marqueteiro havia criado a polêmica marca do governo Temer –a bandeira do Brasil com o slogan "Ordem e Progresso".

    A peça frequentou o noticiário após revelações de que Mouco não tinha contrato com a administração federal e de que a bandeira usada no esboço vigorou durante parte da ditadura militar.

    Além disso, a empolgação do filho do presidente interino, Michelzinho, 7, incentivou a escolha.

    "Trabalhei e trabalharia de novo sem contrato formal", afirmou o marqueteiro à Folha. "O que pesou é o meu contrato moral com o presidente Michel Temer. O valor aqui é uma relação de muitos anos, o verdadeiro valor de uma amizade."

    De estilo conciliador e despojado, Mouco conquistou a confiança de Temer na estrada. Em 2002, sua agência, a Pública Comunicação, então com dois anos de vida, foi contratada para produzir programas eleitorais do PMDB.

    Com o orçamento curto, as gravações eram feitas em Sorocaba (SP). Enquanto Mouco dirigia pela rodovia Castello Branco, Temer repassava o texto com o auxiliar.

    Em comum, ambos tinham a infância no interior paulista (Temer nasceu em Tietê e Mouco cresceu em São José do Rio Preto) e laços com Orestes Quércia (1938-2010).

    Em 1994, o ex-governador de SP disputava a Presidência e seus assessores procuravam alguém capaz de colocar imagens em tecidos.

    Quércia se lembrou da alfaiataria que frequentara na década anterior, a Bonaparte. Um dos donos, Elsinho, havia desistido do negócio depois da morte prematura de seu sócio e irmão, Alfredo.

    Seria a iniciação de Mouco no mercado publicitário. Quércia ficou em quarto, mas dois anos depois o novato tentava de novo, na campanha (vitoriosa) de Celso Pitta à Prefeitura de São Paulo.

    Desde então, tentou eleger Paulo Maluf governador de SP, o general reformado Lino Oviedo presidente do Paraguai, Gabriel Chalita prefeito de SP e Edison Lobão Filho governador do Maranhão.

    O marqueteiro venceu uma campanha, a de Jackson Lago (PDT) para o governo do Maranhão, em 2006.

    Mouco também criou o texto com o qual o palhaço e deputado Tiririca (PR-SP) anunciou que não desistiria da política, em 2013. "Sem o Tiririca, Brasília mica", gabou-se.

    LEALDADE

    Colega de profissão, Paulo Vasconcelos diz quase não ter contato com Mouco, mas que preserva uma "boa impressão". "Ele é amigo dos amigos, leal aos clientes", disse.

    Desde que a relação seja recíproca. O ex-presidente Fernando Collor, por exemplo, perdeu a estima do marqueteiro e se tornou alvo de críticas públicas. Há quase cinco anos, Mouco diz cobrar R$ 3 milhões na Justiça pela campanha não paga ao governo de Alagoas.

    Com Temer, a lealdade tem sido preservada. Em 2005, pediu autorização ao cliente e foi fazer a campanha de 25 anos do PT. É dele o slogan "A estrela no peito e o Brasil no coração".

    Na campanha presidencial de 2010, procurou "proteger" Temer, então candidato a vice, "sem atrapalhar" Dilma.

    Agora, Mouco defende a legitimidade da posse interina do amigo, mesmo sem pretender, pelo que diz, ocupar função oficial no governo.

    "O meu papel continua o mesmo", garante, referindo-se à comunicação do PMDB.

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