O PDT protocolou nesta terça-feira (24) uma representação contra o senador Romero Jucá (RR), presidente do PMDB e ministro do Planejamento até esta segunda (23), no Conselho de Ética do Senado por quebra de decoro parlamentar. O partido quer a cassação do mandato do peemedebista.

O senador foi flagrado em uma gravação, publicada pela Folha nesta segunda (23), em que sugere um pacto para deter o avanço das investigações da Lava Jato. Ele conversava sobre o assunto com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Ambos são investigados pela operação.

O partido entende que Jucá tentou obstruir a Justiça ao afirmar que conversou com ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Na versão de Jucá contada a Machado, os ministros teriam relacionado a saída de Dilma ao fim das pressões da imprensa e de outros setores pela continuidade das investigações da Lava Jato.

Inicialmente, o senador Telmário Mota (PDT-RR) havia protocolado uma denúncia contra Jucá mas, como a pena prevista neste caso é mais branda e o processo pode ser mais longo, ele retificou o documento e o transformou em uma representação. Para que ela pudesse ser apresentada, o presidente do partido, Carlos Lupi, também a assinou. 

Telmário e Jucá são adversários locais em Roraima. Nesta segunda (23), ao rebater o anúncio de que o seu desafeto acionaria o conselho contra si, Jucá acusou a esposa de Telmário de estar foragida da Justiça. Nesta terça, o peemedebista chamou Telmário de "bandido". 

De fato, Suzete Macedo de Oliveira, ex-deputada estadual, está foragida da Justiça. Ela foi condenada a 6 anso e 8 meses de reclusão. 

Ela foi condenada junto com o ex-governador de Roraima Neudo Campos (PP) pelo envolvimento no esquema de desvio de verbas públicas conhecido como "escândalo dos gafanhotos" que consistia no cadastramento de funcionários "fantasmas" na folha de pagamento do Estado, para distribuição dos salários a deputados estaduais e outras autoridades em troca de apoio político. 

Neudo, que também estava foragido, se entregou nesta terça à Polícia Federal no Estado. Ele é marido da atual governadora do Estado, Suely Campos (PP). 

Agora, o presidente do Conselho de Ética, senador João Alberto Souza (PMDB-AM), precisa aceitar a representação e marcar uma reunião do colegiado para a escolha de um relator. 

O partido argumenta que o caso de Jucá é semelhante às acusações feitas ao ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), que levaram à cassação do seu mandato há duas semanas atrás.

Ele foi processado por ter atuado para atrapalhar as investigações da Lava Jato e para convencer o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró a não fazer uma delação premiada. Telmário foi o relator do caso no Conselho de Ética e teve seu parecer aprovado por unanimidade.

"Novamente estamos vivendo situação extremamente delicada no país e mais uma vez um senador da República está envolvido em tentar obstruir o trabalho da Justiça brasileira. Então, o procedimento do senador Jucá foi igual do Delcídio e isso nos impulsionará a entrar com o processo", afirmou Telmário nesta segunda quando anunciou que entraria com a representação.

No caso de Jucá, o PDT afirma que Jucá demonstrou "claro intento" em também atrapalhar as investigações. "Em todos os momentos da gravação, há um claro propósito de que o novo governo, com o vice-presidente Michel Temer, resolva os 'problemas' que a Operação Lava Jato acarretou à classe política tradicional no Brasil", diz o texto.

"Resta claro que o denunciado, por sua conduta indigna e incompatível com a estatura do cargo que exerce, praticou quebra de decoro parlamentar", completa.