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    Impeachment de Dilma ganhou ares de golpe, diz francês 'Libération'

    DA RFI

    25/05/2016 11h31

    Em um país em recessão, a revolta popular foi instrumentalizada por políticos corrompidos para depor a presidente Dilma Rousseff, escreve a correspondente do jornal francês "Libération" Chantal Reyes. "Sabemos agora que as motivações para destituí-la não tinham nada de nobre", diz, antes de resumir as conversas reveladas pela Folha nas quais Romero Jucá (PMDB-RR) defende uma "mudança de governo para parar tudo", ou seja, frear as investigações do gigantesco escândalo de desvio de recursos da Petrobras.

    A conversa entre Jucá e Sérgio Machado, ex-diretor da Petrobras, traz para dentro do escândalo o PSDB, partido de oposição, de centro-direita. Mas o que é pior, segundo o "Libération", é que o Supremo Tribunal Federal, de acordo com a conversa registrada, pensava que destituir a chefe de Estado reduziria a pressão popular sobre a Lava Jato.

    Para a publicação, "a legitimidade do governo interino está mais comprometida do que nunca" e a única "caução" deste governo é o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, respeitado pelos mercados.

    Mas o PT também não está a salvo, lembra o texto, ao relatar as pressões do partido para que Dilma freasse a investigação que ela faz questão de ressaltar jamais ter interferido.

    "Libération" elabora uma lista de perguntas que ainda precisam ser esclarecidas depois dessas "revelações explosivas": Há quanto tempo o procurador-geral da República tinha essas gravações nas mãos? Por que as conversas, gravadas em março, ou seja, antes do voto no Congresso que determinou a abertura do processo de impeachment, não foram divulgadas antes?

    O que esse "presente da Folha para a esquerda" deixa evidente é a deterioração de toda a classe política, diz o texto. Em tom crítico, "Libération" comenta a pouca disposição do PT, que durante 13 anos no poder não fez a reforma do sistema eleitoral que é um "convite à corrupção".

    "Dificilmente a presidente vai recuperar seu cargo, mas também é pouco provável que haverá eleições gerais antecipadas no país" finaliza o texto.

    TEMER

    As primeiras medidas econômicas anunciadas pelo presidente interino Michel Temer ganharam destaque no jornal francês "Les Echos". "Temer quer impor uma disciplina orçamentária no Brasil", diz a manchete da reportagem.

    Um dia após a saída de Romero Jucá do ministério do Planejamento, e apesar do clima de escândalo político que paira sobre Brasília, o governo lançou as bases de sua política econômica para restaurar a confiança e retomar o caminho do crescimento após dois anos de recessão, escreve o correspondente do jornal Thierry Ogier.

    A principal orientação é a disciplina orçamentária, com limitação do déficit público e menos poder para o BNDES, fonte nos últimos anos de créditos subsidiados, o que agravou o endividamento público.

    "Les Echos" informa que o presidente interino Michel Temer irá propor uma emenda constitucional para limitar o crescimento das despesas públicas ao da inflação. As reservas serão liquidadas para reduzir o déficit. Outro ponto sensível do plano, segundo o jornal, é a maior abertura do setor petrolífero aos investimentos privados, o que significa um freio à onipresença da Petrobras.

    O jornal francês repercute o pouco entusiasmo dos mercados com o anúncio das propostas econômicas, especialmente a reação da Bolsa de São Paulo. Os investidores ainda reagiram sob o impacto da demissão no dia anterior de Romero Jucá.

    O ex-ministro era uma peça central para cimentar uma base de apoio no Congresso, que ele conhece como a palma de sua mão. É a credibilidade e a adoção da política econômica em um contexto político delicado que estão em jogo, diz Les Echos.

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